quarta-feira, 27 de abril de 2011

Foi na semana antes do dia da mãe, na escola primária. A professora mandou os meninos fazer um postalinho para oferecer no Domingo seguinte à progenitora. Mas de entre todos, havia um que ainda não tinha tido o condão de descodificar o segredo das letras e das sílabas. Como se sabe elas demoram mais a descobrir-se para umas pessoas do que para outras. Por isso, angustiado, pediu ao coleguinha de carteira que escrevesse o seu. Ele anuiu. No fim, todos em fila, foram submeter a obra à aprovação da professora.
- Oh Joãozinho - perguntou ela - foste tu que fizeste o teu postal?
- Fui professora! - respondeu ele a tentar demonstrar um orgulho que não sentia.
- De certeza?
- Fui eu sozinho!

É que no postal do Joãozinho, por cima da casinha sorridente que ele (aí sim) tinha desenhado, estava escrito: "Mãe, és uma vaca. Odeio-te. Vai morrer longe."

As crianças são cruéis.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Estar de castigo por causa duma negativa a matemática.
Não ter escola.
Os adultos excitadíssimos.
Muito rádio.
Programas estranhos na televisão.
Palavras novas que não conhecíamos: Revolução, manifestação, democracia, fascismo...
Gente na rua.
Proibição de ir para a rua. Era perigoso.
E finalmente, perceber que tínhamos uma segunda oportunidade.
É disto que eu me lembro do 25 de Abril de 1974.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Quando eu era chavala perguntava muitas vezes a mim mesma qual era a diferença entre o concurso de Miss Mundo e de Miss Universo. Porque é assim: A Miss Mundo é a gaja mais gira do mundo inteiro. Percebido. Já a Miss Universo devia ser a gaja mais gira do Universo, incluindo outros planetas e até outras galáxias. Então porque é que eu nunca lá vi uma tipa verde de Marte com umas antenas e um olho no meio da testa? Já sei! Porque essas são tão feias que nunca passam nas eliminatórias.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Conversava-se sobre a crise, a Srª Merkel e o FMI. Conversa de circunstância entre recém-conhecidos. A certo ponto, um dos convivas declarou com ar convicto:
- Os alemães é que são pessoas em condições! Inteligentes! Já quando construíram os fornos eles tinham razão e ninguém reconheceu!
- Fornos??? - pensaram todos durante dois segundos - Que fornos?! Das fábricas? Das padarias onde eles fazem os pretzel? O que é que o homem está a dizer que não faz sentido nenhum?
Mas logo a seguir fez-se luz na cabeça de todos sobre o significado daquela frase, e era vê-los de olhos no chão, a dar pontapés em pedrinhas, a fingir uma descontração que ninguém sentia e a querer dizer:
- Não tenho nada a ver com esta conversa!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

- Vinha pedir uma certidão igual a esta mas para o prédio ao lado - e entregou-me um original duma certidão nossa, toda dobrada.
Desdobrei-a para ver o que era e, no verso, alguém tnha escrito à mão:
- Onze taças e três bagaços - mesa 6.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Peguei no tiquet que ele me entregou e ia amarrotá-lo e deitá-lo para o lixo quando ele me gritou em pânico:
- Não faça isso! Ainda não tenho esse!
Parei, porque mesmo sem saber o que se estava a passar pareceu-me ser qualquer coisa de grave, dado a ar aflito do senhor. Olhei para ele com ar de ponto de interrogação. Ele, calmamente, abriu um caderno onde tinha dezenas de tiquets de repartições públicas colados por ordem numérica.
- Ainda não tinha o 5! - explicou-me - Tive que vir cedo! E ainda me faltam todos os números baixos!
Eu, se não tivesse visto não acreditava, apesar de já ter visto muita coisa. De qualquer forma ficou explicado por que razão aquele homem aparece tantas vezes a fazer perguntas sem qualquer interesse ou a pedir cópias de documentos que já pediu tantas vezes.
Antes de sair, ainda tirou mais dois tiquets que vieram a engrossar o nosso número de desistentes.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Isto aconteceu hoje num supermercado pequeno a uma hora morta. Só havia uma caixa aberta e duas pessoas, uma das quais era eu, dirigiam-se para ela pachorrentamente com pouco mais do que um iogurte na mão. De repente, vinda não se sabe de onde, uma mulherzinha de cabelo apanhado a grandes argolas de pechisbeque, correu para ultrapassar ambos e meteu-se na caixa, em frente à empregada, sem nada nas mãos para pagar. A seguir virou-se para trás e fazia sinais de chamamento com a mão enquanto gritava: - "Anda! Anda!" - Os dois camelos, uma das quais era eu, olhavam para aquilo a pensar o que tinham feito na vida para merecer tal coisa. Mas não por muito tempo. Três segundos depois apareceu outra mulherzinha, também de cabelo apanhado e grandes argolas de pechisbeque, com os braços carregados de tralha para pagar que despejou na caixa. Orgulhosíssimas do seu feito, ambas continuaram como se nada fosse, pagaram as compras e foram embora.
E eu a pensar: _ "Bem, esta gente vota e vai decidir os destinos do país no próximo Junho..."

