quarta-feira, 30 de setembro de 2009
O que eu não aprendi sentada naquele tapete cor-de-rosa!...
terça-feira, 29 de setembro de 2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
A certa altura reparámos num homem duns cinquenta anos que, atrás duns arbustos ali perto, nos olhava fixamente com um aspecto alucinado. Abrandámos a velocidade do voo e ficámos a olhar para ele também. Na verdade, além de nos fixar, ele produzia com a mão direita dentro da braguilha, um movimento ritmado e repetido.
- O que será que ele está a fazer? - perguntou a Cristina.
- Sei lá! - respondi eu - Deve estar com problemas de bexiga. A minha mãe de vez em quando também tem.
E continuámos a andar de baloiço despreocupadamente, durante mais um bocado, com as nossas minúsculas saias a esvoaçar e levantando as pernas quando atingíamos a maior altura, dando gritinhos inebriados.
domingo, 27 de setembro de 2009
- Porque estou com pressa! - respondeu ela muito despachada.
- Vai-me desculpar, mas a pressa não é um motivo válido para tirar tiquet de atendimento prioritário.
- Então tiro qual? - continua ela - Se não tirar uma destas não sou atendida antes dos outros!
- Pois. O atendimento prioritário é para deficientes, grávidas, idosos, pessoas com crianças de colo e advogados.
- Então e quem está com pressa?
- Vem numa altura em que não esteja com tanta pressa. Eu não posso atendê-la com esse tiquet. Há muitas pessoas que chegaram primeiro.
- Sim, mas se não tiram tiquet prioritário é porque não têm pressa não é?
E enquanto argumentava com a mulher que não queria entender a lógica objectiva das prioridades, eu pensava como seria bom viver num mundo em que as pessoas fossem tão honestas consigo e com os outros, que até a pressa podia ser um motivo válido para atendimento prioritário nas repartições.
sábado, 26 de setembro de 2009
- A própria - respondi.
- Bom diaaa!!! Eu sou a catequista do seu filho!
- Sim?...
- Sabe, eu tenho andado aqui a pensar... o Joãozinho disse um dia destes na catequese que a mãe não acredita em Deus nem vai à missa. A senhora acredita numa coisa destas?
- Acredito porque é verdade. Eu deixo-o ir à catequese porque ele quer, mas não faço questão nenhuma nem quero saber de nada disso.
Do outro lado, "ouvi" um silêncio. Imaginei que a megera tivesse caído para o lado e, satisfeita, preparei-me para desligar e ir à minha vida. Mas no último segundo, ela ressuscitou.
- Eu gostava de falar com a senhora sobre esse assunto! Posso ir aí a casa?
- Vai-me desculpar, mas nós não temos nada a conversar sobre este assunto. Eu não quero saber da religião para nada!
- Está bem - estas víboras sabem bem dar a volta aos assuntos - Mas eu gostava de falar consigo na mesma! Conhecê-la, só... Posso?
Nesta fase bem me tramou. Como é que uma pessoa que ainda se vai considerando bem-educada vai dizer a outra que não pode entrar lá em casa?
- Está bem, pode...
- Então logo às nove e meia da noite estou aí!
- Estou tramada! - pensei - Isto a mim só destes cromos e falta de dinheiro!
Mas que podia eu fazer? Já tinha fraquejado perante o inimigo. E às nove e meia em ponto, tal como tinha ameaçado, lá estava ela e o marido, também beato, a tocar-me à campainha. E mais ou menos até à meia-noite, enquanto comia os meus biscoitos e se alambazava no meu chá, a criatura insistiu com o dedinho indicador a apontar para o tecto que "Quem sabe se não será através desta criança que Deus vai entrar nesta casa?", enquanto que eu lhe tentava explicar que não perdesse tempo, nem o dela nem o meu, mas em vão. Às vezes não tenho mesmo sorte nenhuma!
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Toda a gente ficou a olhar para mim enjoadíssima, fiquei mal vista, e a minha sogra nunca me perdoou.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
- Minha senhora... Eu venho aqui fazer uma queixa sobre um vizinho...
- Sim. O que é que se passa então?
- Ele faz as porcarias num balde e vai despejar à minha porta.
- Como?!
- Eu explico. Ele faz as porcarias, sabe, aquelas coisas que se fazem na retrete? Ela faz num balde. Depois despeja à minha porta.
