domingo, 20 de setembro de 2009

Foi na festa de anos duma amiga, quando eu tinha dez anos. Lembro-me bem que tive que chorar baba e ranho para que os meus pais me deixassem ir ao aniversário duma miúda que não conheciam e nem sabiam se era de boas ou más famílias e que morava no fim do mundo. Depois de irmos até à última paragem do autocarro ainda tínhamos que andar dois quilómetros a pé para chegar à casa dela, o fim!... Foi a minha primeira grande aventura longe da supervisão paterna.
Quando chegámos a casa da Celeste, vimos que não havia lanche, nem bolo de anos, nem balões coloridos, nem nada! Só uma pequena mesinha redonda com um prato de tremoços e uma jarra de sumo verde que não sabia a nada.
- Despachem-se, - disse-nos ela - roubei cigarros ao meu pai, vamos para o milho.
- Para o milho?! - perguntei - Fazer o quê?!
- És mesmo estúpida! Anda embora!
A Celeste era uma miúda loira muito sardenta, filha duma família de agricultores. Tinha uns olhos azuis e redondos muito inocentes que lhe davam imenso jeito e, tanto quanto vim a saber mais tarde, continuaram a dar-lhe imenso jeito pela vida fora.
Mas continuando, segui-as pelo campo até ao milho, que era a planta mais alta e que melhor nos camuflava, onde nos embrenhámos até uma mini-clareira no meio que tinha sido previamente aberta, estrategicamente, pela nossa anfitriã. Aí, sentámo-nos no chão e ela começou a distribuir cigarros daqueles sem filtro e fez circular uma caixa de fósforos. Eu estava aterrorizada:
- A minha mãe não me deixa fazer isto!
- Pois, nem as nossas! - responderam-me - Por isso é que viemos para aqui.
Acabei por fumar (se é que se pode chamar isso a tossir vezes sem conta) uma coisa daquelas. Com apenas alguns tremoços e um copo de corante verde no estômago, sentia-me zonza e prestes a levantar voo por cima do cereal. A sensação que tinha era a de que estava a fazer uma coisa terrível, como atropelar um cãozinho com a bicicleta. Fumar, para os meus pais, era uma coisa tão pecaminosa como o sexo, coisa que viria mais tarde a provocar-me a mesma sensação de estar a ser uma criminosa sem perdão. Mas isso foi mais tarde...

8 comentários:

Paula Raposo disse...

Pois. Eu não me senti tão pecaminosa assim!! E sendo Mãe aos 17 anos ainda menos me senti...beijos.

Anónimo disse...

A Celeste com os olhos azuis lembrou-me o gato do Shrek. :)

saltapocinhas disse...

Eu deixei de fumar aos 15...

mfc disse...

ohhh... o pecado!
Era um cão raivoso que nos perseguia... até nos sonhos!

cereja disse...

Quem não experimentou um cigarro ainda "de tenra idade"?!...
Mas a tua história é um tanto assustadora. Assim, acho que servia de vacina contra o hábito de fumar!

mariabesuga disse...

Pois por tanto nos assustarem com "o pecado", o original e ainda por cima todos eram originais, é que fazíamos tudo aos bocados e tarde nos conseguíamos juntar inteiros para gozar os reais prazeres da vida...

Bjbj Castanha

Mariquinhas disse...

Na tua história anterior eu disse que tinha começado a fumar tarde, mas, referia-me fumar a sério, isto é, a ser viciada.
Porque dessas escapadelas, tive-as com os meus irmãos rapazes os dois mais velhos e amigos - vivíamos em frente ao Jardim António Borges - o jardim botânico da cidade, acho que posso chama-lo assim - tem toda a espécie de planta e algumas muito exóticas. O parque é lindíssimo, com grutas, árvores centenárias de raízes enormes, à vista, enfim... um mundo para as nossas aventuras de criança, então o que nós fumavamos era uma espécie de cigarrilha que, caía duma árvore penso que era das criptomérias (cá há muitas), aquilo era só estilo - difícil era manter-se acesa:))

Castanha Pilada disse...

Paula, eu sentia-me horrível de cada vez que prevaricava. Mas prevaricava sempre.

Senhora, nem mais! :)))

Saltapocinhas, comparada comigo já eras velha!

mfc, ainda persegue, não?

Emiele, mas eu ainda reincidi.

Perfeito mariabesuga.

Lol Mariquinhas, ai o estilo!