Lembro-me dos rebuçados de meio tostão como se fosse hoje. Vinham em várias cores, embrulhados em pedaços de papel transparente. Embora tivessem todos o mesmo cheiro intenso adoçicado, nós conseguíamos distinguir no paladar e na imaginação um sabor correspondente à cor que os corantes químicos lhe tinham conferido.
-Hmmm! Este é laranja! - dizíamos se fosse amarelo forte.
-Este é de morango! - para os vermelhos.
E assim do mesmo modo para os verdes de maçã, os roxos de amora e os amarelo-pálido de limão.
Um dia destes passei na rua por uma senhora muito perfumada, como se tivesse caído dentro dum frasco gigante de perfume e se tivesse debatido por horas até conseguir sair de lá.
Aos olhares enjoados de todos contrapôs-se o meu sorriso infantil de surpresa:
- Rebuçados de meio tostão! - exclamei cheia de nostalgia. E fiquei a olhar para ela, que não deve ter percebido que lhe estava a fazer um elogio.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
12 comentários:
Lembro-me desses rebucados mas no meu tempo ja nao havia tostoes ... modernices .
A senhora devia ser um rebucado de tutifruti ;)
Eu lembro-me perfeitamente desses e lembro-me dos que se vendiam á saída do barco no T. do Paço que eram embrulhados em papel de seda de varias cores que eram os paladares. Cada cor seu paladar. Hoje o meu poema das 3f faz até referência a isso.
Nós já não somos do tempo do meio tostão, pois não ? O que quiseste dizer foi 2 rebuçados por 1 tostão e havia outros ainda mais porreiros, que eram embrulhados por um boneco da bola, cujo número mais difícil dava direito a uma bola de "cotechú".
Mas a esses não ligavas não era ? É por essas e por outras que as miúdas só passaram a ser mais interessantes uns anos depois
Desses seus rebuçados só fico a imaginar. Mas, o olhar da senhora... fico a pensar se ela não ficou receosa de ser lambida em público. :))
Miepee, a senhora era um tuti-fruti gigaaaaante!
PréDatado, esses do papel de seda não tenho ideia. Não devem ter chegado cá ao burgo, não sei...
Pois não Luís, mas a gente chamava-lhes rebuçados de meio tostão embora só se pudesse comprar aos pares. E também me lembro desses da bola. Eram os do bacalhau e da cobaia?
Acho que não Senhora. Quer dizer... eu espero não ter cara de quem vai lamber uma tipa em público. Valha-me Santo Ambrósio!
Miepeee, tostões seria uma maneira de falar, e olha que só acabaram com o euro... Eu, que sou mais velha que a nossa Castanha, sou do tempo em que se falava em «réis», custa cinco mil réis era igual a a dizer que custava 5 escudos. Ehehehe! Hoje seriam dois cêntimos e meio!
Rebuçados de meio tostão era porque com 5 tostões se recebia um monte deles!...Até de podia dar aos amigos.
Imagino a senhora, toda perfumadinha, a receber uma tal apreciação. Não gostou, com certeza!!!
Eu cá, se não gosto dessa raça de damas, não sei porquê mas ainda embirro mais quando são eles que deixam um rasto atrás de si. Até pode ser de after-shave, mas se é demais, é demais.
Eu acho que já não sou do tempo dos rebuçados de meio tostão. Ou então estava tão entretida com os caramelos que o meu pai me dava que nunca reparei nos belos dos rebuçados...
É tão engraçado quando um simples creiro nos traz memórias tão distantes :)
Também me lembro. Dos rebuçados e dos tostões!
Emiele, eu também não gosto. Mas a senhora cheirava tanto a rebuçado de meio tostão!... :)
Taralhoca, já não és. Ponto. :)))
Dantins, e a mim acontece-me imenso. Não sei se é normal mas a mim acontece.
Pois é Carlos, ambas as coisas faziam parte.
Lembro desses rebuçados e de uns idênticos, chamados de rebuçados vitória. Tinhamos que deixar secar o papel porque valia como um cromo para a colecção. Também lembro que o Bacalhau nunca saía.
Chegava a ter as cadernetas completas só faltando esse. Eram comprados à saída da escola, num quiosque daqueles lindos que existiam no Porto.
Nossa! Como fiquei saudosa a recordar esses momentos!
Os Vitória foram um verdadeiro mito da nossa cultura!
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