Uma das coisas que sempre tive dificuldade em entender nas lições de história foi a instauração da república. A professora contava-nos que um tipo chamado José Relvas tinha ido à varanda da Câmara Municipal de Lisboa em 1910 anunciar o fim da monarquia e o princípio da república. Até aqui tudo bem. Mas este episódio suscitava-me dúvidas muito mais profundas que nunca nenhum adulto me soube explicar de forma convincente:
- Quem mandou o José Relvas à varanda dizer aquilo?
- Porque é que uma coisa tão importante foi resolvida assim com uma pessoa a ir à varanda gritar?
- Quem estava cá em baixo para o ouvir?
- Como é que um país inteiro, cuja população estava esmagadoramente longe da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, se tornou republicano assim sem mais nem menos?
- As pessoas sabiam? Alguém lhes perguntou se queriam? Ou o José Relvas foi para a varanda dizer aquilo sem ninguém lhe ter encomendado o sermão?
- Porque é que a república passou a ser uma coisa boa de repente em 1910, se durante a escola toda eu tinha andado a aprender os feitos heróicos dos nossos reis? Afinal o que era bom e o que era mau?
- Porque é que o presidente da república era melhor do que os antigos reis, se na verdade ninguém gostava dele e toda a gente dizia mal mas só baixinho e dentro de casa para não ir para a cadeia?
Aquela história toda cheirava-me a esturro. E mais. Levava-me inevitavelmente a algumas perguntas mais pertinentes ainda:
- Basta uma pessoa sozinha ir à varanda da câmara gritar qualquer coisa para ela passar a ser verdade?
- Se eu conseguir subir à varanda da câmara da minha terra e gritar que todas as crianças passam a receber chocolates todos os dias e deixa de ser obrigatório ir à missa, isso torna-se verdade assim tão facilmente? Ou tem que ser um adulto a fazer isso?
Mas estava visto que os adultos só iam às varandas anunciar coisas que não tinham interesse nenhum, por isso nem valia a pena ir por aí.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
9 comentários:
Veja só... Aqui as proclamaçòes importantes eram feitas sobre um cavalo! (as más linguas dizem que era sobre um burro, que aguentava mais). Já hoje... bom, deixa prá lá que ia dizer asneira... :))
Lol! Mas esta não foi uma proclamação importante!
Olha, o Sr. Relvas pelos vistos não gritou suficientemente alto, ainda há crianças que vão ao Palácio de Belém para ver o rei. :)
Na boca das crianças está sempre a verdade!
Lol ainda não tinha visto a coisa assim...agora percebo melhor o "gesto" dos rapazes do "31 da Armada" - a bandeira foi só um pretexto - a varanda é que era...:))
Mas, se vier um rei que não seja o D. Duarte, ser simpático não chega,
para pior já basta assim:))
(fui eu que eliminei o comentário, saiu com a Maria - vou ter que resolver esta "esqizofrenia" eheh, mas, no teu blog acho mais graça à "mariquinhas")
O D. Duarte não é estúpido Mariquinhas. Mas para todos os efeitos convém que toda a gente ache que sim. E que não comece a questionar a república. E sim, já deu para ver. Ainda hoje eu sou monárquica.
Sorte de vocês que foi na varanda...
Aqui , na "nossa pátria amada, gentil...", foi proclamada do alto de um cavalo( é pelo menos o que conta a história e... as más línguas!)!
Diga-se de passagem, que a indepedência também! Aliás, ultimamente,continua assim; têm-se invertido , apenas a ordem dos fatores!!!
E questionaste o professor acerca disto? Hoje em dia bem gostaria eu de ter alunos que questionassem fosse o que fosse. A sério! É tão raro... Quando acontece, fico extremamente feliz. Nem calculas!
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