Já com a quarta-classe feita (portanto, praticamente uma intelectual), apanhámos o autocarro para irmos ao liceu da cidade fazer o exame médico que nos daria acesso à continuação dos nossos importantes estudos. Foi um dia importante. Da minha escola éramos quatro. As restantes já por essa altura abraçavam a profissão que iriam ter para o resto dos seus dias: Cultivar as terras e cuidar dos animais.
Quando chegámos, já havia uma fila imensa de meninas de dez anos de todas as aldeias em redor, ansiosas por se tornarem estudantes de liceu, estatuto na altura mais importante do que hoje ter uma licenciatura da Moderna.
Mandaram-nos despir, ficar só em cuecas e formar fila à porta do gabinete da senhora doutora, coisa inusitada para a altura. Ninguém esperava por isso e o desconforto foi geral e notório. Umas sentiam-se mal porque, apesar da tenra idade, já pareciam umas miniaturas de mulheres. Outras, porque pareciam ainda umas crianças. Eu incluia-me no segundo caso.
A médica passou a tarde a mandar pôr a língua de fora, auscultar sumariamente e a dizer:
-Vá lá meninas! Somos todas mulheres aqui! Não há problema!
E nós a pensar:
- Ai é? Então porque não te pões tu também em cuecas hein?
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
5 comentários:
Talvez a senhora estivesse "naqueles dias".
Talvez...
concordo contigo: se acham que não constrage, que façam parte então ...
10 aninhos?! Acho que já estariam me dando o motivo mais forte para odiar escola. :))
Nem mais MOnday.
Senhora, era preciso muita persistência!!!
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