segunda-feira, 2 de março de 2009

A minha infância foi impregnada de pecado. Desde muito pequena, aprendi que o pecado era a fonte de todo o mal e me poderia levar, à mínima falha, a arder no inferno para sempre. Não aquele pecados grandes como matar ou roubar a que normalmente chamamos crimes. Eram antes pequenos gestos nos quais, duma forma insidiosa, Deus tinha incorporado fáceis deslizes só para se divertir connosco. Era mais ou menos como jogar um jogo que já sabíamos viciado contra nós.
Tocar com os dentes na hóstia sagrada era pecado. Brincar com as serpentinas a partir da quarta-feira de cinzas era pecado, mesmo que nos tivessem sobrado muitas e das nossas cores preferidas. Comer carne ou simplesmente pensar que nos apetecia um bife durante as sextas-feiras da quaresma era pecado. Ter um ataque de riso incontrolável durante a missa era pecado. Apanhar uma flor dum jardim alheio, mesmo que ela estivesse do lado de cá do muro, era pecado. Desobeder aos pais e aos professores era pecado... De cada vez que cometíamos um destes actos (e cometíamos muitas vezes pois o contrário seria impossível), passávamos noites de angústia solitária, pensando no que nos esperava um dia, quando morrêssemos e nos fosse negada a entrada no céu, martirizando-nos com a nossa própria imagem ardendo no fogo eterno e tentando inventar uma solução milagrosa para escapar ao castigo.
E depois havia ainda o tal pecado original, o cometido por Adão e Eva ao terem comido uma maçã duma espécie rara que eu não sabia qual era, mas não era com certeza as que cresciam nas árvores do quintal lá de casa, que essas eu sabia que não era pecado comer, nem cruas, nem assadas, nem em compotas ou bolos.

11 comentários:

Anónimo disse...

Eu estava conversando com a minha mãe, hoje, justamente isso. Se Deus nos fez à sua imagem e semelhança, das duas uma: ou ele é limitado, ou fez um homem criativo demais que adora inventar regras.

Castanha Pilada disse...

Ele é mas é um brincalhão!

Kruzes Kanhoto disse...

O mundo seria um lugar muito melhor sem essa coisa das religiões.

Monday disse...

lembrei de quando era pequeno e ia à casa de minha tia, que era uma mulher cheia das preocupações e de dizer que tudo era pecado ... rssss

mas o meu martírio quanto a arder no fogo do inferno nunca foi dos maiores ...

Taralhoca disse...

Na minha casa há o que é feio e o que é mau. O pecado já fica à consciência de cada um.
Salvo o riso na missa, que a esse passam logo os olhos da minha avó um bilhete a eitinho pró inferno.

saltapocinhas disse...

neste aspecto eu eatava do mesmo lado do muro que tu...

cereja disse...

Imagino bem.
Como já por aqui disse, esse mundo de religião passou-me ao lado. Lá em casa era tudo ateu ou agnóstico (nem sei classificar bem) há gerações... Só entrei numa igreja para o tal casamento onde perguntei se não se comia.

mfc disse...

Fizeste-me rir!
Na altura não dava para rir... era mesmo um terror!
As voltas que eu dava com a hóstia na boca para não tocar com ela nos dentes!

Acho que fiquei condenado para sempre...Eheheheheheh!!

Castanha Pilada disse...

Seria Kruzes, dizes bem.

Monday, o meu foi mas depois passou.

Lol Taralhoca, as avós são o máximo!

Saltapocinhas, era lixado não era?

Emiele, lá em casa o meu pai também era ateu mas não se metia nas convicções da minha mãe... por segurança.

Ficámos todos mfc...

Nós, Os Cachorros disse...

Sinceramente lhe digo: se os padres seguissem pelo menos 10% do que pregam eu juro que não teria largado o seminário e teria me tornado Padre!!!

Castanha Pilada disse...

Ora ainda bem que não seguem!