segunda-feira, 9 de março de 2009

No dia do exame da quarta-classe estreei um vestido novo. Azul com bolinhas brancas e debruado a vermelho nos folhos. Horrível. Embora na altura eu estivesse orgulhosíssima dentro dele, o que foi bom, por ter feito aumentar a minha auto-estima, tão necessária para aquela verdadeira provação por que todos tínhamos que passar aos dez anos de idade: Ter que provar perante um júri carrancudo que sabíamos de cor a tabuada, os reis de Portugal e as respectivas dinastias, os rios e seus afluentes, montanhas e respectivas alturas em metros, as províncias e as suas cidades e a agricultura mais praticada em cada região do país. Isso era, à primeira vista, coisa pouca, dados os pouco mais de 90.000 km2 do território. Qual quê? Havia ainda as colónias e suas populações mestiças e negras, mas tão patriotas, diziam-nos, como nós. Felizmente, na altura, já o Brasil fazia parte dos renegados e era apenas uma pequena menção dos territórios que tinham feito parte do grandioso império. Felizmente, porque se tivéssemos que saber a geografia daquela imensidão, nem mil anos a marrar nos livros nos safavam, comentávamos nós umas com as outras numa tentativa de ver o lado bom de tanto estudo inútil. De lá, e até porque as novelas ainda não tinham aportado do lado de cá, só sabíamos da existência de um rei duma única dinastia: O Roberto Carlos. Não podíamos era dizer isso à frente da professora. Não era patriótico.
O exame da quarta classe marcava também outra coisa por que todas ansiávamos, fosse qual fosse o nosso destino pré-reservado consoante a classe social: Para umas, a maioria, o fim da escola e das habituais tareias de régua e cana da índia. Para outras, o liceu, onde já não era permitido dar tareias aos alunos com régua nem cana da índia...

14 comentários:

Anónimo disse...

:)))))))
Isso me lembrou meu maiorzinho que adora geografia. Então, com 6 anos, sabia todos os Estados e suas capitais. Ele e um coleguinha. Então, ficavam disputando com a professora se ela sabia a ordem correta de cima para baixo e de baixo para cima de todos eles.
Enquanto a coisa é por prazer, vá lá. Mas quando se torna obrigação... Não tem professor que o convença a fazer tarefa escolar sem uma excelente justificativa.
Eu, acho que nessa idade, achava que o único rio que tinha direito a essa qualificação era o Amazonas. E ate'hoje não me conformo do Brasil não ser monárquico!Meu sonho era ser princesa! :))))))

kuka disse...

Acho que a menina está a esquecer qualquer coisa.
Ou será que nesse tempo já tinham acabado com os exames de admissão ao liceu?
No meu caso, fiz exame da quarta classe, exame de admissão ao liceu e exame de admissão à escola Industrial e Comercial.
Não fosse dar-se o caso de chumbar na admissão à escola tinha a hipótese de entrar no liceu.

VAP disse...

Oh Kuka, você esquece que é muito mais velho que aqui a castanha!

Castanha Pilada disse...

Senhora, és como eu! Toda eu sou monárquica! :)))

Kuka, no meu tempo já não havia exame de admissão, nem exames da quarta com distinção. Estava a chegar a tal da democracia e do "somos todos iguais". A única coisa que nos fizeram foi pôr-nos em fila em cuecas como na inspecção militar a ver se tínhamos piolhos e/ou qualquer outra coisa que nos pudesse impedir de entrar num sítio tão elitista como um liceu. (Boa história!...)

A Vap é que disse tudo! :)

cereja disse...

