domingo, 31 de maio de 2009

- Eu vou-lhe explicar uma coisa! - disse-me o homem grande e barrigudo com os dois botões de cima da camisa abertos exibindo um medalhão dourado - Eu sou uma pessoa muito complicada! E sabe porquê? Porque sou uma pessoa muito simples! Porque penso muito depressa, vejo logo tudo o que está errado!
Dito isto, ficou com um ar satisfeito como se tivessem anunciado um óscar em seu nome.
O que eu respondi foi como se não tivesse ouvido nadinha, porque nadinha valeu aquela informação para mim:
- Vou precisar do seu bilhete de identidade.
O que eu pensei, no entanto, foi:
- Vai-te f*der!
Estão a ver? Simples? Simples sou eu!

sábado, 30 de maio de 2009

Um jantar daqueles de trabalho, em que vai toda a gente e nós não conhecemos uma data deles, ou pelo menos não pelo nome, ou temos apenas uma leve sensação de os termos visto passar, tipo é do departamento x? y? Não sei. Já têm o cenário. Foi num destes jantares que esta história se passou.
Eu cheguei atrasadita e fui-me sentar junto do meu grupo, sim, mas numa ponta, ao lado de dois colegas, porteiros, que conhecia mal e pelos vistos me conheciam mal a mim. Às tantas, no desenrolar da noite e do tinto, eles começaram a meter conversa. Mas, como naqueles dias em que mais valia a gente não ter saído de casa, fizeram-no da pior maneira. Depois de terem estado ambos a trocar impressões em voz baixa enquanto olhavam para uma colega na outra ponta da mesa, coisa que tem o nome mais vulgar de cuscuvilhice, perguntou-me um deles:
- Oh colega! Aquela loira que está ali na ponta, de vermelho, é que era a mulher do F***** não era?
Bingo! O F***** era o meu ex-marido.
- Não! - respondi secamente enquanto alguns presentes mais informados se riam só com os olhinhos, mais por dentro do que por fora. E ele insistiu:
- Não é? Olhe que acho que é! Do F*****! O chefe do serviço de ********! Ela era casada com ele! Então não era?
- Não - repeti, com ar de poucos amigos.
- Ela não anda com um gajo de Lisboa?
- Não sei nada disso.
- Mas anda! Trocou o F***** por um gajo de Lisboa e deu-lhe com os pés! A colega há-de-se informar!

De qualquer modo, pela forma como ambos olham para o chão quando passam por mim desde essa história, como se estivessem à procura dum cêntimo que deixaram cair, acho que alguém já os elucidou convenientemente,

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Não sou pródiga nestes acontecimentos. Posso contar até hoje duas vezes em que fui interveniente em espantosas coincidências, daquelas a que as pessoas mais entusiastas costumam chamar "premonições".
A primeira vez foi há muitos anos, mais de trinta. Eu estava sentada no banco de trás do carro à espera dos meus pais que tinham ido a casa buscar qualquer coisa e, para passar o tempo, observava as pessoas que passavam, através do vidro. A certa altura passou uma mulher jovem toda vestida de branco e, sem nenhum motivo especial, imaginei-a a tropeçar e a cair. Uns dois segundos logo a seguir, ela tropeçou e caiu de facto.
A segunda teve lugar há alguns dias. De manhã, durante aquele último sono em que costumamos sonhar parvoíces, vi-me a ir de carro numa paisagem estranha quando, ao longe, um avião se despenhou e incendiou. Fiquei muito aflita e tentei conduzir na direcção do acidente. Finalmente, cheguei ao local e vi as equipas de salvamento que retiravam cadáveres para um monte. Ao lado, via-se a cauda do avião separada do restante e o incêndio continuava. Quando acordei e liguei a televisão, nas notícias, fiquei a saber que um avião se tinha despenhado na Ilha de Java e havia 98 mortos.
Apesar de não acreditar em fenómenos para anormais nem nada disso, em ambas as ocasiões senti uma sensação estranha de "coincidência em demasia":

