segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A mulher gorda, de cabelo muito oleoso escorrido e a cara escondida atrás duma plantação de borbulhas purulentas entrou, tirou tiquet e sentou-se à espera de vez. Apesar da alta temperatura que fazia, ela vinha de botas com atacadores por cima dumas peúgas de homem e uma gabardine bege que a fazia parecer imensa. Notámos que os restantes utentes, embora discretamente, começavam a olhar e a comentar a singular figura. Alguns minutos depois, indiferente a tudo, ela abriu a carteira de plástico preto e, com os seus óculos fundo de garrafa, aproximou-a do rosto e perscrutou o seu interior em busca dum lenço de pano sebento que tirou para fora e desdobrou, exibindo perante todos os restos de matérias viscosas secas de dias anteriores. Então, calmamente e com ambas as mãos, posicionou o lenço como se fosse uma rede de circo e começou a puxar a expectoração mais profunda, com um ruído que fazia lembrar uma batedeira a trabalhar em velocidade máxima numa massa líquida. No outro lado da sala, uma rapariga jovem levou instintivamente a mão à boca para evitar um vómito iminente e fugiu a correr para a casa de banho. Os outros viravam a cara com uma expressão de nojo. Nós sentíamo-nos como jogadores de roleta russa, sabendo que aquela bala iria fatalmente disparar para um. Qual seria?
Depois da operação de desentupimento, a mulher voltou a guardar o lenço na carteira e tirou, desta vez, um pequeno maço de notas que correspondia ao valor da taxa que vinha pagar nos nossos serviços. Logo a seguir, com o indicador direito em riste, começou a explorar o interior das narinas. Quando tirou o dedo, notámos que trazia uma pequena matéria esverdeada e elástica que ela examinou e colou numa das notas com um movimento de fricção que repetiu duas ou três vezes. A essa altura, já cada um de nós considerava mentalmente a hipótese de se atirar para o chão e simular um enfarte repentino só para não ter que a atender.
Finalmente, ao toque dum número, ela levantou-se e dirigiu-se à mesa dois. Pobre E*****! Tinha-lhe calhado o brinde! Pobre E*****!
No fim do atendimento, deixei-a ir lá fora fumar um cigarro e dar uma volta para espairecer. Ela merecia!

17 comentários:

Paula Raposo disse...

Com esta descrição dos acontecimentos só dá para ficar agoniado! Livra! Beijinhos.

Castanha Pilada disse...

Lol! Nós ficámos!

Anónimo disse...

Deus do Céu!!! Eu já estava arrepiada do lado de cá! Esta saiu das profundezas do pior filme de terror!

Mariquinhas disse...

Qual personagem de "Feios Porcos e Maus" a realidade. muitas vezes. suplanta a fixão.

Anónimo disse...

Tão boa moça!! Deixou a E***** ir fumar uma cigarrada depois de semelhante privação :D

Gi disse...

No Dia de Reis fazes favor de dar à E***** (isto não é uma password) um Bolo-Rei cheio de brindes e não de favas! ;)

Taralhoca disse...

Credo!! O meu pequeno almoço acabou de dar três voltas ao estômago e informa-me que está agoniado.

Mariquinhas disse...

Fiquei tão transtornada que escrevi ficção com x...desculpas:))

PreDatado disse...

Pobre coleguinha. (Este blog também é bom pela musica)

mfc disse...

Tétrico... não tenho outra palavra para usar!

Castanha Pilada disse...

Senhora, então imagina quem viu! Lol!

Mariquinhas, esse é um dos meus filmes preferidos. Mas sempre preferi ver essas cenas só no ecran!

Divagações, então e não sou porreira? Trabalho é trabalho! O que é que havia de fazer? Dar-lhe 15 dias de férias pagas em Cancun?

Gi, desta vez foi a ela, na próxima calha a outro!

Lol Taralhoca! O meu informou a mesma coisa naquele dia!

Obrigada Predatado, e já estou a esgotar as hipóteses de música. Há sugestões?

mfc, que tal nojento?

Mariquinhas disse...

Também gosto muito do filme e, agora que estão a dormir e que ninguém nos ouve,tem muito a ver connosco;))

cereja disse...

E que tal usarem luvas, nesse caso ostensivamente?! Como os técnicos dos CSI.
:)

Lumitoca disse...

mega lol... e cumprimentar estes clientes de aperto de mão hãã??

Castanha Pilada disse...

Mariquinhas, claro que tem. Nós e os italianos é tudo farinha do mesmo saco!

Emiele, grande ideia!

Lumitoca, olha a minha tensão arterial!!!

Fantasia Musical disse...

Incrível a forma como escreve! Já pensou em escrever um livro? Se o fizer, avise. Correrei logo a uma livraria :D

Castanha Pilada disse...

Lol! Livros são coisas com muitas páginas!