terça-feira, 9 de junho de 2009

Os folares da páscoa lá em casa e de toda a família, eram feitos pela Tia Arminda. As mulheres compravam farinha e ovos e pagavam-lhe o trabalho. O dia de ir buscar os folares era sempre, se não um dia de festa que isso será um certo exagero, pelo menos um dia diferente. Para chegar à casa da Tia Arminda, que por ser parca de haveres e conforto era pouco visitada pela família do lado de lá da vida, era preciso estacionar, ir a pé por caminhos cobertos de erva daninha e entrar por uma portinha minúscula num muro mais ou menos branco que poucos indícios dava de se tratar da habitação de alguém. Essa portinha dava para um pátio que por sua vez era rodeado por galinheiros, coelheiras, currais e umas construções baixinhas, escuras e toscas a que ela chamava casa. Quando lá chegávamos, já a Tia Arminda tinha pilhas de folares pousados uns sobre os outros à espera dos donos, que depois cada um trazia numa cesta grande de vime.
Lembro-me de o meu pai comentar um dia que não comia daqueles folares por serem feitos com "pouca higiene" e de isso ter constituído um pequeno abalo na harmonia familiar. A minha mãe impertigou-se, com a honra ferida, e discursou durante muito tempo de dedo no ar em riste sobre os irrepreensíveis hábitos de limpeza que tinha adquirido durante a infância com a sua família, pobre mas honestíssima e imaculada. O meu pai, como sempre fazia quando perdia uma discussão pela persistência da parte contrária, abriu o jornal e começou a ler, e a partir desse dia, nunca mais falou na falta de higiene dos folares da Tia Arminda. Quanto a mim, tomei como infalíveis as declarações da minha mãe, que era para todos os efeitos o meu modelo em questões de cuidados com o lar, e continuei alegremente a comer os folares que, ainda por cima, me sabiam muitíssimo bem.
Hoje em dia, quando olho para trás e me recordo de tudo, acho que na verdade aquilo era o que se pode chamar "uma grande javardice". Mas que não me matou, não matou.

7 comentários:

Paula Raposo disse...

Não comi desses folares. Na cidade, nem me lembro se cheguei a comer folares em miúda. Beijos e bons feriados.

Mariquinhas disse...

Boas recordações (descreve tão bem o cenário), os meus filhos ainda apanharam essa tradição, quando iam de férias aos Açores e não esquecem!

Mas, ainda hoje comemos, na aldeia, uns queijinhos de cabra, que são uma delícia e a única preocupação que tenho é saber se o leite é pasteurizado ou não; quanto ao resto pouco me importa. Qualquer dia, pouca gente se lembrará como esses produtos eram feitos, pelo menos dessa forma tão genuína!
Castanha, sem ofensa, o seu pai foi um precursor da "ASAE"?!.

Castanha Pilada disse...

Paula, o que é a vida sem folares mulher??? Lol!

Mariquinhas, talvez, quem sabe a ASAE se tenha inspirado no meu pai, quem sabe? :)))

Pedro Aniceto disse...

...então engordaste?

Castanha Pilada disse...

És mau!!!

Anónimo disse...

Eu ainda descubro o que são os folares... :)
Mas, nojenta do jeito que eu era, duvido que comeria.:)

bjs

Castanha Pilada disse...

Folares são apenas uns bolos que se comem na páscoa e cuja receita varia de região para região. E eu acho que o nosso nojo também vai variando com a idade. :))