segunda-feira, 23 de março de 2009

São um casal de ciganos. Morenos como só eles e com uma criança nos braços. As outras dez ainda não chegaram pois são mesmo muito jovens. Não obstante, ela exibe já uma barriga proeminente de parideira profissional.
Aproximam-se com aquele ar de quem vai puxar pelo nosso lado sentimental. Nós pomo-nos logo à defesa. Pensamos: - "Tudo o que eles disserem é mentira e o que não disserem também." - e preparamo-nos para o embate. Ela é que fala. Nos casais ciganos, apesar de tudo o que pensamos sobre eles, é sempre ela que fala. Penso que faz parte da estratégia de provocar comiseração. Quem não tem pena duma mãe miserável? Mas como ia dizendo, ela fala, com o semblante mais sombrio que consegue arranjar. Conseguimos até ver as sobrancelhas que descem pelas faces como numa Pietá.
- Oh minha senhora! Nós estamos sem casa para morar! Estamos na rua com o menino, ai! Vocês têm que nos dar uma casinha que a gente estamos na rua! Moremos todos na mesma casa e não pode ser, que é um grande sofrimento! As minhas cunhadas batem-me e não gostam de mim! A minha sogra bate-me! Pôs-me na rua hoje!...
Ele, silencioso, continua ausente como se não fizesse parte do filme. A funcionária explica que tem que fazer o pedido por escrito para que posteriormente uma assistente social vá verificar as suas condições de habitabilidade. Depois de muita relutância, ela convence-se a escrever. Ele nem se mexe. Ela começa a rabiscar coisas indecifráveis e pergunta:
- Como é que se escreve "sofrimento"?... Posso escrever "Não aguento viver neste sofrimento" não posso?
Acenamos que sim.
- Como é que se escreve "aguento"? Ai minha senhora, nós somos pobres e não temos assim muitos estudos.
Não têm assim muitos estudos deve querer dizer que fizeram o segundo ano do ensino básico e não desistiram logo no primeiro.
Finalmente, entregam-nos um papel ilelível, que nós traduzimos em informação anexa.
Vão embora.
Antes de sair, porém, ela lembra-se de algo importante. Vira-se para trás e informa-nos, muito convicta:
-Olhe que quando a senhora do social lá for, a minha sogra deve de dizer que sou eu que lhe bato a ela e às filhas! Mas é mentira!
-Está bem - anuímos já sem conseguir disfarçar um sorriso.
Ele hesita mais um pouco.
-Olhe! É melhor não irem lá! Elas que me liguem! E saca dum telemóvel topo de gama, melhor do que os nossos todos juntos, para que copiemos o número.

12 comentários:

kuka disse...

Quem seria o desgraçado que ficou sem telefone?

Anónimo disse...

Kuka... que maldade... :)

E eu quase dando a minha própria casa para a coitada! :)

Aqui os ciganos tem uma característica interessante - de um lado mostram-se pobres miseráveis, de outro, de uma riqueza notória, a começar com os dentes cobertos a ouro, depois os carros importados, as grandes mansões, grandes propriedades e... sempre o silêncio a respeito disso tudo.

E ainda as ciganas querem ler as nossas mãos. Eu adoraria ler as delas! :)

Anónimo disse...

Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo, não é?

Castanha Pilada disse...

Lol Kuka, sempre na mouche! :)))

Senhora, essa de ler as mãos é muito telenovela. As daqui não fazem isto, não aquelas com que me cruzo pelo menos.

Carlos, mas ai de quem experimentasse dizer qualquer coisa na hora!

Anónimo disse...

Aí pode ser telenovela, mas aqui é real, mesmo! :) Elas te cercam e querem ler as mãos (as delas não dá, porque estão sujas). É meio amedrontador. E aquele sorriso sorriso dourado... Uff!

cereja disse...

Olha Castanha, aqui as do meu bairro (as mais velhas) também querem ler as mãos. E vêm atrás de mim a dizer que só de olhar vêem logo que eu sou 'muito invejada' e há quem me queira muito mal por inveja...

Claro que o «encenador» desse teatro cigano esquece-se de olhar para os acessórios. O queixume não joga com as jóias, os telemóveis, e os carros onde se deslocam. Na minha zona também.

Outra coisa que me deixa de boca aberta (e aí nem são só ciganos) é a convicção de que o Governo, autarquias, seja quem for, tem de DAR casas. Mas por alma de quem?... Tenho visto reportagens de pessoas que vivem em locais a cair e não saem dali à espera que lhes «dêem» uma casa.

Nós, Os Cachorros disse...

que situação...
ninguém merece esse povo...

Gi disse...

Saca dum automével?!!!! Ahahahahaha!
A ciganada dá-te cabo do juízo :D

Factor X disse...

:) Ahahahah hilariante!
Pelo menos essa sacou do telemóvel, a última com quem contactei sacou mas foi do corta unhas...isto em plena viagem de comboio...

Erica de Paula disse...

Esses Ciganos....

Bjo!

Miepeee disse...

Toma la para aprender... ciganada do caracas. Nao gosto nada deles.

Castanha Pilada disse...

Senhora, medo! Muito medo!

A sério Emiele? Eu só me lembro dessa cena quando andava no ciclo, elas agora só pedem casas e vendem cenas.

Nós os Cachorros, é assim...

Gi, nem sei se é a cigana se é o PDI. Ai meu deus!

FactorX, do corta-unhas para quê???

Erica, vão dando umas histórias...

Ufff Miepeee, isso é que é falar!