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A cena do costume: O candidato, centro das atenções, os moços de fretes com as bandeiras, a música, os distribuidores de panfletos inúteis e as equipas de reportagem dos vários canais. Neste caso, gostei particularmente de ver que à maralha se juntou o "emplastro" aqui da cidade: um homem alucinado que costuma fazer discursos nos semáforos a meio da avenida principal. Ele estava tão feliz, a sua voz sobrepunha-se de tal modo à acção de campanha, e as coisas que dizia faziam tanto sentido como as do candidato, este ou qualquer outro. "Pela nova ponte! Por uma ponte que não caia ao chão quando o céu se abrir em pedaços azuis! Pelo ministro que jurou vingança e matou a mãe! Pelo chão cravado de rosas e veludo!" e outras coisas de teor idêntico, era o que ele defendia mas com muito mais fervor do que os políticos mesmo ao lado. Fiquei a observar um pouco, antes de seguir o meu caminho. Ninguém o expulsou, alguns olhavam-no de lado e sorriam desconcertados. Ele teve, com toda a certeza, o seu dia.
No jornal da noite, fui ver as reportagens sobre o assunto. O louco dos semáforos, que na prática tinha conseguido apagar a acção de campanha ou pelo menos reduzi-la a um desfile de misérias, tinha desaparecido.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Todos sabemos que a incontinência é uma coisa mais ou menos comum. O que não é muito comum é as pessoas que sofrem do mal dizerem-no abertamente, como se fosse uma coisa tão normal como deixar cair uma nódoa na blusa ou esquecer-se do guarda-chuva numa repartição. O que parece é que duma forma geral, infelizmente, nem ao médico as pessoas confessam o problema.
Por isso, foi com surpresa, mas principalmente com desconforto, que ouvi uma senhora que eu estava a atender e que já tinha atendido no dia anterior dizer-me, com o rosto aberto num sorriso franco:
- Olhe! Ontem quando me fui embora daqui já ia toda mijadinha! A sério!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Houve um tempo, não há muito tempo, em que as crianças à mesa não podiam dizer que não gostavam da comida, sendo que afirmar que a mesma era "uma porcaria" configurava um crime punível com umas boas palmadas e uma ida para a cama mais cedo. Mesmo os adultos não se atreviam a fazer declarações desse teor sob pena de não se darem ao respeito devidamente. Assim era quando aconteceu esta história e só por isso ela aconteceu desta forma.
A minha mãe tinha comprado uns peixinhos muito muito pequeninos para o jantar. Tão pequeninos que quem não soubesse jamais adivinharia que se tratava de peixes. Na altura não sei, mas hoje em dia é proibido pescar peixes assim bebés, embora haja quem o faça e, tal como naquela altura, os venda a um preço verdadeiramente exorbitante.
Mas retomando o fio da história, a minha mãe, que gostava muito daqueles peixes minúsculos e quase transparentes, passou o dia a prometer um jantar especial que seria uma surpresa para todos. Eu, gulosa como era e ainda sou, fiquei em pulgas e mal podia esperar pela iguaria.
Quando finalmente fomos para a mesa e a minha mãe serviu o jantar, eu olhei para aquilo e lembro-me que pensei qualquer coisa do género "Que raio de porcaria vem a ser esta?", mas como já expliquei, essa era uma coisa que se podia pensar mas jamais dizer nem sequer mostrar com os olhinhos. Por isso, peguei na faca e no garfo e lá tive que me fazer àquilo. Primeiro, comi as batatas todas. Mas devagarinho. Enquanto houvesse batatas no prato eu estava safa. Depois, comecei a mexer nos bichitos com o garfo, a passá-los dum lado para o outro do prato, discretamente. A seguir, enchi-me de coragem e meti um daqueles seres estranhos na boca. Mas o sacana recusava-se a passar dali para baixo e eu comecei a ficar muito aflita. Tão aflita como se tivesse uma osga em cima da cabeça ou como se me tivesse esquecido de fazer os trabalhos de casa e a professora tivesse feito queixa aos meus pais. Achei que alguma coisa muito embaraçosa me ia acontecer e decidi arriscar e tomar uma atitude. A medo, muito a medo, disse:
- Mãe... eu acho que não consigo comer isto... Faz-me lembrar... lombrigas...
E logo a seguir fiquei à espera da consequência. Baixei os olhos para o prato e pensei que "seja o que Deus quiser"! Para minha surpresa, ouvi o meu pai dizer:
- Oh M**** ****, tu tem paciência mulher, mas eu também não consigo! Eu não queria dizer nada para não dar maus exemplos mas... tu nunca mais compres disto!
E foi assim que na minha casa deixámos de cometer pelo menos um crime ecológico.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Acho que todos os miúdos da minha geração passaram por isto. Não sei se agora ainda passam, mas desconfio fortemente que não.
Era o paraíso, a porcaria do paraíso que nos prometiam como vida eterna depois da morte. A nossa consciência martirizada por muitas sessões de catequese e de pecado mortal, vacilava entre a alegria de viver para sempre ao lado de Jesus e a angústia de saber que o iríamos fazer sentados numa cadeira em cima duma nuvem branca, sem televisão, sem livros aos quadradinhos, sem bolos de açúcar de cinco tostões da padaria da D. Maria, sem bonecas, sem triciclo, sem a relva fresca para correr e rebolar, sem árvores para subir, sem a galinha assada do almoço de domingo. Tão chato como estar no café à espera que as mães acabassem de conversar umas com as outras sobre o que tinham visto na Burda, como ficar em casa porque chovia, como aprender aritmética com vontade de dormir, como decorar as linhas de caminho de ferro e os afluentes dos rios. Ou pior, porque nem sequer ia haver a expectativa do que viria a seguir.

