terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

No dia em que na missa o sermão do padre incidiu nas promessas feitas à nossa senhora e não cumpridas, eu até agucei a atenção, apesar da larica que já me afrontava. Ele começou por explicar que as pessoas fazem promessas à nossa senhora quando estão numa aflição, como por exemplo, com uma doença grave... e eu, ingénua, à espera que ele dissesse qualquer coisa lógica como - "Não façam, vão ao médico!" - mas ele não disse. Depois, continuou o discurso dizendo que - "há mulheres nesta paróquia que prometem a máquina de costura à nossa senhora se ela lhes fizer um milagre!". E eu, ainda ingénua, esperava que ele explicasse que não deviam perder tempo, que a nossa senhora jamais iria descer dos céus para vir cá abaixo coser umas bainhas ou debruar uns lençóis, que prometessem por exemplo ser boazinhas, ajudar o próximo e rezar muito, já que as divindades, pensava eu, se alimentam mais destas coisas imateriais do que de máquinas de costura. Pelo menos nas partes em que estava atenta, era isso que me ensinavam na catequese. Só que o padre terminou o sermão com a declaração solene de que, quem prometeu a máquina de costura à nossa senhora devia ir lá entregá-la. Fiquei muito confusa e cheguei a pensar que tinha ouvido mal por causa da fraqueza.
Mas depois, à mesa do almoço, à volta da galinha assada do costume, o meu avô (que tinha estado na mesma missa mas na ala dos homens), explicou-me, daquela forma rude, directa e eficaz de homem do campo que sempre usava para explicar qualquer coisa:
- Aquele sacana dum raio! O que ele quer é ficar com a máquina de costura a uma desgraçada qualquer que a prometeu num momento de fraqueza e ir vendê-la! Padres é tudo igual! Filhos da mãe duns sacanas é o que eles são!
O meu avô ensinou-me muitas coisas.

13 comentários:

PreDatado disse...

Só faltou o padre dizer que embora Nossa Senhora provavelmente não venha costurar, vendida na casa de penhor ainda daria umas coroas jeitosas para a "obra" da igreja. Quem tem um avô assim com tanto discernimento tem ouro lá em casa. Conserve-o.

Castanha Pilada disse...

O meu avô, infelizmente, já nos deixou. Mas ensinou-me muitas coisas sim. :)

Kruzes Kanhoto disse...

Piores que eles só aqueles velhos barbudos. Mullahs, ayatolas ou o raio que os parta...

kuka disse...

E o meu avô dizia: São uns "trampalhões".

Taralhoca disse...

Aos padres que me sermonearam só lhes posso apontar 2 defeitos: não gostarem de foguetes e desafinarem com convicção. Digamos que não estou mal servida. E que toda a gente na minha família preserva a máquina de costura.

Anónimo disse...

Melhor a máquina, do que prometer que o filho vai sair vestido de anjo em todas as procissões até os 14 anos!
Acho que o filho se rebelou aos 12... se não me engano... :))

saltapocinhas disse...

e os que prometiam que outros haviam de ir a fátima a pé!!

mas vim aqui especialmnete para te desafiar... vais ao meu blog e vês.
e ai de ti que não colabores!!

Miepeee disse...

Muito sabio o teu avo. Eles e que os topavam bem :)

Castanha Pilada disse...

Cruzes Kruzes!

Lol Kuka, isso é uma mistura entre trampa e trapalhada!

Bolas Taralhoca, essa parte de desafinarem já deve ser má q.b.!

Até aos 12 ele aguentou Senhora? Tadinho! :)))

Saltapocinhas, também já conheci um assim, que mandava a mulher a pé a Fátima por ele!

Miepee, não lhe escapava nada!

Gi disse...

Mas o teu avô ia à missa na mesma. ;)

mfc disse...

Já viste algum cigano dizer mal do que estava a vender?!
Ora ainda bem que me compreendes!

Castanha Pilada disse...

Gi, e ia com a mesma conviccão com que os criticava depois!

Lol, estás a ofender os ciganos!

cereja disse...

Essa de se fazerem promessas para os outros cumprirem, eu sou tão ingénua que de início nem acreditei que fosse. Mas é mesmo verdade!!!
Cá do fundo do meu completo agnosticismo, essas coisas surpreendem-se sempre, e como é possível que alguém imagine (e o padre concordar) que se pode «fazer um negócio» com a divindade. É que isso de uma promessa é um negócio - tu dás-me isto e eu dou-te aquilo.
Não entendo o princípio que justifica essa coisa, palavra.