- Mas porque é que ele faz isso???
- Ele é "estrambulhado". Mas eu é que não tenho culpa.
- O senhor já chamou a polícia?
- Chamei, ainda hoje lá estiveram. Muito simpáticos por acaso, era uma rapariga e dois homens. Mas eles a modos que olharam para aquilo... e disseram-me para vir aqui que vocês é que resolviam.
Pois - pensei eu cá para mim - a merda é para nós.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
- Foste cortar o cabelo! Mas não cortaste muito!
- Cortei dois meses.
- Dois meses? Como?
- Então, cheguei lá à cabeleireira e disse, "Tire-me dois meses."
- Ai tu fazes assim?
- Faço. Chego lá e digo quanto quero cortar. Uma mês, dois meses, três meses...
- Mas como? Não estou a perceber!
- Oh rapariga, a cabeleireira corta o que ele cresceu em dois meses, percebes?
- Mas como é que ela sabe?
- Olha, nem ela sabe, nem eu, nem ninguém. Isto é só uma conversa de m... e eu estava a brincar ok?
- Ah!!! Eh eh eh!
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Recordações de verão numa casa que já não existe numa aldeia que já não o é.
domingo, 20 de setembro de 2009
Quando chegámos a casa da Celeste, vimos que não havia lanche, nem bolo de anos, nem balões coloridos, nem nada! Só uma pequena mesinha redonda com um prato de tremoços e uma jarra de sumo verde que não sabia a nada.
- Despachem-se, - disse-nos ela - roubei cigarros ao meu pai, vamos para o milho.
- Para o milho?! - perguntei - Fazer o quê?!
- És mesmo estúpida! Anda embora!
A Celeste era uma miúda loira muito sardenta, filha duma família de agricultores. Tinha uns olhos azuis e redondos muito inocentes que lhe davam imenso jeito e, tanto quanto vim a saber mais tarde, continuaram a dar-lhe imenso jeito pela vida fora.
Mas continuando, segui-as pelo campo até ao milho, que era a planta mais alta e que melhor nos camuflava, onde nos embrenhámos até uma mini-clareira no meio que tinha sido previamente aberta, estrategicamente, pela nossa anfitriã. Aí, sentámo-nos no chão e ela começou a distribuir cigarros daqueles sem filtro e fez circular uma caixa de fósforos. Eu estava aterrorizada:
- A minha mãe não me deixa fazer isto!
- Pois, nem as nossas! - responderam-me - Por isso é que viemos para aqui.
Acabei por fumar (se é que se pode chamar isso a tossir vezes sem conta) uma coisa daquelas. Com apenas alguns tremoços e um copo de corante verde no estômago, sentia-me zonza e prestes a levantar voo por cima do cereal. A sensação que tinha era a de que estava a fazer uma coisa terrível, como atropelar um cãozinho com a bicicleta. Fumar, para os meus pais, era uma coisa tão pecaminosa como o sexo, coisa que viria mais tarde a provocar-me a mesma sensação de estar a ser uma criminosa sem perdão. Mas isso foi mais tarde...
sábado, 19 de setembro de 2009
Foi, então, com grande determinação, que eu acendi o meu quase primeiro cigarro aos doze anos de idade. Odiei, e já sabia que odiava. Era amargo e agredia a minha garganta ainda hoje híper-sensível. De cada vez que aspirava o fumo duma daquelas coisas diabólicas, era como se me estivessem a furar as cordas vocais com pregos. Mas, durante um ano, um ano inteirinho, eu treinei-me de forma impecável para sorrir como se estivesse a gostar tanto daquilo como gostaria de que a minha mãe me aumentasse a semanada dez vezes, enquanto pegava no cigarrito entre o dedo médio e indicador da mão direita, muito esticados, e fazer uns gestos subtis e leves com a mão ao mesmo tempo que arrotava umas postas de pescada entre amigos. Esteticamente, era o máximo!
Claro que todos os dias tinha que ter o cuidado de chupar umas pastilhas de mentol antes de entrar em casa, lavar os dentes com uma dedicação sobrenatural, encher a roupa de perfume e refundir o maço de tabaco debaixo do colchão para que os meus pais nem sonhassem. Mas na minha percepção do mundo, era um investimento que compensava.
