terça-feira, 31 de março de 2009

Domingo de manhã com sol. O primeiro desta primavera, tão bem vindo. Abri a janela que dá para o pátio e uma vizinha que eu não conheço porque não conheço nenhuma das centenas de pessoas que vivem ali, nos apartamentos, acompanhava o filho pequeno nas brincadeiras. Era uma criança com uns quatro anos de idade que se passeava em círculos monótonos numa mini-scooter daquelas movidas a bateria que os avós compram às crias dos filhos no Natal. O barulho que fazia assemelhava-se ao de uma varinha mágica numa sopa densa. A mãe acompanhava-o sempre ao seu lado, a pé, olhando o rebento com enlevo.
Depois de algumas voltas a bateria acabou e a criança mostrou-se levemente irritada. A mãe explicou-lhe que "Agora o bebé está cansado e tem que ir para casa papar!". Ela pegou na scooter em peso e carregou-a de volta, dando a mão ao filho que choramingava.
Imaginei-o daqui a alguns anos, gordo, mimado e mal-educado, a ver televisão sentado no sofá.
Mas nós não temos culpa. Se há uns anos atrás, quando eu tinha aquela idade, éramos vários irmãos e partilhávamos um triciclo que fazíamos andar a força de pernas, agora um filho é uma coisa única e preciosa, que se cria à custa de muito sacrifício. Não sacrifícios materiais como antes, mas sacrifícios de viagens entre a creche, o jardim de infância, os ATL's e as actividades extra-curriculares, sem tempo para parar nem para ficar em casa a brincar enquanto a mãe faz compotas e crochet.

7 comentários:

Anónimo disse...

A mais pura verdade. Eu tenho dois que tem todos os brinquedos que querem porque tios e avós dão. Atualmente estão aprendendo a andar de ônibus em São Paulo sozinhos, almoçar em restaurantes, praticar seus esportes favoritos - sempre sozinhos. Só vem para casa quando não tem nada mais a fazer. Ficar em casa está ficando chato... E eu estou a levar susto quando vejo a roupa encolher de repente.
Bons tempos em que eu andava de bicicleta na rua e me esfolava toda quando pulava da árvore...:))

cereja disse...

Excelente este teu post!
Não posso estar mais de acordo. Tenho dito e repetido de todas as formas e feitios.
........
Vou assinalá-lo porque ando a pensar em voltar a escrever umas coisitas sobre educação, e se calhar vou citá-lo todo ou quase todo. Porque a história é de uma clareza enorme. Como o caso que eu vejo muitas vezes dos meninos que nos transportes públicos ficam repimpados nos assentos que é suposto serem para as mães com eles ao colo. A mãe fica em pé e a 'excelência' de pés a abanar sentada no assento!

cereja disse...

Só mais uma coisa engraçada. Voltei a reler o teu post e pensei como a gente tem ideias feitas sobre tanta coisa. Por aquilo que imagino, creio que vives na província. Pelo menos numa terra que não é nem Lisboa, nem Porto, nem Coimbra. E a ideia que muita gente tem é que me Lisboa existem esses grandes aglomerados onde ninguém se conhece e no resto do país a vizinhança é 'familiar'. Aqui confirmo que é mesmo um estereotipo - eu conheço bem todos os meus vizinhos de um prédio de 3 andares! Ainda a semana passada contei que tinha ido ao funeral da vizinha de baixo, já fui ao casamento da filha da porteira, e sei o nome e profissão de toda a gente. Aliás os dos prédios do lado também são conhecidos...
Uma vez a vizinha da frente veio bater-me à porta porque eu tinha deixado a janela do carro aberta.
E é Lisboa!

Taralhoca disse...

Quando entrei para a escola primária a minha mãe foi levar-me a pé os 3 primeiros dias. Daí em diante foi o desenrasca-te.
Sabia que rebuçados era só aos Domingos e recusava os que me ofereciam noutros dias.
Não era não. Ou isso, ou uma nalgada bem dada.
Será que a paternidade deseduca os pais de hoje?

Anónimo disse...

Bem verdade.Quando o amor se concentra num só filho, por vezes há tendência para que a criança se torne egoísta e incapaz de partilhar.
a geração do filho único não será certamente muito solidária e isso assusta...

Castanha Pilada disse...

Senhora, é bom eles andarem a aprender a fazer as coisas sozinhos. Nós é que nos assustamos com isso, não é só com a roupa a encolher.

Emiele, é a geração tirana. Os pais são a geração fiambre. Quer dizer, ficam no meio como nas sandes. Levaram porrada dos pais e agora levam dos filhos.
Quanto a essa das ideias feitas, claro que eu estava a mentir! Aqui na minha cidade (mais propriamente no meu bairro) conhecemo-nos todos. Temos um rancho folclórico, usamos tamancas e deixamos crescer o bigode! :)))

Taralhoca, e tanto quanto sei, ao pé de mim és uma pita. Isto tem vindo a degradar-se depressa, tem tem.

A geração do filho único é capaz de ser o princípio de qualquer coisa esquisita Carlos. Lá isso é.

saltapocinhas disse...

sem tirar nem pôr!