domingo, 1 de março de 2009

Eu era adolescente e estava ali sozinha, com a minha filha de quatro meses (como se fosse o meu Nenuco mas com uma virose real) e com o médico pediatra mais respeitado da cidade e da nata da mesma.
Ali estava eu, com a minha filha de quatro meses deitada numa marquesa, à espera que aquele homem mais velho e sabedor me salvasse da minha desorientação com um antibiótico milagroso e com uma palavra de sossego. Precisava que ele me dissesse com toda a certeza que aquela coisa viva deitada na marquesa e pela qual eu já tinha passado mais temores, angústias e dores físicas do que a maior parte dos mortais passa durante a vida inteira, não ia morrer nem nada disso.
Não sei se naquele momento era eu a mais frágil ou a minha filha de quatro meses. Acho que era eu.
Para minha surpresa, o respeitado doutor, em vez de perguntar pela febre, pelos vómitos, pelos choros da criança, perguntou-me a mim pela minha precocidade sexual. Perguntou-me, com aquele sorriso que fazem os homens quando metem nojo, se eu era "fresquinha". Quantas pilas já tinham passado por mim e se não me importava que passasse mais uma.
Eu, olhava para a minha filha de quatro meses, nua como o menino Jesus e deitada na marquesa e não sabia o que me estava a acontecer. Não disse nada. Pensei apenas: - Por favor, não me faça isto! - e esperei pelo xarope milagroso.
Ainda com aquele riso imbecil por toda a cara, o médico sentou-se para escrever qualquer coisa num papel que me entregou. Arranquei-lho da mão, vesti a minha filha, sempre em silêncio e vim embora depois de pagar à empregada velha que estava sentada numa secretária velha à porta do consultório a fazer tricot.
Contei à minha mãe o que tinha acontecido. Ela disse-me que não podia ser, que eu tinha percebido mal. Que o Dr. ***** ******, médico respeitado e que já tinha tratado de mim e de todos os meus irmãos, não seria capaz disso. Que eu tivesse juízo.
Depois, contei ao pai da minha filha, adolescente como eu, que me disse que eu era uma doida, sempre tinha sido e havia de continuar a ser, que até o pediatra fui provocar. Insultou-me ainda com mais algumas palavras que não repito aqui.
Nunca mais contei a ninguém. Estou a contar-vos agora a vocês.
O Dr. ***** ****** morreu há algus anos, de velhice e em paz. Não tive pena.

9 comentários:

Anónimo disse...

Até eu estou pasma. De quantas mãezinhas apavoradas ele não se aproveitou? Quantas não ficaram caladas por serem tão "loucas" como você?
É... Tem certas pessoas que não dá nem para chorar na hora que partem.

Gi disse...

Irra!
Sei que estes casos existem, mas nunca me tinha "tocado" assim de perto.

Anónimo disse...

Contaram-me há uns dias uma história de um médico também com jeitos de mete nojo. Mas este por ser um pediatra ainda me enojou mais com a atitude.

Paula Baltazar Martins disse...

Isso é um verdadeiro filme de terror. O que me choca ainda mais é ninguém acreditar na história.
Estou pasmada.

Castanha Pilada disse...

Senhora, não sei. Mas na verdade, na altura, cheguei a pensar que o defeito devia ser meu.

Lol Gi, nem a mim tinha!

Poppie, pediatra, de facto, mete mais nojo.

Dantins, cheira-me que é mais comum do que se pensa ninguém acreditar nas histórias.

cereja disse...

Uma história sinistra, de facto.
Por se ter passado e por não teres sentido apoio.
Que horror!

Castanha Pilada disse...

Foi mauzito...

Nós, Os Cachorros disse...

Que coisa passate minha amiga!!!
Realmente as pessoas nos tempos antigos costumavam confiar mais nos de fora do que dos dentro de casa...
Fico feliz por os tempos de hoje serem diferentes e grande parte das pessoas terem uma mente mais aberta...

Castanha Pilada disse...

Só há pouco tempo as pessoas tomaram consciência de determinadas coisas...