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Era um arquitecto nos seus trinta anos. Com aspecto saudável, lavadinho e educado. Era indisfarçável o seu sotaque nortenho, mas isso não tem mal nenhum. E, a bem dizer, também não teve mal nenhum ele responder-me, quando lhe perguntei pela declaração da ordem, - "Fuóda-se! Que méirda! Isquéici-me!". - Adinal de contas ele disse aquilo com um ar tão angelical que parecia que me estava a convidar para um curso bíblico.

domingo, 10 de abril de 2011

Sabem quando a gente vai tantas vezes ao mesmo cafezinho de bairro que a empregada já sabe de cor o que nós consumimos? Claro que sabem! Mas o meu tem um sabor especial. Logo que entro, a Glorinha pergunta: - "É um chazinho com sabor a verde não é?". - Claro que é... embora um dia me disponha a experimentar o sabor de outras cores.

sábado, 9 de abril de 2011

Estava na perfumaria a gastar um bocadinho da minha hora de almoço e a aspirar aromas quando ouvi uma voz masculina que se destacava:
- Pôxa! Ela num é trouxa não!!! Eu sei que é feio mas confesso, fiquei curiosa. Discretamente fui-me deixando ficar com as antenas do radar à escuta. Ele estava a referir-se à namorada e ao preço da marca de cosméticos que ela lhe tinha pedido de presente.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

- Eu queria saber se há "benéfices" para abrir um negócio.
- Quer dizer, se há subsídios?
- Não, disseram-me que havia "benéfices".
- Isenções?
- Não! "Benéfices"!
- Facilidades de licenciamento?
- "Benéfices"!!!
- Desculpe mas eu não estou a perceber a que benesses se refere. - Não são benesses! São "benéfices"!
- Então não há...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

- O senhor é proprietário da casa? - perguntei eu só para saber se era recomendável entregar-lhe nas mãos cópias daqueles documentos.
- "Poprietário" ainda não sou - respondeu ele - mas já tenho a casa "palavreada"!
Com tamanha sinceridade, dei-lhe as cópias. Só podia.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Não tenho nada contra estrangeiros, mas quando os atendo gosto que estejam sozinhos. Pronto. Quando vêm em pares, ou em trios, têm a desconfortável tendência de começar a comunicar entre si na sua língua. Os chineses fazem-no de forma particularmente provocadora. Não porque estejam deliberadamente a provocar mas porque a sua forma de falar inclui risos, vénias e entoações que nos levam sempre a desconfiar que não estão a dizer qualquer coisa do género: "Trouxeste o documento de identificação para preencher aqui isto?", mas antes qualquer coisa como: "Eh eh eh! Vamos intrujar mais esta?". Claro que o problema deve estar em mim e não neles... E é claro que quando eu estou no estrangeiro não falo inglês com o meu marido só para que à volta nos entendam. Será que pensam o mesmo de nós?

terça-feira, 5 de abril de 2011

Foi assim de repente, apeteceu-me voltar. Acordei, estava sol, calcei uns sapatos altos, vesti-me de vermelho e decici que ia voltar. Embora nenhum destes factores tivesse nada a ver com nenhum dos restantes. Volto no entanto com o acordo ortográfico em vigor e com uma ligeira impressão de já não saber escrever português. O título deste blog tem um erro. Paciência. Estou há duas horas a tentar relembrar o login e a palavra-passe. Agora que consegui estou esgotada. Lutar com o mundo virtual não é brincadeira. Voltar voltar mesmo, volto amanhã... E vocês, ainda estarão aí?