Fui a uma festa de aldeia. Daquelas com palco para a música e barraquinhas de venda de bugigangas várias. Era uma daquelas festas tão genuínas, mas tão genuínas... pronto, eu vou dizer a verdade. Era uma daquelas festas tão parolas!... Pelo menos foi isso que eu pensei quando resolvi filmar as duas matronas que dançavam no largo agarradas uma à outra e as pus no YouTube. Deixei de o pensar quando recebi uma mensagem de agradecimento do filho duma delas, que dizia qualquer coisa como:
"Vivo fora de Portugal e costumo procurar no YouTube imagens da minha terra. Fiquei muito comovido quando vi que apanhaste a minha mãe a dançar na Festa do ****. Obrigada!"
Nesse momento, senti-me o ser mais merdoso de todo o planeta, com uma dose de culpa tão grande como quando fazia queixa dos meus irmãos em pequenina para me livrar de qualquer coisa. Tinha ali uma pessoa a agradecer-me por ter gozado com a mãe. Sinceramente, odiei-me.
Vacilei um pouco entre a opção "responder" e "não responder" e acabei por escolher a primeira, embora com o sentimento de estar a limpar as mãos à parede. Disse qualquer coisa sobre a alegria e a espontaneidade da festa e depois escondi a cara com as mãos.
É muito difícil continuar a ser cabra quando a pessoa à nossa frente passa a ser um indivíduo com identidade.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
11 comentários:
Por aqui se prova que há sempre maneiras diferentes de olhar para um mesmo acontecimento. Afinal a alegria que provocaste não foi a que pensavas.
Nada de remorsos! Afinal de contas todos se divertiram, as bailarinas, o "filho duma delas" e a Camerawoman! :) Adoro o teu blog de coração!
Pois é, mas,também são essas "lições" e "reflexões" que nos tornam pessoas melhores, digo eu...
Acho que se meu filho fosse o seu filho não seria tão parecido no comportamento! :))
Boa semana! :)
Também não precisa se fustigar assim tanto.
Essa coisas acontecem.
Bell, aí está uma maneira simpática de ver a história. Tenho que contar coisas destas mais vezes. :)
Sim Divagações, isso é verdade. Obrigada!
Mariquinhas, também acredito que sim.
Senhora, achas que o teu filho gostaria de te ver a dançar na Festa do ****? :)))
Eu sei Vap, mas não é bem pelo que fiz. É mais pela intenção com que o fiz...
É claro que o que «sentiste» foi o facto de o teres feito com uma determinada intenção, mas isso é um juízo pessoal. Existiu uma coisa objectiva que foi o filme, e depois tudo o resto são interpretações. Neste caso podemos dizer que correu muito bem, até.
Contudo, por vezes acontece o rigoroso oposto, pratica-se uma acção por bem, e é mal entendida, e apanhamos com uma grande censura quando a ideia era generosa.
E elas divertiram-se, isso afinal foi o mais importante...
Não! Ele me daria a maior bronca pelo "mico"!
Mas ele é capaz de fazer pegadinhas com outros. Depois, se o outro reage de outra forma, fica totalmente sem ação, principalmente se começa a chorar na frente dele. :)
Ele fez isso semana passada...
É verdade Emiele, às vezes acontece ao contrário. Nem sei o que será pior.
Senhora, no fundo ele é um sentimental.
Como costumo dizer, todas as notícias têm um lado B. Uma coisa muito esquecida no jornalismo, hoje em dia, mas que é essencial recordar, para percebermos melhor o mundo e vivermos melhor a vida.
Bela lição que, se não for abuso, lhe peço autorização para publicar num dos meus blogs. Posso?
Claro que sim Carlos! :)
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