quinta-feira, 25 de junho de 2009

Aprender orações era a coisa que mais me custava. Não sei porquê. Logo eu, que era capaz de decorar rios, montanhas, capitais e caminhos de ferro, sabia de cor a lista de reis e as respectivas dinastias, a tabuada e tudo aquilo que de qualquer forma me podia poupar a uma sessão de reguadas! O Pai Nosso ainda lá foi, a Avé Maria também. Agora aquela coisa a que chamavam Salvé Rainha, nem com açúcar! Parece que havia um mecanismo na minha cabeça que, cada vez que eu tentava decorar aquilo dizia "Chega de palermice!" e bloqueava qualquer hipótese de êxito.
E foi com esta lacuna grave que eu cheguei à véspera da primeira comunhão. Azar!
Nesse dia fui-me confessar, era obrigatório. Para nos apresentarmos ao grande momento do ritual de passagem de alma pura, contávamos ao padre os grandes crimes que tínhamos cometido e que eram iguais para todas: Pensei mal das minhas amigas, desobedeci aos meus pais e faltei à missa por desleixo. Claro que, na prática, só a primeira era possível. Não nos pormos logo em sentido a uma ordem paterna, nesse tempo, era impensável, e faltarmos à missa, só se tivesse havido um cataclismo e o mundo estivesse a acabar. Mas era esta a lista oficial de pecados duma criança e nós não conhecíamos outra.
Quando chegou a minha vez, algo me dizia que aquilo ia correr mal. Certinho! Assim que acabei de enumerar os meus pecados e o padre acabou de me explicar como eu era uma menina má que precisava duma penitência pesada, já eu estava a fazer contas de cabeça a ver quanto tempo demoraria a chegar a casa para ver os desenhos animados, e eis que ele teve um assomo de clarividência:
- Olha lá! Antes de ires embora, reza aí a Salvé Rainha!

8 comentários:

cereja disse...

Não dava para ter uma cábula?
Assim um papelinho escondido no bolso?...

Paula Raposo disse...

Pois. Eu não fiz a comunhão e orações ainda não as sei. Beijos.

Taralhoca disse...

Salve rainha, mãe misericórdia, vida, doçura, esperança a nossa. Salvé. E daqui nunca passei, por muito que a minha tia avó e a minha ama se empenhassem... Compensava no Sinal da Cruz, em que era o modelo a seguir para o resto dos catequizandos...

Paula Baltazar Martins disse...

Esse padre tinha poderes de adivinhação :)

Ainda bem que eu nunca fui obrigada a saber essas coisas :P

Bom fds

Gi disse...

Salvé ... Rainha!

Mariquinhas disse...

Realmente, a Salve Rainha era uma cantilena demasiado longa e quase indizível para uma criança de 7 anos (a idade que eu tinha quando fiz a 1ªcomunhão). Mas havia outra coisa que a Taralhoca lembrou: o sinal da cruz persignar (como dizia o padre, palavra difícil e que me soava mal)eu tinha e ainda tenho o nariz arrebitado e quando chegava a altura da segunda cruz que devia ser feita junto da boca o dedo polegar batia no nariz e o sinal era sempre interrompido e era motivo de risota para os meus colegas, claro está que o padre não me perdoava...
Muito penei até chegar ao dia, tão desejado, de usar o belo vestido de “organza”!

Castanha Pilada disse...

Emiele, nem pensar! Ia direitinha para o inferno!

Paula, sortuda!

Taralhoca, estou impressionada, juro!

Dantins, era uma raposa aquele padre!

Salvé Gi!!!

Mariquinhas, eu dessa do sinal da cruz não tenho grandes recordações. Eu é mais a hóstia que não se podia tocar com os dentes e as serpentinas com que não se podia brincar na quarta-feira de cinzas.

Mariquinhas disse...

Pois, também havia essa!!!