quinta-feira, 9 de abril de 2009

Naquele dia apeteceu-me esmurrar um padre. Não na rua nem numa esquina. Apeteceu-me mesmo saltar para o altar em plena missa, dar dois murros no peito e um grito e a seguir, esmurrar o padre até ele ficar estendido no chão.
Estava a assistir a um funeral numa aldeiazinha do norte. Naquele norte onde as casas já são feitas de granito e as paisagens muito verdes. Onde as mulheres usam o cabelo muito preto apanhado numa rodinha e grandes brincos de ouro. Onde os homens cospem no chão e bebem vinho nas tabernas. Onde o padre ainda manda na vida de todos.
Mas como eu estava a contar, eu estava a assistir a um funeral quando, em plena missa e na presença de três filhos adolescentes devastados, um viúvo perdido no mundo e o cadáver duma mulher ainda jovem demais, o padre desatou a dizer impropérios para mim inaceitáveis. Que sabia muito bem quem dali ia e não ia com frequência à missa, que estavam todos marcados, que os que não seguiam a doutrina haviam de arder no inferno. Mas não parou por aí. Disse que a mulher que ali estava e que se ia sepultar a seguir tinha tido um bom comportamento cristão enquanto lá viveu, mas nada garantia que assim tivesse continuado quando saiu e foi viver para outro lado, e olhou para nós, os aliens de pé ao fundo do templo. Que Deus tivesse piedade da sua alma. Disse que toda a juventude é uma desgraça mas que a culpa é das leis em vigor e dos pais. Disse ainda que a felicidade não presta, não tem valor nenhum, e que jamais irão para o céu aqueles que se afirmam felizes, a não ser que essa felicidade advenha de fazer sacrifícios em nome de Deus. Disse que todos devíamos pedir perdão todos os dias por termos sido concebidos em pecado.
Disse tudo isso sem uma palavra de conforto para a família ali presente, que tinha acabado de perder alguém muito importante e muito cedo e sofria. Sofria, de certeza, ainda mais, com aquelas afirmações ásperas e desprovidas daquilo de que eles, cristãos, tanto falam: compaixão.
Virei-me para a colega que estava ao meu lado e disse:
- Estou-me a passar com esta merda, vou sair.
Vim cá para fora apanhar um bocado de ar frio e agreste do norte. Para acalmar. No cemitério minúsculo mesmo ao lado, um grande buraco deprimente esperava pela R***. A minha colega seguiu-me e, quando ia a sair da igreja, uma velha da terra apontou para a direcção que eu tinha seguido e informou-a:
- Ela foi por ali!
Só Deus sabe o quanto me apeteceu pôr as mãos ao pescoço daquele padre. Só Deus sabe como ele o merecia. Mas limitei-me a sair cá para fora.

9 comentários:

Anónimo disse...

Parece que Deus passou uma procuração de plenos poderes para eles, não?
E muita gente aceita de boa fé.

bjs

Erica de Paula disse...

Só estou passando pra desejar uma feliz páscoa!

Bjos em teu coração!

Castanha Pilada disse...

É Senhora, eles agem como tal. Uns mais do que outros, mesmo assim. P que os p...

Obrigada Erica, boa páscoa para ti também!

kuka disse...

Se o tivesses feito não ganhavas o reino dos céus.

Castanha Pilada disse...

Mas ficava bem mais satisfeita em terra!

Taralhoca disse...

Vozes de burro não chegam aos céus. Seja de padre ou não.

Castanha Pilada disse...

Mainada!

Nós, Os Cachorros disse...

Entendo completamente como te sentistes!!!
Tenho avesso aos padres... Tenho meus motivos...
Mas, ainda bem que não susjastes tuas mãos amiga!!!
Não vale a pena...
Abraxos

Castanha Pilada disse...

Não vale mesmo!