A Paula teve direito a fato de sevilhana no carnaval. Vermelho-vivo, às bolinhas brancas, cheio de folhos nas mangas e na saia, tudo rematado com o charme dum leque de plástico, duma mantilha de nylon e, oh sonho!..., duma maquilhagem a condizer, com baton encarnado e um sinal negro na bochecha. Fui para casa a correr passar a mensagem à minha mãe. Eu também queria ir de sevilhana como a Paula!
- Tu não vais. - respondeu-me ela - Isso é vulgar e ordinário e impróprio para miúdas da vossa idade.
Eu ainda ia perguntar qual era a idade própria para ir de sevilhana, mas a prudência recomendou-me que não o fizesse. Há que não esquecer que, naquele tempo, ser espanhola significava ser mulher de mau porte e uma ameaça para as lusas esposas. A minha mãe estava mesmo a sério.
Ficou decidido que eu iria de camponesa da Beira Baixa, de saia rodada, blusa de chita, um lenço enfiado na cabeça, um avental e uma espécie de saca do pão na mão. E no dia em que fomos ambas à costureira fazer a prova final, lado a lado, a Paula deslumbrante no seu vestido cheio de salero e eu com ar de quem ia dar de comer às vacas, quando olhei para ela e vi disparar dos seus olhos um raio de gozo pela minha triste figura, jurei que, nem que levasse cem anos, havia de me vingar. Como eu odiei a Paula nesse dia meu Deus!
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
8 comentários:
Fizeste-me recuar muitos anos...eu mascarei-me uma vez de japonesa (com um cabeleira linda de lã feita pela minha avó) e uma maquilhagem que deu direito a ter os olhos em bico! Não muito vulgar na altura, olhos verdes e em bico.
De outra vez foi de holandesa...de socas e tudo.
Não me lembro de mais. Detesto o Carnaval. Só isso.
Beijos.
Eu tanbém estava proibida de tal fantasias, devaneios próprios da idade;))
Mais tarde fiz ver aos meus pais
que aquelas atitudes só geravam inveja, eles já tinham reparado mas, a crítica social falava mais alto, mesmo assim surtiu efeito, as minhas irmâs mais novas é que lucraram com isso, que eu já não tirei partido, ironia no mínimo... LOL
E já cumpriste a ameaça... promessa?!?!?!...
Já te vestiste de Sevilhana em alguma circunstância?!?!?!...
Devias!...
Nós lá em casa não nos mascarávamos. Quando muito um lençol para assustar a quem nos abrisse a porta à noite...
Beijinho Castanha.
Eheh, eu fui todo orgulhoso de pirata, com pouco mais do que um lenço na cabeça e uma espadit de faz-de-conta. :)
Castanho, dá uma olhada aqui, p.f.
http://o-gato-do-castelo.blogspot.com/2009/08/eu-dou-cartao-vermelho.html
R.
Paula, o meu ano de glória foi quando fui de princesa. Com anquinhas e tudo! Um delírio! Eu adorava simplesmente o canaval!
Mariquinhas, é sempre assim. Os mais novos é que tiram partido das árduas lutas dos mais velhos. Que se há-de fazer?
Não Maria, nunca cheguei a vestir-me de sevilhana. E acho que agora dava um bocado nas vistas...
R, pouco mais que um lenço na cabeça? Essa sim foi ousada, lol!
Inacreditavelmente, todos os carnavais nós viajávamos. Isso, até bem pouco tempo, antes de me casar. Aliás, minha última viagem de carnaval foi justamente para Portugal. :)
E até meus seis anos diziam que se eu colocasse uma pena na cabeça já estaria fantasiada. :)
Olá Castanha Pilada!!!
Posso finalmente ler-te e deixar aqui os meus testemunhos, e é interessante relembrar um tempo em que os fatos de Carnaval não eram comprados feitos!
Como estamos aqui a falar das nossas experiências, gostei de quase todas as fatiotas ( e como dizes e quem por aqui passa também) havia nessa altura o costume de nos vestirmos com fatos regionais, que creio passou completamente de moda. O meu primeiro, era muito pequenina, foi de minhota, que é muito garrido, com aqueles bordados todos, os lenços, aventais, xailes. O que mais me enlevou foi de fada, e foi uma surpresa porque foi feito às escondidas. E o mais desconsolado foi de dama-antiga, porque o que eu queria era de saia de balão de cetim e toda cheia de brilhantes e os meus pais arranjaram uma saia comprida mas sem balão nenhum, e escura, e o fato era todos muito discreto. Até não era feio, mas nada do que eu tinha sonhado...
De «espanhola» nunca me lembrei, mas era bonito «holandesa» com a toca engomada. Também nunca aconteceu.
Que saudades.
Senhora, aqui o carnaval nunca caiu com tanta força em cima da gente como aí. Eu cá gostava. A potes!
Emiele, já todas gramámos fatos regionais, é a conclusão a que se chega. Menos mal que nunca fui de minhota, odiava aquelas cenas penduradas ao pescoço.
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