No entanto, todos nós crescemos e amadurecemos. Passamos a ter uma visão diferente das coisas e eu, aos treze anos e dez dias, muito convencida da minha maturidade recém-adquirida pela chegada do período, depois duma profunda auto-análise, concluí que estava farta de fingir que gostava daquilo. Peguei no resto dos cigarros que tinha em casa e, revoltadíssima comigo mesma, com a porcaria dos conceitos estéticos e com a minha parvoíce, disse:
- P... que p... esta porcaria! Quero mais é que esta m... se f...!
E assim, meus amigos, posso dizer que deixei de fumar aos treze anos de idade.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
EU: Não. Aí no fim escreve "pede deferimento" e depois assina.
Ele olhou-me com estranheza, como se o estivesse a mandar enfiar a caneta no rabo, ou como se achasse que eu estava simplesmente a gozar com a cara dele. Mas não discutiu. Lá deve ter achado que era melhor assim.
Então, com uma caligrafia envergonhada, quase sumida, escreveu na parte inferior da folha A4 que tinha à sua frente: "Pé de ferimento"
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
- Ainda se fosse ela! - dizia a mãe enquanto o pai acenava com a cabeça concordando - Uma rapariga não precisa de estudos, precisa é de saber tratar da casa! Qualquer dia arranja um marido para tomar conta dela e pronto! Agora o meu rapaz!...
Eu estava lá no meu canto a roer uma bolachita maria e fiquei toda arrepiada. Felizmente, e justiça seja feita a ambos, os meus pais sempre me obrigaram a estudar, mesmo quando não me apetecia nada, para não ter que depender de ninguém na vida. Nem de marido nenhum.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
- Ele joga futebol no ********! - explicou ela - E quando eu andava no liceu costumava ir à mesma esplanada que ele tomar café depois do almoço.
- E?...
- E eu estava completamente caidinha por ele! Aperaltava-me sempre toda! Depois chegava lá, passava ali um bocado toda derretida e ele nem dava por mim! Nunca deu por mim, nem sabia quem eu era!
- Mas...
- Mas isso é uma ofensa! Nunca lhe vou perdoar! Não o atendo!
- Ok...
terça-feira, 15 de setembro de 2009
A nossa fotocopiadora avariou e chamámos a assistência. No dia seguinte, lá apareceu um senhor com uma malinha à porta do nosso gabinete.
- É aqui que está uma fotocopiadora avariada?
- Avariada não! - respondeu ela prontamente e muito séria - Está super avariada!
- Super avariada?! - perguntou o técnico intrigado.
- Sim! - ela já a ficar irritada - Não vê aqui a mensagem no visor? Tabuleiro sup. avariado!
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
- Isto? Isto é canja! - disse eu - Vocês é que são uns mariquinhas!
Nos olhos deles, vi um misto de revolta pelo meu insulto e admiração pela minha ousadia. Já não havia como voltar atrás. Mentalmente, contei até três, afastei as pernas pois não valia a pena dar aos pedais naquela desgraça, respirei fundo e lancei-me. Com o balanço brutal que apanhei, só parei uns bons metros à frente, no meio dum emaranhado de silvas, com bicicleta e tudo. Depois, só me lembro de olhar em volta e ver os meus irmãos assustados a olhar para mim do lado de fora das silvas, como que a pensar que, se eu morresse ou saísse dali com alguma coisa partida era uma chatice pois teriam que confessar o que andávamos a fazer.
Com algum esforço e completamente cravada de espinhos, repleta de arranhões pelo corpo todo, consegui sair dali e tirar a bicicleta. Entrei em casa às escondidas e fui para o meu quarto arrancar espinhos, pôr mercurocromo nas feridas e mudar de roupa. Parecia que tinha sido atacada por uma crise fortíssima de sarampo. No entanto, que eu me lembre, ninguém lá em casa me perguntou o que tinha acontecido. Eram mesmo outros tempos...
domingo, 13 de setembro de 2009
- Onde é que ouviste isso?
Mas que mania os pais têm de, quando lhes perguntamos qualquer coisa, nos devolverem esta pergunta. Que interessa onde ouvimos?
- Ouvi na escola. - era a minha resposta chapa sete.
A minha mãe respirou fundo, desviou a atenção do que estava a fazer e preparou-se para me responder:
- Olha, isso é... um homem que anda por aí com outros homens. E Deus disse que eles merecem a morte, por isso, nunca mais penses nisso.
