domingo, 7 de junho de 2009

Andava a fazer um mestrado daqueles só porque sim. O que recordo hoje é que aquela aula a seguir ao almoço devia ser o que de mais aproximado pode haver com o inferno em vida. O catedrático, um velhinho pequenino e careca com uma voz muito fininha, que devia achar que à teoria crítica bastava existir para ser o deleite de qualquer ser que respirasse, não se preocupava nem um décimo de milímetro em cativar a turma constituída por doze infelizes criaturas reunidas à sua volta numa salinha invulgarmente pequena e sem janela.
Num belo dia em que a temperatura do ar estava demasiado elevada e o tinto do almoço que tínhamos comido em conjunto numa tasca ali perto convidava particularmente ao sono, o velho mestre sentou-se na sua secretária com a maior das calmas como sempre fazia, abriu um livrinho de apontamentos como sempre fazia, pigarreou como sempre fazia e, sem tirar os olhos do plano inferior, abriu desta forma as hostilidades, com a sua vozinha de eunuco de porcelana:
- Hoje... vamos falar... de... Jurgen Habermas...
A aluna mesmo à sua frente, que sozinha tinha liquidado sem piedade uma garrafa de 0,75, com os olhos mais fechados do que abertos, exclamou com a voz em êxtase:
- Poderoso professor, PO-DE-RO-SO!!!
Sim, não foi nada de mais, apenas mais um daqueles pequenos momentos que recordaremos sempre. Mas tudo junto resultou num cocktail suficientemente forte para que toda a gente, com excepção do professor, se risse às gargalhadas durante um bom bocado, literalmente até às lágrimas e sem conseguir parar.

8 comentários:

Anónimo disse...

Sem dúvida, foi uma aula inesquecível, não? :))

beijinhos

Castanha Pilada disse...

Foi. Especial :)

cereja disse...

Imagino a cara do professor...
Até isso também daria para rir!

Paula Raposo disse...

Que aula magistral!!Beijos.

Castanha Pilada disse...

Emiele, quer acredites quer não, o professor permaneceu como se nada tivesse acontecido. Era um ser superior, o cabrão!

Castanha Pilada disse...

Paula, foi um daqueles momentos.

Mariquinhas disse...

Foi o cenário perfeito para um desfecho tão hilariante!

Presumo que, ao "poderoso" o professor manteve o seu ar displicente.

Jurgen Harmebas, dado por esse senhor, devia ser uma grande animação!!!!


(Só agora vi que já respondeu mas, já tinha escrito e assim segue)

Castanha Pilada disse...

Mais que uma animação, era... poderoso!!!