domingo, 24 de maio de 2009

- São quatrocentos e dois euros.
Mas a pessoa à minha frente já o sabia. Tirou duma "mica" um cheque de quatrocentos euros e uma moeda de dois. Justificou-se envergonhada:
- A minha mãe diz que não passa cheques a acabar em dois euros, só em zero. Ou em cinco. Só quer contas certas.
- Mas porquê?! - perguntei agastada, já a antever grandes problemas para convencer a tesouraria.
- Se soubesse o que eu tentei convencê-la! Mas ela diz que quer a conta limpinha, sempre a acabar em números redondos. Até os juros a incomodam! Se tiver a conta a acabar em três vai lá pôr dois euros imediatamente! E os cêntimos? São uma doença!

Números redondos, no sistema decimal que nos rege é o zero ou o cinco, que significa as metades. Está certo. Para qualquer um de nós, fazer cálculos mentais com estes valores é tão natural como respirar. Mas para alguns de nós, é mesmo uma questão de vida ou morte. Bolas!

sábado, 23 de maio de 2009

Fui a uma festa de aldeia. Daquelas com palco para a música e barraquinhas de venda de bugigangas várias. Era uma daquelas festas tão genuínas, mas tão genuínas... pronto, eu vou dizer a verdade. Era uma daquelas festas tão parolas!... Pelo menos foi isso que eu pensei quando resolvi filmar as duas matronas que dançavam no largo agarradas uma à outra e as pus no YouTube. Deixei de o pensar quando recebi uma mensagem de agradecimento do filho duma delas, que dizia qualquer coisa como:
"Vivo fora de Portugal e costumo procurar no YouTube imagens da minha terra. Fiquei muito comovido quando vi que apanhaste a minha mãe a dançar na Festa do ****. Obrigada!"
Nesse momento, senti-me o ser mais merdoso de todo o planeta, com uma dose de culpa tão grande como quando fazia queixa dos meus irmãos em pequenina para me livrar de qualquer coisa. Tinha ali uma pessoa a agradecer-me por ter gozado com a mãe. Sinceramente, odiei-me.
Vacilei um pouco entre a opção "responder" e "não responder" e acabei por escolher a primeira, embora com o sentimento de estar a limpar as mãos à parede. Disse qualquer coisa sobre a alegria e a espontaneidade da festa e depois escondi a cara com as mãos.
É muito difícil continuar a ser cabra quando a pessoa à nossa frente passa a ser um indivíduo com identidade.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ganhei mais um selo! Foi a Miepeee que mo deu e está ali ao lado.
Agora é suposto eu fazer o seguinte:

.Publicar a imagem do selo (está ali de ladecos)

.Linkar o blog que ofereceu (já está)

.Escolher 5 situações da minha vida que mereciam ser repetidas em câmara lenta:
1. A altura em que caí da janela da casa da minha avó no 1.º andar. Se fosse em câmara lenta não me tinha magoado.
2. O chocolate com chili que comi ontem
3. O meu exame da quarta-classe (sabia todas, fiquei super-vaidosa).
4. O momento em que vi os meus filhos sorrir pela primeira vez.
5. A vida toda (é suposto durar mais em câmara lenta)

. Passar o desafio e o selo a 12 blogues
Não vou passar a 12, vou passar a todos ali ao lado. Todos!!!

