sexta-feira, 12 de junho de 2009

Quando comecei a trabalhar, muito novinha ainda, tive vários contratos temporários em repartições públicas, na maior parte das vezes para substituir pessoal durante as férias. Foi a minha entrada no verdadeiro mundo dos adultos fora da família protectora e quase um ritual de passagem.
Lembro-me que uma das coisas que mais me custou aceitar foi o à vontade com que em grandes espaços cheios de mulheres mais velhas se discutia a vida sexual de cada uma e as taras específicas dos respectivos maridos, intercaladas com receitas de bolos e cores da moda. Quando as ouvia contar, a uma que o marido gostava que ela se fizesse de morta, a outra que a obrigava a vestir soutien para copular e ainda a outra que ele exigia que ela lhe chamasse corno e cabrão nos momentos de êxtase, pensava nos meus pais, da mesma idade e tão castos, tão puros, tão normais (eu tinha a certeza disso). Então, mentalmente, punha as mãos a tapar os ouvidos e gritava:
- Lá! Lá! Lá! Lá! Lá! Não estou a ouvir nada! Não estou a ouvir nada!!!

7 comentários:

Anónimo disse...

Como eu sequer pensava em pais nessas horas (com certeza eram assexuados), nunca tive problemas. Aliás, recorrer a minha mãe para me explicar direito o que era sexo oral me pareceu muito razoável. Até hoje me lembro quando ela parou lentamente de encerar a escada, sentar-se nela, pálida e perguntar: onde viu isso?
Daí tive que contar que era num livro pornô.
Maravilhosa e inocente adolescência! :)

bjs

Mariquinhas disse...

Atendendo ao contexto e ao conteúdo, "as conversas" no mínimo, eram surreais!

A propósito de, "pensava nos meus pais", lembro-me quando me foi revelado, pelas minhas colegas de escola (devia ter 10 anos), que os bebes não eram trazidos pela cegonha nem vinham de França, eu ter negado a pés juntos que não era verdade, pois, no meu pensamento, os meus pais seriam incapazes de fazer tal "coisa" (fruto de uma educação judaico-cristã sinistra).

Paula Raposo disse...

Mais uma delícia de história! Beijos.

kuka disse...

Mas que raio de sitio era esse onde a menina trabalhou?
Hummm... Não sabia que as senhoras tinham essas conversas!

Castanha Pilada disse...

Senhora, isso não devia ser bem bem um livro porno, porque se fosse ficavas a saber logo o que era sem perguntares à mãe.

Mariquinhas, também só descobri essa dura realidade por volta dessa idade. Mas depois afinquei-me a fundo por aprender depressa e recuperar o tempo perdido.

Obrigada Paula! :)

Mas têm Kuka, mas têm...

cereja disse...

De facto as conversas de mulheres costumam ser frescas. Mal sabem os homens... Cá por mim sempre pensei que eram bem mais atrevidas do que as deles.

(de resto essa coisa dos bebés, o saber como nasciam foi muitíssimo mais cedo, aí pelos 5 anos e porque perguntei directamente ao meu pai; estava numa de patriotismo e disse que achava mal que viessem de Paris, porque quer nascessem numa árvore quer se fizessem numa fábrica não via porque não podia ser em Portugal.
Lá tive a explicação, que o meu pai era formidável e não fugia às dificuldades.
Mas o que era preciso 'antes', essa coisa de como se punha a sementinha, realmente também tinha os meus 10 anos e foi num livro muito científico...)

Castanha Pilada disse...

Pois pois! É que essa parte do como é que a sementinha vai lá parar é sempre a mais complexa!