sexta-feira, 24 de abril de 2009

Naquele dia não houve escola, o que não me recordo de ter sido uma grande alegria porque tinha a certeza de se passar qualquer coisa importante que eu não compreendia nem ninguém me queria explicar o que era. Ao longo do dia fui ficando levemente irritada. Os adultos falavam de coisas que estavam a acontecer, e estavam tão excitados com tudo aquilo que eu me sentia simplesmente transparente. Até que, a certo ponto, resolvi levantar a voz e acabar com aquilo:
- Mas afinal o que é que aconteceu???
Aí, decidiram parar de me ignorar, mas acho que não foi por eu ter falado mais alto. Foi com certeza porque já tinham a segurança de que podiam, de que o rumo dos acontecimentos já não ia inverter-se.
- Houve um golpe de estado - responderam-me.
- O que raio é um golpe de estado?
- Bem... foi uma revolução.
- Sim, mas o que é uma revolução?
- Quer dizer que o governo caiu. Que agora vai haver um governo novo, vai ser tudo novo. Nada vai ser igual!
Aí comecei a interessar-me pelo assunto. Ainda não tinha percebido nada de nada, mas sendo assim, já estava a interessar-me pelo assunto. Eu e toda miudagem da minha idade, que a partir daí deu início a uma viagem alucinante no mundo das novidades e das surpresas.
Acredito que foi um privilégio viver este momento.

9 comentários:

Miepeee disse...

O que sei, aprendi na escola. Em 1974 tinha 10 meses.

bell disse...

Eu tinha 4 anos e vivia no campo. Claro que também não me lembro de nada, creio que nem os adultos se aperceberam do que acontecia lá longe, na capital.

kuka disse...

O kuka era um jovem militar e estava de serviço nessa noite. As rondas aos postos de sentinela eram feitas fora dos limites do aquartelamento porque estavamos de prevenção (tinha havido o movimento das "Caldas da Rainha" recentemente e os chefões estavam a prever mais qualquer coisa. Fui informado por uma sentinela que estava a ouvir por um pequeno rádio. Claro que nunca pensei que pegasse.
Ainda bem que me enganei.

mário disse...

Morava perto da revolução,ainda lembro os tanques perto da Emissora Nacional e o povo na rua
quando cheguei da escola que fechou.
Foi um dia diferente,muito diferente para um miúdo absorver, ficam as imagens...

VAP disse...

Verdade! Foi um privilégio viver esse dia.
Morava perto da Pide, no Porto.
E, apesar de criança, recordo os momentos que vivi, antes e depois desse dia!
Obrigada pela música!
Um abraço!

Castanha Pilada disse...

Miepeee, sendo assim acredito que não tenhas recordações, lol!

Bem bell, com quatro anos era difícil.

Ou seja Kuka, de prevenção mas com pouca vontade de prevenir.

mário, nós absorvíamos como miúdos que éramos. Com a nossa visão muito pessoal.

Vap, isso ao pé da PIDE também deve ter sido animado.

cereja disse...

Chego muito tarde para comentar.
Este teu post pode servir para uma cadeia onde me meteram e a que te vou associar(ainda não respondi) que consiste em responder á pergunta «onde estavas no 25 de Abril».
É que há por aí blogs que não dá para pedir isso porque ainda nem tinham nascido!

Gi disse...

Fizemos parte da História. Não tem é final feliz como os contos de Fadas.

Castanha Pilada disse...

Emiele, eu estava assim como que um bocado ignorante!... Lol!

Gi, podia ser pior!