Bom fim-de-semana!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vinham excitadíssimas! Tinham estado todas juntas num jantar para o qual eu tinha sido também convidada mas onde decidi não pôr os pés. Incluía strip masculino e eu tenho a minha opinião, muito própria, sobre o assunto. Para mim um homem atraente aparece primeiro bem vestidinho, e nunca mas nunca se abanará à minha frente enquanto tira as cuecas sob pena de perder todo o meu respeito. Bem, mas adiante. As minhas colegas apareceram-me no dia seguinte, como já disse, ainda afogueadas, e a primeira coisa que fizeram foi tentar criar-me o sentimento de arrependimento:
-Tinhas que vir! És mesmo parva! Depois do jantar veio um brasileiro de dezoito aninhos fazer um strip! Era lindo!
Acho que, perante a imagem, recuei um bocadinho como se fosse um vampiro em presença de alho. Para elas, um brasileiro lindo de dezoito aninhos era uma atracção de circo. Para mim, era uma quase criança, a um oceano de casa e da família, sabe-se lá porquê e com que dificuldades, e que podia simplesmente ser meu filho.
Há coisas em que não consigo mesmo pensar como os homens.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Quando acabei a quarta-classe e chegou a altura de mudar de escola para continuar os estudos, os meus pais consideraram que talvez fosse melhor morarmos na cidade, que era onde estavam os liceus. Mesmo sem ninguém me ter pedido a opinião, concordei de imediato. Morar na cidade era tudo o que eu queria há muito tempo. Poder chegar até à civilização sem ser de autocarro! Morar num sítio onde se saía de casa sem ser só para ir à missa! Morar num sítio onde no caminho de casa para a escola e vice-versa havia lojas e cafés e cinema e não só as casas das outras pessoas que, ainda por cima, todas sabiam quem tu eras e se metiam na tua vida! Era o meu sonho tornado realidade! Na verdade acho que os meus pais também estavam fartos de viver rodeados de campos de milho e batatas e eu fui apenas um pretexto para mudarmos, mas que importava? Antes de começar o ano lectivo já estávamos instalados num terceiro andar esquerdo e nós, as crianças, já tínhamos assimilado que agora não podíamos fazer barulho à nossa vontade por causa dos vizinhos. Tudo corria perfeito.
O meu avô, que vivia connosco e era quem tratava do quintal e das árvores de fruto, quem fazia brinquedos para nós com o que a natureza dava, quem procurava nos campos as ervinhas para os chás, quem ia à fonte buscar água, quem tratava das galinhas e dos coelhos, começou a definhar. Até morrer, alguns anos depois, nunca mais foi o mesmo. Sentava-se a olhar para a televisão e assim ficava, horas e horas, presente em corpo mas não em espírito.
Hoje, sinto que fomos nós que o matámos. E não é um sentimento fácil.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Eu e outros miúdos íamos para a escola e deparámos com um casal de cães que, indiferente a tudo, acasalava. Os meus colegas, a quem a cena provocou de imediato a desinibição do gene da parvoíce, começaram a rir e apontar, a atirar piadas e pedras. A mim, pessoalmente, a cena impressionou-me, porque me lembrei do Pateta e da Clarabela. Muito calada e pensativa, eu concluía desiludida que, sendo o Pateta um cão e a Clarabela uma vaca, a relação de ambos era uma treta grosseiramente impingida às crianças e não tinha qualquer viabilidade. Porque eles nunca poderiam fazer aquilo, nem que ele fosse um cão daqueles grandões como um S. Bernardo ou um pastor alemão. O que nem é.
Naquele dia senti-me decepcionada como quando descobri que não existia Pai Natal. Nunca mais li livros aos quadradinhos.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A C****** chamou-nos propositadamente lá a casa para sermos testemunhas da desgraça que lhe tinha acontecido.
- Vejam! - disse ela assim que chegámos, apontando para um canto do quarto.
Aí, um objecto em faiança vidrada representava grosseiramente um casal de namorados, com o olhar posto no horizonte e segurando, cada um, a ponta dum arco composto por flores cor-de-rosa e brancas. Ela era loura mulher-a-dias e ele, ajoelhado, vestia um fato de primeira-comunhão com gravata azul-bebé. A composição estava em cima duma coluna grega também em faiança, também cor-de-rosa mas com umas pinceladas de dourado. Na verdade eu nunca tinha visto uma coisa tão feia desde as viagens que fazia em miúda no comboio-fantasma.
- E agora, o que é que eu faço a isto? - perguntou ela desesperada.
- Não podes... deixar tombar acidentalmente a limpar o pó? Esconder no sotão?
- Nem pensar! Conheço muito bem a minha madrinha! Vai andar sempre na minha casa a ver se eu tenho a prenda de casamento que ela me deu em local bem visível! E esta porcaria deve ter custado uma pequena fortuna!
- E trocar?
- Ela ofendia-se de morte! Além do que, na loja onde ela comprou isto, não deve haver nada melhor!
- Então não sei - e todas acenaram com a cabeça em jeito de pesar - estás mesmo lixada...

Algum tempo depois, vim a saber que a C****** tinha a escultura de faiança atrás duma porta, bem escondida, e sempre que a madrinha aparecia de surpresa alguém ia a correr puxar aquilo para um local de honra. Aí ela, orgulhosa, dizia sempre:
- Ainda bem que gostaste! Quando fizeres anos dou-te outra muito linda que lá há. É um rajá sentado num elefante dourado! Tens a casa tão pobrezinha mulher!
Não sei se cumpriu a ameaça.

domingo, 17 de maio de 2009

Enquanto escolhia na loja uma prenda bonita para o aniversário do meu filho, detive-me em duas pessoas perto de mim que discutiam acesamente. Eram de certeza mãe e filho, porque a semelhança dos traços fisionómicos e a diferença de idades o denunciava. O que me chamou a atenção, mais do que o facto de estarem a discutir numa loja de roupa, foi o facto de o fazerem numa língua que eu desconhecia e nem sabia identificar. Será árabe? Checo? Aproximei-me discretamente a tentar ouvir. E aí sim, consegui descodificar duas frases:
- Ouh felhe! Voi vestiúr!
- Nan vô nede!!!
Eram açoreanos.

