Quando eu tinha uns cinco anos, nasceu na vizinhança um bebé sem genitais, o que causou como é óbvio grande mágoa na família e consternação na pequena comunidade. Só eu não percebi porque motivo aquilo era considerado uma desgraça tão grande. E como não podia deixar de ser, interroguei a minha mãe:
- Mas não era pior ter nascido sem braços ou pernas?
- Não! Isto é muito mau, coitadinho!
- Mas porquê? Não lhe fizeram um furinho para ele fazer xixi como as meninas?
- Fizeram... mas é mau.
- Mas porquê???
- Porque... é.
- Sim, mas porquê???
E a minha mãe teve a ideia brilhante que a iria safar do entalanço:
- Porque quando ele for para a escola, nas aulas de ginástica, como é que vai tomar banho ao pé dos outros colegas? Vai ter vergonha!
Eu, embora continuasse a achar que era pior não ter uma perna e que ele podia sempre tomar banho em casa, aceitei a explicação e abandonei o combate. Mas não totalmente convencida. Afinal, aquilo que lhe faltava era uma coisa sem jeito nenhum (pelo menos as que eu já tinha visto, de bebés da família), que devia dar um desconforto incrível ali pendurada e isto tudo só para urinar! A natureza tinha sido muito mais simpática para nós, as mulheres!
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
10 comentários:
Minha cara Pilada
vc é um talento pode escrever sobre qualquer coisa, por mais grave que seja, mas há sempre latente qualquer coisa da sua pena que nos faz lê-la de sorriso na cara.
Adivinho em si um ser um humano, daqueles que nunca quebra, pois na vida para si há sempre um amanhã que vale a pena.
Luís, só por esse comentário vale a pena andar a escrever isto tudo! :)))
Eu já tenho demonstrado a minha admiração pelo seu talento e o prazer que me dá, ao ler as suas histórias; mas, a Castanha faz transparecer mais do que isso, como muito bem diz o Luís e eu subscrevo.
Um bom fim-de-semana!
Olá, moça, de volta após mais um retiro ...
Poço lhe afiançar uma coisa, a respeito de sua opinião do tempo de menina: depois de adultas, muitas mulheres vão concordar contigo! lol
Também subscrevo o Luís Filipe, sem dúvida. Beijos.
Aparentemente, complicar a vida é mais fácil para os adultos... E torna a vida de algumas crianças bem complicadas.
beijinhos!
Caramba Mariquinhas, vocês matam-me com mimos! :)))
Olá Monday! :) Sim, acredito que muita gente concorde comigo!
Obrigada Paula :)))
Senhora, e complicam a deles também. Uma mentira precisa sempre de outra mentira a cobri-la.
Também lembraste-te logo do «sem braços» ou «sem pernas», não fazias a coisa por menos!!!! Eu creio que nessa idade nem imaginava que se pudesse nascer sem um braço ou perna, os casos que via calculava que fosse um acidente.
A resposta da tua mãe é mesmo uma saída airosa e para acabar a conversa, devia estar bem atrapalhada com o rumo dela...
Emiele, quando nós somos putos atrapalhamos tanto as mães!
Aposto que ele teve muitos mais minhos que tu ... che, che, tadinho!
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