Nao insisti. Se o assunto metia pena de morte instaurada por vontade divina, é porque era mesmo sério. No entanto, fiquei a matutar naquilo. Eu sabia que o meu pai costumava ir tomar café e discutir futebol e política com outros homens. Sabia-o de fonte limpa, pois já me tinha levado algumas vezes com ele. Será que ele estava também sujeito à pena de morte à mão do altíssimo? Passei vários dias a pensar naquilo e até estive quase para o avisar que deveria deixar de ser homossexual pois arriscava-se a provocar a ira de Deus e ser morto com um raio. Felizmente, não tive coragem de o fazer.
sábado, 12 de setembro de 2009
- Posso pôr isto naquela máquina para tirar coisas?
- Podes - respondi - se os teus pais deixarem podes.
Ele dirigiu-se à máquina, mas não tinha altura suficiente para chegar à ranhura. Uma senhora que ia a passar e reparou na cena, questionou-o de modo simpático:
- Então pirralho, estás com algum problema?
- Quero um chocolate quente - disse ele exibindo apenas a moeda de vinte cêntimos.
- Mas isso não chega, é preciso outra igual. Não tens mais?
O miúdo baixou os olhos e acenou que não com a cabeça, com um ar capaz de derreter o coração ao Gengis Khan em pessoa. Até eu, que sabia que ele tinha um euro, me senti capaz de saltar o meu posto de atendimento e ir lá tirar-lhe o chocolate quente. Embora não tenha sido necessário pois a senhora fê-lo por mim.
É a isto que chamam "filho de peixe sabe nadar"?
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Recebi mais um selo (qualquer dia já posso escrever para toda a gente), pela mão da Sininho, que vai para a colecção ali do lado à vossa direita. O preço é: Assumir três compromissos. Oh Diabo! Então e eu vou assumir assim compromissos? E se depois não cumprir? Sou castigada? Ora então, deixa-me cá arranjar uns compromissos porreiros...
1. Comprometo-me a entrar de férias a partir de 2ª feira, apesar de já ter histórias agendadas para saírem aqui todos os dias sem falhar um :)
2. Comprometo-me a não voltar ao trabalho com o cabelo no estado em que está. Antes de ir trabalhar vou dar uma demãozinha de robbialac.
3. Comprometo-me a trabalhar e chatear-me o menos possível durante as minhas férias.
E agora as vítimas. Tem que ser, é a vida:
Gi
Miepeee
Emiele
Monday
mfc
Saltapocinhas
Su
Predatado
Fernando
Mirian
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Numa demonstração óbvia de que seria mais talhada para outras obras do que para aquela, a nossa tutora, de forma atabalhoada, perguntou em voz alta:
- Meninas! Quem é Deus?
Nós, desconfiadas de que com a resposta ali escrita descaradamente aquilo era fácil demais e que devia haver ali uma armadilha qualquer, permanecemos caladas à espera da surpresa. Até que, com algum desespero, ela respondeu como se nos estivesse a chamar muito lerdas:
- Deus é o Pai do Céu!!!
Depois, perguntou a mesma coisa a cada uma de nós individualmente, e cada uma respondeu o que ela queria ouvir: Deus é o Pai do Céu. No final, numa espécie de resumo da aula, declarou solene:
- Então, hoje ficaram a saber que... Deus é o Pai do Céu!
Para mim, não fazia qualquer sentido ter um pai no céu, assim como não fazia sentido não ter. Era-me basicamente indiferente, desde que aquilo continuasse fácil de decorar como parecia ser.
Apressei-me para casa, pois era dia de galinha assada no forno.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Mais tarde, já mais calma, fui à cata do ficheiro perdido. E, para minha desgraça, ele lá estava a piscar-me o olho no meio de imensa tralha esquecida e cheia de pó. É verdade, eu passei horas naquela idade a deliciar-me com história de meninos que tinham nascido sem pernas nem braços, ceguinhos e com a língua de fora, com histórias de famílias que tinham sobrevivido a desgraças inimagináveis e corajosos lutadores pela liberdade que fugiram de países comunistas só com meia carcaça e um baralho de cartas.
As Selecções do Reader's Digest eram o meu Reality TV na altura.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
- Hoje tenho ali um livro bom para ti! Vais gostar!