O meu vestido era aos quadradinhos cor de rosa e branco e muito lindo. Acho ainda hoje que era muito lindo :))

Kuka, o que se fazia (tem piada que ainda ontem estivemos a falar nisso com alguém que já não era desse tempo) era o exame de admissão. Porque era assim (para quem não saiba) Depois de se ter passado a 4ªa classe, não se podia voltar a fazê-la como é evidente. Portanto o que os pais faziam era mandar os meninos e meninas fazer a admissão. Se passassem, isso correspondia à 4ª e pronto, estavam no liceu. Se chumbassem o exame de admissão poderia voltar a frequentar a 4ª como se fossem repetentes. Não havia aquele problema de já terem a 4ª mas não poderem entrar no liceu o que deixava um ano vazio...

Monday disse...

e posso lhe assegurar que não eram somente você e colegas que temiam as proporções brasileiras ...

aliás, até hoje as pessos tropeçam na hora de mencionar certas capitais por aqui ...

saber da agricultura, então, nem pensar ... em todo caso, poderia se arriscar fácil: onde não tem cana de açúcar, tem soja ...

se não tiver nenhum, tem gado ...

e depois é rezar para ter chutado certo ...

Luís Maia disse...

Curiosidade minha no Brasil já não há ouro e diamantes ? conseguimos rapar tudo ou ainda ficou qualquer coisita ?

Não me diga que no seu tempo já não tinha que saber de cor as estações dos comboios de todas as linhas e ramais, incluindo o ramal de Serpins ?

Brasileiro pode sempre entreter-se a estudar a nossa monarquia, sempre foram 34 reis , embora eles possam ter desconto, porque o achamento (antigamente dizíamos descobrimento) foi por alturas do 14º rei logo têm à cabeça 13 reis de desconto e depois com o D.João VI o 24ºrei acabam os reis tugas .
Enfim um descanso, 13 reis de História comum e pouco mais de 300 anos não é nada,

Paula Baltazar Martins disse...

Eu tive a sorte de me safar do exame da 4.ª Classe, mas ainda levei umas boas réguadas.
Outros tempos...

Bjos

Anónimo disse...

Luis, ainda tem ouro e diamantes, sim. Mas, olha, foi por pouco! :) Fora isso, ainda tem outros minérios importantes para a economia do país.
Agora, ficar lembrando nome de reis... :)) Eu mal lembro dos presidentes da república - para falar a verdade, numa me esforcei para lembrar o nome de qualquer um deles.

Miepeee disse...

Ainda levei umas reguadas na escola orimaria, mas ja nao tive exame.

Castanha Pilada disse...

Emiele, o meu era horrível mesmo! :))) Mas não faz mal nenhum, na altura eu adorei! E obrigada por aqueles esclarecimentos, eu não sabia nada disso.

Lol Monday, isso é como aqui o trigo e o milho! Infelizmente, em algumas aldeias, os camponeses (inocentemente) já começaram a cultivar uns pés de cannabis, que nem sabem o que é, coitados!

Luís, claro que tinha que saber as linhas incluindo os apeadeiros, p... que os p... Aquilo era de chorar! E adorei essa contabilidade dos reis que os zucas têm de estudar, lol!

Dantins e Miepeee, já não foi mau! Já não foi mau! :)))

Senhora, está mal! Esquecer o nome de gente tão importante... está mal! :)))

Delírios de Maria disse...

UM HOMEM E A REALIDADE

Certamente já vivi uma vida de alegria contigo
homem compacto
deliberadamente estabelecido em aparências(...)
incitado porém reafirmado-(...)-,
certamente já vivi uma vida de alegria contigo.

Passos largos
rápidos
olhar firme
se transforma em moldura
com detalhes minuciosos

Modelo singular
sem qualquer risco
Sem demonstrar nenhuma vontade de indultar-me
ou a si mesmo(...)
Vai embora sem nenhuma citação
Sem saber se possui o bem da terra
movimentos juntados em seu corpo
são filtrados em si mesmo
em linhas silenciosas...sem sentimentos
reais.

Gi disse...

Eu também fiz um belíssimo exame da 4ª classe, com caneta de tinta permanente...foi lindo! ;)

Castanha Pilada disse...

Ya! Já me esquecia da tinta permanente, ficava tão bem!