A cena do costume: O candidato, centro das atenções, os moços de fretes com as bandeiras, a música, os distribuidores de panfletos inúteis e as equipas de reportagem dos vários canais. Neste caso, gostei particularmente de ver que à maralha se juntou o "emplastro" aqui da cidade: um homem alucinado que costuma fazer discursos nos semáforos a meio da avenida principal. Ele estava tão feliz, a sua voz sobrepunha-se de tal modo à acção de campanha, e as coisas que dizia faziam tanto sentido como as do candidato, este ou qualquer outro. "Pela nova ponte! Por uma ponte que não caia ao chão quando o céu se abrir em pedaços azuis! Pelo ministro que jurou vingança e matou a mãe! Pelo chão cravado de rosas e veludo!" e outras coisas de teor idêntico, era o que ele defendia mas com muito mais fervor do que os políticos mesmo ao lado. Fiquei a observar um pouco, antes de seguir o meu caminho. Ninguém o expulsou, alguns olhavam-no de lado e sorriam desconcertados. Ele teve, com toda a certeza, o seu dia.
No jornal da noite, fui ver as reportagens sobre o assunto. O louco dos semáforos, que na prática tinha conseguido apagar a acção de campanha ou pelo menos reduzi-la a um desfile de misérias, tinha desaparecido.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
6 comentários:
Ora bem, "o louco" não convinha aparecer, ele iria roubar o protagonismo ao candidato e aos outros de "aparência normal", com a sua verdade despida de "máscara" e carregada de emoção e que paradoxalmente revela lucidez e sabedoria!
Tenho muito carinho e respeito por "esses" loucos.
É que o«tempo de antena» é sempre curto para os desejos e se, ficava ocupado por esse fantástico discurso, lá se ia à viola. Mas todos nós imaginamos que se passassem essa parte em lugar da correcta, o noticiário tinha ficado muito mais atraente. São uns parvos, os jornalistas. Até por aquilo que dizes era um discurso bem imaginativo, com certeza bem mais do que o de qualquer outro candidato.
Mariquinhas, é que vistas bem as coisas, foi preciso algum trabalho de edição da reprtagem, certamente, para fazer o louco sair de cena. Para quê?
Porque é o que diz q Emiele, aquilo ficaria bem mais giro e animado!
Não tenho a certeza se compreendi a sua resposta/observação; a Castanha ao sublinhar o que a Emiéle disse, "Aquilo ficaria bem mais giro e animado", como pista para o desaparecimento do louco, leva-me a pensar, das duas uma, o editor não quis "apagar a acção da campanha", como a Castanha refere no texto, ou quis proteger o louco de possível chacota (tese mais de acordo com o seu raciocínio quando põe em paralelo o que a Emiéle disse)e mais, tendo em vista o objectivo da campanha, tanto o seu argumento (que eu subentendi do seu texto) como o meu são válidos e já cá estavam.
Tudo isso porque, sou uma chata e
não descanso enquanto não clarifico uma idéia, haja pachorra!
Bom fim-de-semana!
O que eu quis dizer foi apenas que, se tivessem mostrado o que realemnete aconteceu, a reportagem tinha sido mais interessante. Porque as campanhas são todas a mesma treta, já ninguém aguenta.
Afinal, o óbvio e que eu concordo.
Sabe Castanha, penso que já deu para notar, eu reconheço em si uma desenvoltura de pensamento e um talento na sua narrativa que, querendo acompanhá-la (num exercício de tentar decifrar o subtexto), só complico.
( trabalho para realizadores de televisão/cinema e argumentistas)
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