E entregava-me qualquer coisa didáctica ou então uma daquelas histórias que começavam a estar na moda na altura, em que não acontecia absolutamente nada a não ser um menino que ia para a escola e encontrava um cãozinho e o cãozinho ladrava e depois iam os dois muito contentes pelo caminho e pronto. Eu folheava aquilo, mais por delicadeza do que por interesse, e ia à socapa trocar por um livro a sério. Quando ia fazer a ficha, lá tinha que ouvir a reprimenda:
- Vais levar isto? Tu devias ler livros melhores, com mais qualidade!
Dah! Como é que eu ia explicar àquele projecto de intelectual da revolução que só estava interessada em histórias onde acontecessem coisas? Como é que eu podia fazê-lo entender que para chatice já bastava o dia-a-dia na escola? Que o que eu queria era história de bruxas terríveis, feitiços inacreditáveis, mundos imaginários, fadas intangíveis, princesas deslumbrantes em castelos singulares, monstros ameaçadores e poderes mágicos nunca vistos?
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Depois da operação de desentupimento, a mulher voltou a guardar o lenço na carteira e tirou, desta vez, um pequeno maço de notas que correspondia ao valor da taxa que vinha pagar nos nossos serviços. Logo a seguir, com o indicador direito em riste, começou a explorar o interior das narinas. Quando tirou o dedo, notámos que trazia uma pequena matéria esverdeada e elástica que ela examinou e colou numa das notas com um movimento de fricção que repetiu duas ou três vezes. A essa altura, já cada um de nós considerava mentalmente a hipótese de se atirar para o chão e simular um enfarte repentino só para não ter que a atender.
Finalmente, ao toque dum número, ela levantou-se e dirigiu-se à mesa dois. Pobre E*****! Tinha-lhe calhado o brinde! Pobre E*****!
No fim do atendimento, deixei-a ir lá fora fumar um cigarro e dar uma volta para espairecer. Ela merecia!
domingo, 6 de setembro de 2009
O homem fazia lembrar muito vagamente uma personagem dum recente anúncio de telemóveis, que anda na praia a urrar dum lado para o outro. Era seguramente mais novo do que eu, o que com o evoluir da conversa me veio a surpreender profundamente. Sentou-se à minha frente e eu assustei-me um bocadinho. Mas só um bocadinho.
ELE: Librete!
EU: Como?
ELE: Librete!
EU (a fazer exercícios mentais de relaxamento): Vamos lá ver, o que é que o senhor pretende? É alguma coisa relacionada com um ciclomotor, certo?
ELE: Deram-ma!
EU: Deram-lhe um ciclomotor, é isso? E o senhor quer regularizar a situação, é isso?
ELE: Mudar de nome!
EU: Muito bem. Tem alguma coisa aí que eu possa ver? Algum documento?
Ele sacou dum papel muito encardido, rasgado de outro maior, cheio de números rabiscados e rasurados.
EU: Isto aqui é a matrícula?
ELE: Motor! – e apontou para outro número mais abaixo.
EU: Sim, mas isto é a matrícula não é?
ELE: Hu!
EU: Pronto, estou a ver que isto é a matrícula. Só que há um problema, esta matrícula não é daqui. O senhor tem que ir a O******* do ******.
ELE: Mas eu não sei!
EU: Pode ir de comboio. O senhor é de cá?
ELE: Sou de C******** de B****.
EU: Sabe ir daqui para a estação?
ELE: Eu não sei ler. Vim de mota. Eu perdi-me c*ralho!
A partir daí, aquele homem grosseiro de mãos calejadas e olhos pequeninos e juntos, desatou num pranto à minha frente e, enquanto que as lágrimas lhe rolavam pela barba mal feita, repetiu as mesmas duas frases: - “Eu perdi-me c*ralho!”, “Eu não sei ler e perdi-me!”
Fui à internet e imprimi-lhe um mapa com o percurso assinalado. Indiquei-lhe a direcção do primeiro ponto e aconselhei-o a ir perguntando às pessoas pelo caminho. Fiquei amarga para o resto do dia. Isto não devia acontecer, não depois de terem inventado a inteligência artificial.
sábado, 5 de setembro de 2009
Por ter dúvidas quanto ao destino de alguns documentos para os quais eu não via qualquer utilidade, telefonei a um órgão de tutela a fim de me informar sobre o procedimento correcto: Arquivo ou destruição dos mesmos. A senhora que me atendeu respondeu-me muito arejada:
- É para destruir! Nós aqui destruímos isso tudo! São coisas que não têm utilidade nenhuma. Então porquê ficarem a ocupar espaço no arquivo?
