(continuação)
Na mesa ao lado um casal conversa baixinho, mais do que nós. Tão baixinho que não dá para distinguir a língua em que falam. Andaram às compras e têm duas mesas ocupadas com sacos vários. Uma mulher aproxima-se a pedir uma cadeira: - "Está alguien sentado ahi?" - pergunta apontando. "No." - é a resposta que obtém, com ar enjoado, da rapariga que nem se mexe para tirar os sacos, como quem diz: - "És mesmo estúpida! Não vês que isto não é alguém, são sacos?". Fazemos apostas, são portugueses! Só um português é capaz deste exercício de sarcasmo, nunca um espanhol. Para um espanhol uma cadeira é uma cadeira, ou se pode tirar ou não se pode. Um português diz em média metade daquilo que pretende dizer, o resto cabe ao receptor adivinhar. Disse-me uma vez alguém que para os espanhóis os portugueses e os galegos são tipos que quando estão numa escada, ninguém sabe se vão a subir ou a descer. Visto do outro lado, talvez seja. Lembrei-me disso ao ver esta cena. Apurámos o ouvido, muito atentos, a partir daí. Afinal não acertámos. Com muita dificuldade, conseguimos distinguir. Não são portugueses, são espanhóis. Surpresa! Excepções? Não! Como bons portugueses que somos, logo desenvolvemos uma teoria. Devem ser catalães, ou bascos. Nunca extremeños, muito menos andaluzes. Assunto resolvido com os espanhóis antipáticos da mesa ao lado.
(continua)
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
6 comentários:
Brasileiro também tem o hábito de perguntar, se numa cadeira evidentemente vazia, tem alguém sentado para poder pegá-la. Eu, normalmente olho para a cadeira, como se procurando um fantasma, e digo que "não, nõa tem ninguém". Mas no fim acaba tudo em piada e brincadeira. :)
Esta viagem está ótima!!
Mesmo assim, é sempre bom, digo eu - não perdermos de vista - "os nossos" - defeitos e virtudes:))
(esta "série" está óptima)
Senhora, tens alma de portuguesa!!! Lol!
Mariquinhas, eu farto-me de dizer mal dos espanhóis. Mas antes disso digo mal dos portugueses, e antes disso tudo digo mal de mim. E no fim, gosto de todos. De mim também.
Castanha ao fim ao cabo acaba de dizer de forma clara. Eu servi-me sem jeito, de um "malabarismo de linguagem", pretendendo dizer que, ao reconheçer os "nossos" (sentido de pertença, não renegava a minha "identidade" (portuguesa), com os defeitos e virtudes - que eu também partilho...
Realmente ficou confuso e não sei se agora estará melhor:))
Eu costumo perguntar se 'precisa dela'...
Ainda há dias se passou uma cena com uma dessas cadeiras 'marcadas'. Eu e uma amiga, de bandejas na mão num desses restaurantes self-service, vemos uma mesa vazia. Já sentadas, vimos um saquinho, tamanho folha A5, numa cadeira. Nem nos ralámos. Já íamos a meio da refeição aparece uma dama toda bem posta, de tabuleiro, que nos diz «Essa mesa era minha!» «Sua como??!» «Deixei aqui um saco a marcar» «Oh minha senhora! Nem vimos o saco mas se víssemos era igual. Chegámos primeiro ao restaurante porque fomos servidas primeiro, logo sentamo-nos primeiro!»
Lá pegou no saquito e foi em busca de outro poiso.
Lol Mariquinhas, acho que percebi :)))
Emiele, essa do saquito foi de mestre. Deviam-lhe ter virado o tabuleiro por cima da cabeça, lol!
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