Vi com alguma antecedência uma senhora idosa, apoiada numa bengala que, parada no passeio com ar amedrontado, aguardava a oportunidade de atravessar a estrada. Travei e fiz-lhe sinal para que passasse. Ela assim fez e, enquanto atravessava muito devagarinho devido às dificuldades de locomoção, reparei na sua fisionomia amarga. Quando ela chegou sensivelmente ao meio da estrada parou. Pensei que estava cansada, mas não. Estava apenas (ou era mesmo) azeda. Nessa altura voltou-se na minha direcção e começou a ameaçar-me com a bengala no ar enquanto proferia palavras que eu não ouvi mas me pareciam pragas de bruxa.
É para eu aprender a ser como os outros todos que se borrifam para os velhinhos que querem atravessar a estrada em hora de ponta.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
4 comentários:
Poderia estar a dar-te a benção! Como podes saber se não ouviste?
Se reparares, o padre quando abençoa também levanta qualquer coisa e profere palavras ininteligiveis.
De facto acontecem, por vezes, coisas um pouco estranhas, como essa que contas.
Já me aconteceu e eu achei que me estavam a cantar uma canção bonita...blá,blá,blá. Da próxima vez, pararei. A velhinha pode ser outra.
Beijinhos.
Conheço bem esse tipo de velhinhos, "azedos", teimosos...Nem sei como não ficam mais vezes atropelados (não estou a par das estatísticas) da maneira como os via/vejo a atravessar as ruas, sobretudo, quando vivia em Lisboa e apanhava o autocarro na Avª. da República eu ficava arrepiada ao vê-los andar na hora de ponta e, muitas vezes, também recusando ajuda num misto de orgulho(?) e inconsciência...Mas, esse caso que contas foi demais Castanha...Volta e meio penso quando chegar a minha vez como serei... eu que sou muito senhora do meu nariz;))
Kuka, dispenso essas bençãos, porra!
Paula, claro que eu continuarei a parar.
Mariquinhas, eu acho (espero) que não vou ficar assim!
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