O meu primeiro namorado chamava-se... bem, já não me lembro como se chamava. Mas tinha uma bicicleta baril, dum modelo diferente dos outros todos, que o pai lhe tinha trazido de Espanha. Não era uma pasteleira, pesada e com rodas grandes cheias de flores de plástico a rodar que nem loucas. Também não era uma roda 26, como a minha, que tinha rodas muito pequeninas, era muito alta e tínhamos que pedalar muito para chegar a qualquer lado. A bicicleta dele tinha um design que lembrava vagamente as BTT's, que só vieram a ser consideradas uma praga muitos anos depois.
Eu pensava que um namorado era uma pessoa que tinha brincadeiras giras e com quem era divertido passar o tempo. Ele devia pensar a mesma coisa, porque a única coisa que fizemos durante todo o tempo de namoro (que durou uma tarde inteirinha, desde o almoço ao pôr-do-sol), foi brincar com a bicicleta dele. Eu sentava-me no guiador e ele pedalava com muita força sem ver o que estava à frente, só mesmo as minhas costas. Quando atingíamos uma grande velocidade, eu abria os braços e gritávamos. Caímos muitas vezes e esmurrámos os joelhos, mas divertimo-nos imenso.
No final da tarde, quando regressei a casa para jantar, a minha mãe estava com cara de poucos amigos. Já alguma vizinha lhe tinha ido contar que a filha (eu, com oito anos de idade), se andava a portar mal com um rapaz. Então, assim que entrei, ofegante e feliz, nem me perguntaram nada nem quiseram saber da minha boca o que tinha andado a fazer. Deram-me uma bofetada e mandaram-me para o quarto de castigo.
Eu fui, sem perceber nada. Mas enquanto ali estive, com o estômago a dar horas e a pensar no que havia de fazer sem televisão, fui desenvolvendo uma teoria segundo a qual deveria haver algo nessa história do namoro que eu desconhecia mas que devia ser muito, muito interessante. Melhor do que andar numa bicicleta estrangeira, melhor do que brincar toda a tarde. Melhor do que cair e esmurrar os joelhos. E que os adultos não queriam que nós soubéssemos o que era para poderem ficar com aquilo só para eles. Se aquele castigo não tivesse acontecido, eu não teria ainda querido, não tão cedo, matar aquela curiosidade. Mas como aconteceu, não demorei muitos anos a desvendar o mistério.
Obrigada mãe.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
10 comentários:
O fruto proibido tem fama, né?
Uns amigos meus, quando o filho começou a interessar-se por cigarros, ofereceram-lhe um maço. Depois dos 2 cigarros iniciais, o resto anda lá pelas gavetas...
Mas a tua família era mesmo severa, porque nessa idade ainda se costuma achar graça aos meninos que dizem que namoram. Lá para os 13 é que a coisa fia mais fino.
Pois é... Eu era menina comportadíssima, até ler em classe(escondidas, evidentemente) um livro pornográfico junto com minhas coleguinhas. Então, cheia de dúvidas em alguns trechos, nem tive dúvidas em perguntar a minha mãe, que estava encerando a escada de madeira neste momento. Eu me lembro até hoje da expressão do seu rosto... :))) Ela nunca mais foi a mesma comigo... :))))
Sim Emiele, a minha família era estupidamente severa. Depois deu o que deu... isto...
Senhora, isso foi ingenuidade mesmo! :)))
é como dizem: pais escrevem certo por linhas tortas ...
ah, adultos, se eles soubessem como são bobos a pensar que crianças são bobinhas e de nada entendem ...
quando virei pai, a primeira coisa que me impus foi: haja o que hajar, jamais seja um adulto idiota quando for falar com sua filha ... creio ter conseguido ... ou quase ...
E é que depois nunca mais se deixa de gostar!!!
Mas não é fácil Monday, não é fácil...
mfc, acho que deixa... sei lá...
Gosto mesmo muito de vir aqui ler estas historias. Parabéns, mas "...lembrava vagamente as BTT's, que só vieram a ser consideradas uma praga muitos anos depois." deixou-me de rastos.
Lol, porquê?
eh eh eh "uma praga" não é bonito de dizer desse desporto que eu gosto tanto, só por isso. Praga são os tubos de escape a deitar fumo, isso sim, agora bicicletas?
Ah pois, mas era só uma força de expressão, quer dizer que foi uma coisa que se vulgarizou. Só isso.
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