Domingo de manhã com sol. O primeiro desta primavera, tão bem vindo. Abri a janela que dá para o pátio e uma vizinha que eu não conheço porque não conheço nenhuma das centenas de pessoas que vivem ali, nos apartamentos, acompanhava o filho pequeno nas brincadeiras. Era uma criança com uns quatro anos de idade que se passeava em círculos monótonos numa mini-scooter daquelas movidas a bateria que os avós compram às crias dos filhos no Natal. O barulho que fazia assemelhava-se ao de uma varinha mágica numa sopa densa. A mãe acompanhava-o sempre ao seu lado, a pé, olhando o rebento com enlevo.
Depois de algumas voltas a bateria acabou e a criança mostrou-se levemente irritada. A mãe explicou-lhe que "Agora o bebé está cansado e tem que ir para casa papar!". Ela pegou na scooter em peso e carregou-a de volta, dando a mão ao filho que choramingava.
Imaginei-o daqui a alguns anos, gordo, mimado e mal-educado, a ver televisão sentado no sofá.
Mas nós não temos culpa. Se há uns anos atrás, quando eu tinha aquela idade, éramos vários irmãos e partilhávamos um triciclo que fazíamos andar a força de pernas, agora um filho é uma coisa única e preciosa, que se cria à custa de muito sacrifício. Não sacrifícios materiais como antes, mas sacrifícios de viagens entre a creche, o jardim de infância, os ATL's e as actividades extra-curriculares, sem tempo para parar nem para ficar em casa a brincar enquanto a mãe faz compotas e crochet.
Margarida Espantada
Há 5 semanas