sábado, 16 de maio de 2009

Telefonei a um utente para o avisar de que já podia ir buscar um cartão. Sabia que ele tinha pressa e não custava nada ser simpática. E não é que o homem me atendeu e, depois de eu lhe dizer o que tinha a dizer, me responde secamente com um "tá..." e desliga-me na cara? Não é por nada, podia ao menos ter dito obrigada, sei lá, qualquer coisa dentro do género!
Passada meia hora, ainda eu estava a rosnar contra estes malcriados que não têm consideração nenhuma, entra-me ele esbaforido pela porta dentro:
- Ai minha senhora, nem queira saber! Há bocado, estava eu consigo ao telefone quando me entrou um mosquito pelo nariz, o sacana!... Nem consegui dizer mais nada, fiquei mesmo à rasca, palavra de honra!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

- Mãeeeeee!!! - gritei eu orgulhosa correndo pela cozinha dentro - Engoli um caroço de cereja inteirinho!!!
A minha mãe pôs um ar preocupado como se tivesse acabado de saber que eu tinha apenas um mês de vida:
- E agora? - perguntou-me - Se ele não sair quando fores à casa de banho vai-te nascer uma cerejeira no estômago!
Ia morrendo de susto e nesse dia não brinquei mais. Ia à casa de banho de cinco em cinco minutos mas em vão. O nervosismo teve como efeito psicosomático uma obstipação severa. Recusei-me a beber água para não regar a semente do mal que tinha implantada no aparelho digestivo. Sentada na cama a olhar o quintal pela janela, imaginava-me com um tronco de cerejeira enorme a sair-me pela boca e uns ramos mais pequenos a sair pelos ouvidos e pelo nariz. Lá em cima, a folhagem verdejante era interrompida por cerejas vermelhas cor de inferno e eu tinha que estar permanentemente a olhá-las de boca muito aberta por a rigidez do tronco não me permitir outra posição. Parecia um pormenor dum quadro de Bosch. Tive a certeza que os meus últimos dias de vida iriam ser assim e, angustiada, chorei.
Uns tempos depois, como nada acontecia, comecei a acreditar que o caroço tinha afinal conseguido sair sem germinar, e readquiri a esperança de viver até ser muito velhinha. Para aí até aos trinta anos ou, quem sabe, mais ainda!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Hoje na Zara, duas senhoras admiravam um vestido amarelo estilo cai-cai, com uma alegria tão grande e tão sincera que contrastava com a idade de ambas.
- Tão querido! - dizia uma pondo o vestido à sua frente e olhando-se no espelho - É mesmo fofinhooo!!!
- Ai mulher pois é! - dizia a outra - E vais comprá-lo para ir onde?
- Olha, vou comprá-lo para ir... aspirar... lavar a loiça... limpar o pó...
- Então vamos embora.
- Vamos.
E foram. Com o semblante muito mais grave. P*ta da crise que não nos deixa comprar um vestido bonito para limpar a casa!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Como ainda não havia blogues nesse tempo eu arranjei maneira de me meter em sarilhos na mesma. Juntei-me a uma colega tão desastrada como eu e fundámos uma revista com distribuição gratuita no liceu. Quer dizer, não era bem uma revista, era mais aquilo que mais tarde se veio a apelidar de fanzine quando se decidiu que duas folhas A4 fotocopiadas, dobradas ao meio e agrafadas era uma coisa muito underground e muito à frente. Infelizmente ainda não estávamos nesse tempo. E assim vivemos nós o nosso momento de fama, ainda que circunscrita aos muros do liceu, durante os três primeiros números da ... (é verdade que não me lembro do nome que demos àquilo).
Um belo dia porém, e como já era de esperar, a contínua mais ranhosa e odiada pela miudagem apanhou-nos o original, já prontinho para ir à copiadora. Orgulhosa que estava, a cabra, agitou a presa em frente do nosso nariz e jurou a pés juntos, a sonsa lambe-botas:
-Eu vou fazer queixa!!!
E foi. E logo o número em que íamos publicar a caricatura da professora de francês a contorcer-se de prisão de ventre sentada na sanita e com um balão de banda desenhada indicando que sabia dizer todos os palavrões na língua de Asterix! Oh merde!
