sexta-feira, 8 de maio de 2009

Toquei a campainha. Lá de dentro ouvi -"Quem é?" - e respondi:
- Censos 91!
Com a campanha fortíssima que havia na altura bastava dizer isto para todos saberem do que se tratava.
- Ah sim, só um momento!
Aguardei à porta, de pastinha na mão. Logo de seguida comecei a ouvir barulhos que foram aumentando de volume. Às tantas, parecia que lá dentro havia uma pequena revolução ou talvez uma demolição. Comecei a ficar desconfiada. os ruídos aumentavam os decibéis e ficavam cada vez menos espaçados. Além de desconfiada comecei a ficar receosa e a considerar a hipótese de me pisgar dali bem depressinha e nunca mais voltar. Mas já nessa altura a minha veia de profissional honesta falava mais alto e, a medo, já uns cinco minutos depois de ter tocado a primeira vez, premi novamente o botão.
- Só um momento!!! - disse alguém lá dentro já impaciente, como se fosse normal tencionar abrir a porta a alguém e demorar dez minutos para o fazer.
Mesmo muito, muito intrigada, continuei a esperar.
- Não há-de ser nada - pensei - se eu desaparecer alguém me procurará aqui. Sabem qual é a minha zona de recenseamento...
Estava eu nestes pensamentos quando uma senhora duns sessenta anos me abriu a porta, com ar de quem tinha acabado de correr uma maratona debaixo de sol sufocante e à força de chicote. Depois de olhar para mim uns segundos, abriu-se num sorriso:
- Boa tarde - disse eu.
- Boa tarde menina! Entre, entre! Não esteja aqui à porta a escrever que não dá jeito nenhum!
Entrei. Sempre a olhar desconfiada para todo o lado a ver se descobria onde estavam os outros cadáveres. O cheiro lá dentro era estranho. Quando cheguei à sala, um simpático velhote que vim a saber depois, era o marido, arfava sentado na poltrona. Pensei que se estava a sentir mal.
- Os senhores precisam de alguma coisa? - perguntei feita estúpida.
- Não! - respondeu ela despachada - Mas é que sabe, nós nunca temos visitas nenhumas. Agora apareceu a menina... Não queríamos parecer mal! Por isso, antes de lhe abrir a porta, estivemos a dar um jeitinho à casa...

11 comentários:

Anónimo disse...

Tadinhos!
Eu já imaginando até uma guilhotina n meio da sala! :))

Mariquinhas disse...

Já não jantei, foi uma "barrigada" de risos...
Li a história à minha filha que achou imensa graça e acrescentou:- mãe esta cena é-me familiar...rs,rs:))

(Ao "familiar" referia-se "arrumar a sala à pressa para visitas inesperadas")

F Nando disse...

Quem já não teve uma situação assim?
Bjs

Castanha Pilada disse...

Senhora, eu já imaginava uma masmorra com cadáveres pendurados!

Lol Mariquinhas, ganda dieta! :)))

Pois Nando, quem já não teve?

snowgaze disse...

tão queridos :)

bell disse...

lol

Como os compreendo, quando tenho visitas é que me incomoda a desarrumação, como raramente as tenho, costumo estar bastante à vontade.

Castanha Pilada disse...

Snowgaze, uns amores!

bell, isoo é porque nunca viste o quarto das miúdas cá em casa!

mfc disse...

Não há nada como a simplicidade!
É sempre desarmante.

Castanha Pilada disse...

Às vezes...

Gi disse...

Percebi logo pelo que escreveste que era alguém a arrumar acasa. Afinal eram os Velhos dos Marretas. :)

Castanha Pilada disse...

Lol, tadinhos. Marretas?