quarta-feira, 13 de maio de 2009

Como ainda não havia blogues nesse tempo eu arranjei maneira de me meter em sarilhos na mesma. Juntei-me a uma colega tão desastrada como eu e fundámos uma revista com distribuição gratuita no liceu. Quer dizer, não era bem uma revista, era mais aquilo que mais tarde se veio a apelidar de fanzine quando se decidiu que duas folhas A4 fotocopiadas, dobradas ao meio e agrafadas era uma coisa muito underground e muito à frente. Infelizmente ainda não estávamos nesse tempo. E assim vivemos nós o nosso momento de fama, ainda que circunscrita aos muros do liceu, durante os três primeiros números da ... (é verdade que não me lembro do nome que demos àquilo).
Um belo dia porém, e como já era de esperar, a contínua mais ranhosa e odiada pela miudagem apanhou-nos o original, já prontinho para ir à copiadora. Orgulhosa que estava, a cabra, agitou a presa em frente do nosso nariz e jurou a pés juntos, a sonsa lambe-botas:
-Eu vou fazer queixa!!!
E foi. E logo o número em que íamos publicar a caricatura da professora de francês a contorcer-se de prisão de ventre sentada na sanita e com um balão de banda desenhada indicando que sabia dizer todos os palavrões na língua de Asterix! Oh merde!
O assunto foi logo a conselho directivo e foi considerado gravíssimo. Não sei porquê, acho que naqueles anos a seguir à revolução ninguém tinha sentido de humor nenhum. A professora de francês, então, quando viu aquilo demonstrou ter tanto como um bengaleiro! Foi convocada uma reunião geral de encarregados de educação para discutir os métodos modernos de educação dos rebentos e eu vi, literalmente, a minha vida a andar para trás. Se havia coisinha para a qual os meus progenitores se estavam a cagar era para as teorias modernas de educação. Assim que lhes dissessem que a filhinha tinha andado a distribuir desenhos indecentes a minha folha estaria feita. Para minha sorte, tinha mãos pequeninas que cabiam na caixa do correio, que o meu pai só abria ao fim da tarde. Apanhei a convocatória nas calmas, que queimei depois numa espécie de ritual satânico de vingança.
No dia a seguir à reunião soube pelos meus colegas, que por sua vez tinham sabido através dos pais que lá tinham estado, que ninguém tinha percebido muito bem o que se passava e que se tinha dito que os pais mais interessados em estar ali (os meus) eram negligentes, e daí o comportamento da filha estar totalmente explicado.
A professora de francês perguntou-me:
- Porque é que os teus pais não vieram ontem à reunião?
E eu, com o arzinho mais sonso deste mundo:
- Oh Stôra, eles tiveram muita pena de não poder, mas o meu irmão está com escarlatina!...
Além de me livrar daquela, ainda tive a profe a deixar-me em paz a aula toda com medo de apanhar escarlatina. Toma!

5 comentários:

Anónimo disse...

E eu achando que meus meninos são terríveis! :))))

Adorei! :) (Mas não vou contar para eles)

beijinhos

cereja disse...

Mas, Senhora, não me parece grande maldade.
Legítima defesa...
De qualquer modo testemunho de uma época e uma educação onde os pais «estavam do lado» dos professores. Sem querer generalizar, mas hoje seria mais vulgar os pais de uma menina destas, fossem lá defender a liberdade criativa, e acusando que a filha estava a ser censurada.

Taralhoca disse...

A senhora D. Castanha Pilada já ponderou a hipótese de escrever um "Conta-me como foi" à sua moda? E levá-lo ao ecrã? Difícl apenas encontrar uma protagonista à altura ;)

Anónimo disse...

Emiele, eu já tive "probleminhas" com a grande capacidade criativa dos meus pimpolhos, :) O jeito foi acertar que ele fizesse exatamente o que a professora quisesse e, num blog, colocasse o que a cabeça dele imaginasse. Até que ficou legal! :) E todos ficaram felizes!!

Castanha Pilada disse...

Senhora, acho mesmo melhor não contar para eles. A minha filha só agora fica a saber porque lê isto. Mas já é maior...

Emiele, e não foi censura indecente?!

Taralhoca, o meu seria parecido com o outro. Mais coisa menos coisa.