O assunto foi logo a conselho directivo e foi considerado gravíssimo. Não sei porquê, acho que naqueles anos a seguir à revolução ninguém tinha sentido de humor nenhum. A professora de francês, então, quando viu aquilo demonstrou ter tanto como um bengaleiro! Foi convocada uma reunião geral de encarregados de educação para discutir os métodos modernos de educação dos rebentos e eu vi, literalmente, a minha vida a andar para trás. Se havia coisinha para a qual os meus progenitores se estavam a cagar era para as teorias modernas de educação. Assim que lhes dissessem que a filhinha tinha andado a distribuir desenhos indecentes a minha folha estaria feita. Para minha sorte, tinha mãos pequeninas que cabiam na caixa do correio, que o meu pai só abria ao fim da tarde. Apanhei a convocatória nas calmas, que queimei depois numa espécie de ritual satânico de vingança.
No dia a seguir à reunião soube pelos meus colegas, que por sua vez tinham sabido através dos pais que lá tinham estado, que ninguém tinha percebido muito bem o que se passava e que se tinha dito que os pais mais interessados em estar ali (os meus) eram negligentes, e daí o comportamento da filha estar totalmente explicado.
A professora de francês perguntou-me:
- Porque é que os teus pais não vieram ontem à reunião?
E eu, com o arzinho mais sonso deste mundo:
- Oh Stôra, eles tiveram muita pena de não poder, mas o meu irmão está com escarlatina!...
Além de me livrar daquela, ainda tive a profe a deixar-me em paz a aula toda com medo de apanhar escarlatina. Toma!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Na minha infância morei numa casa com árvores de fruto no quintal. Havia uma cerejeira, vários pessegueiros de raças diferentes, um diospireiro, uma nespereira, uma ameixeira branca e uma preta e um canteiro de morangos. Ao contrário do que eu via nos livros da Anita e do que me parecia ser normal em todo o lado, não havia maçãs. Nem laranjas. Nem pêras. Não é que não houvesse maçãs, laranjas e pêras lá em casa. Haver havia. Só que eram compradas na loja da D. Celeste. Do nosso mini-pomar só vinha a fruta doce e boa, aquela que era uma festa só de olhar. Aquela que se reserva para momentos especiais até no nome. Há muita gente com sobrenome Pereira ou Laranjeira, mas já viram alguém chamado Diospireiro? Não. Era aquela fruta que se comia, não porque se tinha fome mas porque se era guloso. Perguntei uma vez à minha mãe:
- Porque é que não plantamos uma macieira e uma laranjeira no quintal? Ou uma pereira?
- Para quê? - perguntou ela - Maçãs arranjam-se em qualquer lado!
Por isso me habituei até hoje a separar a fruta em dois grupos distintos: a fruta para comer e a fruta para comeeeeeeer!!!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Pedi-lhe para aguardar um pouco e, enquanto esperávamos que o processo descesse do arquivo, fui adiantando umas coisas. Mas não por muito tempo, porque o meu cliente queria mesmo conversar:
- Vou-lhe mostrar o meu telemóvel novo!
E sacou dum telemóvel de última geração que tinha no bolso da camisa. Trazer um telemóvel, um lápis ou um pente no bolso da camisa significa "remotas hipóteses de vir a fazer parte do meu círculo de amigos". Mas em contexto de trabalho há que ser simpática e aquela coisa horrível... como é mesmo? Ah! Condescendente. É isso!
- É muito bom é! - respondi eu sem que mais nada me viesse à cabeça no momento.
- Este telemóvel faz coisas que você nem imagina - continuou ele - e eu ainda só não consegui descobrir como é que se tira fotografias com ele! Mas hei-de descobrir! Que isto tem uma câmara que é uma categoria! Mas é complicado, o sacana!
- Pois é - retorqui eu numa tentativa de fazer um pouco de humor ligeiro tipo familiar para encher tempo - hoje em dia fazem telemóveis com tantas funções que depois é uma confusão! Parece que já há alguns com casa de banho e tudo!
E ele, passando de repente do ar divertido com que estava para o ar sério compenetrado:
- Com casa de banho?! A sério?!
- Oh que caraças - pensei eu - o gajo levou a sério! E agora?
- Estava só a brincar - expliquei.
- Ah - respondeu ele um pouco desiludido por já não poder gabar-se aos amigos de ter um telemóvel onde se podia enfiar a pila.

