quarta-feira, 11 de março de 2009

Foi numa noite de natal, há muitos anos. Eu, sempre muito mais à frente que os demais em técnica e filosofia de vida, como todos os putos teimosos, tinha acabado de inventar um método novo de abrir nozes. Enfiava a ponta duma faca muito afiada num extremo da noz e depois dava uma pequena volta, o que a fazia abrir-se com um som de pequeno estalido e me divertia. Os adultos, animados pela conversa e pelo álcool, avisaram-me, ainda assim:
- Vais cortar-te!
- Não vou nada! Sei muito bem o que estou a fazer!
Duas ou três nozes depois a faca resvalou para o meu polegar esquerdo. Olhei e pareceu-me, assim de repente, que o meu dedo estava dividido em dois e começava a sangrar abundantemente. Em volta ninguém se apercebeu, a conversa estava animada. Fugi a correr para o quarto e ninguém deu por nada. Já fechada nos meus domínios, analisei mais detalhadamente o resultado da minha avançada técnica. De facto, toda a cabeça do dedo, na parte da frente, tinha sido decepada e estava presa apenas por um pequeno pedaço de pele. Continuei e não querer dar parte de fraca. Embrulhei o dedo e o que sobrava dele num lenço e tranquei-me na casa de banho. O sangue jorrava em grande quantidade. Com a água da torneira sempre a correr, tentei juntar as duas "peças" conforme o formato original e embrulhei tudo com força numa ligadura que havia no armário. Colei com adesivo e voltei para a mesa, onde acabei de jantar com a mão esquerda sempre escondida. Talvez porque fosse noite de natal e toda a gente estava muito animada, ninguém se apercebeu de nada, nem me chamaram à atenção por estar a usar apenas a mão direita. Mais tarde fui dormir e na manhã seguinte já pude substituir a ligadura enorme por um penso mais pequeno. Quando me perguntaram, finalmente, o que era aquilo, disse que tinha roído uma unha muito rente.
O que é certo é que, embora a pele tenha acabado por cair e ser substituída por uma nova, a carne colou direitinho no local onde pertencia.
Ainda hoje tenho uma cicatriz que completa uma forma arredondada no meu polegar esquerdo. É de estimação.

11 comentários:

Miepeee disse...

Oh pa acabei de jantar ...ate me deu volta ao estomago.

Castanha Pilada disse...

Lol! Que sensível!

Anónimo disse...

Menina corajosa, hem!

Luís Maia disse...

Sou especialista a abrir ostras com a mesma técnica, mas tenho os dedos todos

Anónimo disse...

Menina! Já fiz coisa parecida, mas minhha mãe me pegou no banheiro lavando aquela sangueira toda.

Bons tempos! :)))

Erica de Paula disse...

Menina que lindas histórias tem por aqui!

Essa é mais uma né?

Tem selinho no meu blog pra vc viu?

Bjooooooo!

cereja disse...

Primeiro - também faço assim e felizmente nunca me cortei! E as metades ficam muito direitinhas, até se podem aproveitar (não sei bem para quê, mas podem!)

Segundo - já encontrei uma alma gémea tão teimosa e orgulhosa como eu. Essa, nesses moldes nunca me aconteceu, mas tenho histórias basicamente parecidas. Que tal fundarmos uma associação do tipo «antes quebrar que torcer»?... Sobretudo em miúda, com a idade ando mais 'mole'.

kuka disse...

Essa técnica também é boa para partir a pontinha das facas.
Eu quebrava as nozescomo via o meu avô fazer: Abria a porta, entalava a noz entre a porta e a moldura da mesma, junto às dobradiças, e fechava-a. Era um verdadeiro quebra-nozes.
Claro que as portas lá de casa andavam sempre todas desengonçadas.

Taralhoca disse...

Eu não usei uma faca, nem fui ao polegar... da mão.
A mania de ser diferente deu-me para dar cabo do dedão gordo do pé. Andava tão satisfeita em correrias e sandálias que mal me apercebi de ter arrastado com o dedo com tanta força no chão que lhe perdi a ponta.
Claro que não pude adoptar a mesma solução porque a ponta do dedo estava perdida e ensanguentei as escadas do prédio ao subir até casa.

Gi disse...

E chegaste a contar a verdade? ;)

Castanha Pilada disse...

Corajosa não Carlos. Cheia de cagufa de ficar de castigo.

Lol Luís, eu também os tenho todos! Um é apenas um pouquinho mais infeliz.

Lol Senhora, a mim ninguém me apanhou!

Obrigada Erica, já estou a ir para lá! :)

É isso mesmo Emiele! Como se diz aqui, em português mais vernáculo, antes partir a p... do que deixar de f...! Mainada!

Kuka, pareces o meu marido a falar! Lol!

Bolas Taralhoca, essa foi potente, mulher!

Nunquinha Gi!