Foi o primeiro dia de efectiva liberdade da minha vida. Depois de muito massacrar, os meus pais deixaram-me ir numa excursão da escola sozinha. Era apenas até à capital de distrito mais próxima, que ficava a sessenta quilómetros mas, sem auto-estradas, tivemos que sair de madrugada e voltar à noitinha.
Nesse dia comportei-me como um animalzinho que tinha enlouquecido dentro duma jaula e se viu repentinamente do lado de fora. Embebedei-me, fumei o que havia e me ofereceram e portei-me mal duma forma que as velhas da vizinhança, se soubessem, afiançariam que jamais alguém casaria comigo. Antes de regressarmos a casa comemos várias pastilhas de mentol entre risos histéricos, para que os nossos pais nada descobrissem nos nossos hálitos.
Quando entrei em casa, muito discreta e completamente zonza, descobri que os meus pais tinham estado o dia inteiro a preparar uma surpresa para mim. Cansados e com um ar infantilmente feliz, abriram uma porta e mostraram-me um quarto novinho em folha que me tinham estado a preparar, com uma mobília moderníssima lacada a branco e uma colcha psicadélica a condizer com as cortinas.
- Gostas? - perguntaram-me ansiosos.
E eu, de mochila na mão e com a cabeça a pesar tanto como uma montanha, metade de droga e outra metade de culpa, pus-me a chorar:
- Mas para que é que vocês fizeram isso??? - perguntava eu.
Eles acharam estranho, mas que eu saiba até hoje, nunca desconfiaram de nada.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
11 comentários:
Menina mimada... :)))
Mais ou menos! :)
Menina má!
que sorte ... normalmente, os pais sabem de tudo, embora nem sempre falem ...
Pais inteligentes.
Os pais sabem muito e tu deves saber isso, cero? ;)
Carlos, má não. Mimada! Diz a Senhora...
Monday, Gi e Kuka, isso é capaz de ser um bocado mito não? Digo eu...
Mas é bom que os filhos pensem assim.
Kakaka hilária como sempre!!!
Imagino como se sentistes!!!
Maravilhosos pais os teus!!!
Senti-me culpada até aos ossos!
Que estranho tinha ideia de que ao ler este post tinha deixado um comentário, e não o vejo... Deve ter ficado só na minha cabeça.
Castanhinha, recordações assim são mesmo preciosas. Comoveste-me com esta memoria, revivi cenas semelhantes, de ternuras inesperadas e por isso mais intensas ainda. Eu tenho tentado reproduzir esse modelo que recebi dos meus pais com o meu filho - oxalá o esteja a conseguir.
Agora vê lá como é que ele se porta! Lol!
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