domingo, 10 de maio de 2009

Sabem quando é que eu deixei de enviar mensagens de ano novo para os telemóveis dos amigos?
Foi no ano em que escrevi qualquer coisa do género "Um feliz 200... para todas as pessoas bonitas que eu conheço. Tu és uma delas" e mandei para toda a gente da minha lista.
Algumas semanas mais tarde vim a saber que tinha havido grande vendaval entre um casal meu conhecido. Ele recebeu a mensagem e não estava presente. Ela foi lá e leu. Achou imediatamente que nós tínhamos um caso e reagiu à medida. Foi ele que me contou:
- Eh pá! A M***** ficou lixada com a tua mensagem de ano novo! Fez-me cá uma cena!
E eu aparvalhada:
- Mas eu mandei igual para toda a gente da minha lista!
- A sério? Se eu sabia tinha-lhe dito...

Não é que o parvo pensava que tinha sido mesmo só para ele?

Anyway... já se divorciaram. E eu não tive nada a ver com isso.

sábado, 9 de maio de 2009

Quando eu era muito jovem era, como todos os muito jovens, intolerante.
Nas campanhas eleitorais, quando via os partidos que estavam errados (que eram todos menos aquele de que eu era simpatizante), a distribuir folhetos na rua, podia muito bem passar ao largo. Mas não. Passava rentinho. Só para eles me entregarem um papelito daqueles e eu ter o prazer de responder:
- Oh! Obrigada! Vai ficar tão bem colado no autoclismo lá de casa!

Somos tão parvinhos enquanto não crescemos! E depois também...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Toquei a campainha. Lá de dentro ouvi -"Quem é?" - e respondi:
- Censos 91!
Com a campanha fortíssima que havia na altura bastava dizer isto para todos saberem do que se tratava.
- Ah sim, só um momento!
Aguardei à porta, de pastinha na mão. Logo de seguida comecei a ouvir barulhos que foram aumentando de volume. Às tantas, parecia que lá dentro havia uma pequena revolução ou talvez uma demolição. Comecei a ficar desconfiada. os ruídos aumentavam os decibéis e ficavam cada vez menos espaçados. Além de desconfiada comecei a ficar receosa e a considerar a hipótese de me pisgar dali bem depressinha e nunca mais voltar. Mas já nessa altura a minha veia de profissional honesta falava mais alto e, a medo, já uns cinco minutos depois de ter tocado a primeira vez, premi novamente o botão.
- Só um momento!!! - disse alguém lá dentro já impaciente, como se fosse normal tencionar abrir a porta a alguém e demorar dez minutos para o fazer.
Mesmo muito, muito intrigada, continuei a esperar.
- Não há-de ser nada - pensei - se eu desaparecer alguém me procurará aqui. Sabem qual é a minha zona de recenseamento...
Estava eu nestes pensamentos quando uma senhora duns sessenta anos me abriu a porta, com ar de quem tinha acabado de correr uma maratona debaixo de sol sufocante e à força de chicote. Depois de olhar para mim uns segundos, abriu-se num sorriso:
- Boa tarde - disse eu.
- Boa tarde menina! Entre, entre! Não esteja aqui à porta a escrever que não dá jeito nenhum!
Entrei. Sempre a olhar desconfiada para todo o lado a ver se descobria onde estavam os outros cadáveres. O cheiro lá dentro era estranho. Quando cheguei à sala, um simpático velhote que vim a saber depois, era o marido, arfava sentado na poltrona. Pensei que se estava a sentir mal.
- Os senhores precisam de alguma coisa? - perguntei feita estúpida.
- Não! - respondeu ela despachada - Mas é que sabe, nós nunca temos visitas nenhumas. Agora apareceu a menina... Não queríamos parecer mal! Por isso, antes de lhe abrir a porta, estivemos a dar um jeitinho à casa...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A começar na idade de 16 anos tive tantos empregos temporários e trabalhos inventados por mim mesma que já nem sei dizer qual foi o primeiro. Depois de algum esforço, acho que foi nos serviços municipalizados. Eu e mais meia dúzia de miúdos e miúdas fomos atirados às feras nas aldeias dos subúbios para fiscalizar e detectar possíveis ligações clandestinas à rede de água a 250$00 por dia. Foi uma coisa surreal. Porque nos fartámos de andar a pé por sítios que nem conhecíamos bem. Mas principalmente porque foi aí que eu fiquei a conhecer o mundo para lá do meu mundo. Até aí, eu não fazia qualquer ideia que havia mulheres fechadas em casa que falavam com quem batia à porta através de meio postigo, a medo, e sempre dizendo que "Venham mais tarde que o meu marido não está e não me deixa abrir a porta a ninguém".
Meu Deus como eu ficava indignada do alto da minha imensa juventude!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A Emiele e a Saltapocinhas arranjaram-me um bico de obra: Contar o que andava a fazer no dia 24 de Abril de 1974. Primeiro, isso já foi no tempo dos afonsinhos, que é como quem diz no tempo dos Ford Escort e dos Fiat 600 originais. Segundo, a gente ainda consegue fazer um esforço para se lembrar do que andava a fazer no dia 25, agora o dia 24... acho que a malta meteu nos arquivos mortos. Vou tentar fazer uma associação de ideias, tipo investigação do CSI Miami.
Então vejamos:

- Eu tinha feito anos há poucos dias. E não tinha tido festa nem presentes porque, graças a um 9,5 que tive a Matemática, estava de castigo por um mês. Por isso, estava de certeza em casa, com uma grande tromba de elefante, fechada no quarto (que era onde eu estava quando não estava na escola), provavelmente a fazer planos para fugir de casa e nunca mais me verem. Felizmente para mim o castigo acabou no dia seguinte porque os meus pais estavam mais entusiasmados com outras coisas e esqueceram-se.

