- Aquilo é uma fábrica abandonada!
- Tens a certeza? - perguntei - Não parece muito abandonada.
- Mas é! Estamos à vontade! Está fechada há anos! Vamos lá!
No fundo, a única coisa que a Madalena queria era uma cúmplice para um disparate que estava louca por fazer. Aqueles disparates compulsivos que fazemos em crianças e são os percursores dos que haveremos de fazer em adultos, já em temáticas diferentes e sempre com uma justificação que julgamos inabalável.
Depois duma pequena discussão, lá acabámos por entrar no armazém da suposta fábrica de loiça abandonada. A porta estava entreaberta e assim que passámos para o lado de dentro, vimo-nos no meio de pilhas e pilhas de pratos em bruto, sem vidrado. Um paraíso para uma criança! Depois de partirmos alguns (bastantes) num jogo de ringue improvisado ali mesmo, resolvemos atafulhar as mochilas da escola com tantos quantos lá couberam. E assim, calmamente, viemos embora. Já em casa, divertimo-nos a pintá-los com lápis-de-cor e a distribuí-los por toda a vizinhança e família, que os usou como loiça para cães e gatos de estimação. Quando nos perguntaram onde os tínhamos arranjado, respondemos que os tínhamos encontrado num monte de tralha a caminho da escola.
Uns dias mais tarde, correu na aldeia a notícia de que a pequena fábrica de loiça tinha sido vandalizada, mas não se sabia por quem. As nossas mães olharam-nos com uns olhos que nos fizeram ter medo de estar vivas. Eu e a Madalena não voltámos a passar ao pé da fábrica naquele ano lectivo. De resto, toda a gente sabia que tínhamos sido nós mas ninguém disse nada. Até porque cada criatura que tinha um prato pintado a lápis-de-cor ao serviço do gato ou do cão lá de casa, não quis passar pelo trouxa que tinha sido.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
10 comentários:
Uuuuuuuuuiii!.... E eu a achar que os meus moleques são terriveis! :)))
beijinhos
Mas eu era boazinha! Nunca ninguém dava por nada, por isso era boazinha. :)
"Olharam-nos com uns olhos que nos fizeram ter medo de estar vivas"
Ah Castanha, esse "medo" é terrível!
Valeu-vos a cumplicidade da vizinhança...pudera!:)))
A fábrica deveria ter sido informada acerca da meritória iniciativa de divulgação dos seus produtos. Com certeza ficariam agradecidos e ainda aproveitariam a renovada "cara" dada à prataria.
Eramos terríveis!
E ainda bem quie o eramos!
É engraçado ler "Mas eu era boazinha!" com um tempo verbal TÃO passado! Eh, eh, eh...
Eheh, mal por mal... que fosse uma fábrica de chocolates!
:)
R.
As tuas histórias são fabulosas!! Beijos.
Taralhoca tem toda a razão. Ou se calhar nem tem mas pelo menos faz sentido. Vocês fizeram foi uma acção de divulgação... Eles até deveriam ter ficado agradecidos. Quiçá, até contratarem-vos para desenharem as novas decorações das peças...
Eu acho que a cobardia da vizinhança foi o vosso mal!...
Mariquinhas, valeu-nos a patetice da vizinhança!
Taralhoca, nesse tempo ninguém dava valor aos verdadeiros talentos.
mfc, eu não era. Era uma querida.
Fantasia, eu era boazinha. Agora continuo a ser, mas já ninguém põe em dúvida.
R., isso é que era!
Paula, e ainda hei-de contar quando fiz uma viagem no tempo...
mariabesuga, passámos ao lado duma grande carreira.
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