- Tem razão – respondi eu – era o que eu pensava. Vou então pegar nisto tudo, rasgar e a seguir reciclar.
- É isso mesmo! Basta fazer um auto de destruição!
- Um quê?!
- Um auto de destruição! – respondeu ela como se eu fosse muito estúpida - É um auto que se elabora, onde se diz que nesta data foi destruído o documento tal e tal, e descreve o documento, vai a assinar ao superior hierárquico, regista-se e depois arquiva-se! Mais nada!
- Mas…
- Sim?
- Não… nada… Obrigada. Boa tarde…
- De nada! Boa tarde!
Isto é mais ou menos lavar a loiça toda para depois a meter na máquina. Digo eu.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Recebi um desafio, que veio daqui : Dar cartões vermelhos, o sonho de qualquer pessoa! Desde que, claro esses cartões se traduzissem mesmo em expulsão do jogo, isso é que era! Não é o caso, mas vamos fazer de conta.
1. O primeiro cartão vai para a Manuela Ferreira Leite, a mulher que quer pôr toda a gente a procriar de luz apagada e camisa de dormir até aos pés. Xôôôôôô!!!
2. O segundo cartão vai para o Paulo Portas, para o seu penteado estilo capachinho e para a dentadura branqueada e o ar de quem se julga inteligente. Xôôôôô!!!
3. O terceiro cartão vai para o Mário Nogueira. Faz-me lembrar um porquinho e é o mestre da arruaça. Vive à custa do estado e cospe no prato onde come. Não presta. Xôôôô!!!
4. O quarto cartão vai para a pescada cozida. Ninguém devia ser obrigado a comer pescada cozida, nunca!!!
5. O quinto cartão vai para o meu frigorífico que avariou, o cabrão ingrato! Depois de tudo o que fiz por ele!
6. O sexto cartão vai para a Carolina Patrocínio. Estava com algumas dúvidas nesta porque se as críticas deixassem marca esta miúda já andava toda negrinha. Mas que é estúpida é.
7. O sétimo cartão vai para a gripe A. Será que se a gente lhe der um cartão vermelho ela vai embora? Não custa tentar.
8. O oitavo cartão vai para os espirros. Odeio espirrar! Cada vez que espirro fico zangadíssima, e prio que tudo, não sei bem com quem.
9. O nono cartão vai para o "Cinco para a Meia Noite". Já chega!!!!!!
10. O décimo cartão vai para a república. A única coisa boa que trouxe foi um feriado a 5 de Outubro.
Pronto. E agora é suposto passar a pasta, por isso cá vai:
Emiele
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
- A Joana faz anos hoje.
- Pois faz, eu sei...
- Faz quarenta.
- Eu sei...
- Já falaste com ela hoje?
- Não, e até estou sem coragem. Nem sei como a enfrentar. Ainda nem lhe dei os parabéns.
- Nem eu, estou com o mesmo problema.
- Ela deve estar a passar o pior dia da vida dela!
- Coitada!...
- Pois é, coitada!...
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
- Oh D. A***! Mas aquele senhor não é seu tio?
- Não, aquele senhor é meu pai! Ele é tio mas é das minhas irmãs!
Por acaso, as charadas com graus de parentesco sempre me fizeram muita confusão. Esta, no entanto, deixou-me baralhada das ideias até agora.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
EU: Então?
ELA: Apareceu-me lá o J**** a convidar-me para sair, e eu não pude ir...
EU: Porquê?
ELA: Estava toda enrolada em película aderente.
EU: Para quê???
ELA: É uma receita que me deram para emagrecer. Enrolas-te toda em película aderente e deixas-te ficar assim umas horas. Depois tiras. Só que dá uma trabalheira a tirar... Não dava para ele ficar lá em baixo à espera... e também não dava para ele subir e ficar lá em casa à minha espera. Não lhe ia abrir a porta toda enrolada em película aderente!
EU: Cá para mim, andaste a enrolar o cérebro em película aderente.