Esta é a versão verdadeira. Agora a versão interessante:

- Eu estava secretamente a enviar instruções às forças armadas num aparelho transmissor que tinha escondido debaixo da cama ao pé do cotão e das revistas porno que roubava ao meu pai, porque ninguém sabe isto, mas na verdade eu é que fui a estratega de toda a revolução. O Otelo e os outros foram só os testas de ferro. Pronto. Isto era para ser segredo mas agora já sabem.


Agora as vítimas, tinha que ser. O Nando, o MFC, a Mushu e a Vap. Tá feito.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Gosto de ir a concertos e ópera. Não porque tenha uma refinada cultura musical, que não tenho, mas porque gosto, o que me parece ser suficiente.
Infelizmente, nos espectáculos de música (so called) erudita, temos que nos saber comportar. Não podemos ir para lá cantarolar, nem bater o pezinho, nem acompanhar o ritmo com palminhas e, muito menos, acender os isqueiros no ar como no sudoeste à noite já depois das bubas, por muito que o Requiem de Mozart ou o Hino à Alegria nos emocione a alma. É mau. Também temos que saber quando é a altura de aplaudir, sob pena de olharem logo para nós de ladecos como se fôssemos uns labregos. É mau. Claro que há sempre o truque de esperar que os outros aplaudam para alinhar no "Maria Vai com as Outras". Só que isso também não é suficiente, pois topam-te na mesma.
Eu opto pela solução simples de ter o programa na mão. Assim, sei quantos andamentos tem a obra que estou a ouvir e sei que só se pode bater palmas no fim de todos, senão o maestro fica ali com os bracitos no ar a mandar calar a malta e é uma cena um bocado desagradável. Pelo menos se nos estiver a mandar calar a nós.
Um dia destes aconteceu-me pela primeira vez, no CCB, não ter o programa. Porque chegámos em cima da hora e fomos a correr sentar, falhou-me esse pormenor importante. Só me lembrei quando estava a começar, e ainda para cúmulo, os acordes não me eram de todo familiares. Tive a certeza que nunca tinha ouvido aquilo na vida e não sabia do que se tratava. Mas isto foi o pior? Não! O pior foi o senhor inglês sentado ao meu lado ter desatado a fazer-me perguntas sobre o que ia acontecer. Caramba! Se ele me tivesse perguntado quantos cantos têm os Lusíadas, em que museu está a Guernica, o que é uma redondilha maior, qualquer coisa! Agora, sobre a orquestra que estava em cima do palco, eu nem o nome sabia!
Poucas vezes me senti tão estúpida, acreditem...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Foi no dia do meu aniversário, há muitos anos. Os colegas do emprego ofereceram-me um cartão gigante, que desdobrado andaria perto do metro quadrado, onde todos escreveram uma dedicatória e assinaram.
No fim do dia, quando levei aquilo para casa e mostrei à família, o comentário do meu filho de quatro anos foi:
- Que giro! Quando morrerres posso ficar com ele?

domingo, 3 de maio de 2009

- Ai menina! - dizia a cigana - A menina parece mesmo uma cigana como a genti! Se a menina fosse a uma festa nossa dançava lá três dias seguidos sem ninguém dar por ela que não era cigana!

Não, isto não aconteceu comigo, foi com uma colega minha. Se fosse comigo eu acho que tinha visto a vida toda a passar-me à frente nesse momento.

sábado, 2 de maio de 2009

Há muitos anos, a minha filha mais nova tinha cinco anos e quis oferecer-me este disco no dia da mãe.
Pediu ao pai, sugeriu aos irmãos mais velhos e foi completamente arrasada com piadas e bocas foleiras. Conformou-se com a derrota e associou-se à oferta do perfume e das coisinhas feitas na escola.
Eu só vim a saber da história mais tarde e achei indecente. Uma criança de cinco anos não sabe a diferença entre música bimba e não bimba. Para ela, se diz "mãe querida" e é isso que ela quer dizer, está certo!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

É nestes momentos que eu penso que não ando a bater muito bem. Senão vejam:

Comprei uma coroa de flores para o funeral dum familiar dum colega nosso. Depois, dei o cartão a assinar a toda a gente. Eu assinei também. Quando fui fazer as contas para saber quanto é que cada um tinha que me dar, contei as assinaturas e dividi o custo da coroa por esse número. Até aí tudo bem.
O pior foi quando decidi enviar um email a todos a comunicar o custo. Abri o outlook e fui "picando" as assinaturas enquanto punha os endereços na barra de cima. Escrevi o texto e enviei. Logo a seguir, recebi uma mensagem de mim própria. "Que raio é isto?" - pensei eu - "Um vírus?"
Não. Era um mail a pedir-me 2,05€.