O programa de televisão estava chato por demais e eu entretinha-me por ali a rabiscar desenhos em folhas de papel. Até que uma observação de um dos adultos captou a minha atenção:
- Isto é que vai ser a música clássica do futuro! - dizia alguém - Daqui a uns duzentos anos, quando as pessoas forem a um concerto de música clássica, é isto que vão ouvir!
Detive-me então no homenzinho de figura quase ridícula que fazia soar nuns instrumentos uns sons sintéticos sem qualquer harmonia e até mesmo desagradáveis. Era mais ou menos como os barulhos que fazia o portão das traseiras do nosso quintal quando alguém resolvia abri-lo. Eu, sempre opinativa, intrometi-me na conversa:
- Não! Eu acho que a música clássica do futuro vai ser a dos Beatles.
- Tu não sabes o que dizes - respondeu-me alguém com um sorriso condescendente.
Não discuti, não estava em dia de me arriscar a uma lambada. Mas no meu íntimo fiquei com a certeza que tinha razão. E tinha os argumentos todos a meu favor: Ninguém sabia quem era aquele homenzinho, mas toda a gente sabia quem eram os Beatles. Ninguém conseguia trautear a música daquele homenzinho no duche, mas toda a gente conseguia trautear o "Yesterday", até os mais duros de ouvido. Os Beatles já eram tão velhinhos que faziam músicas desde que eu era muito bebé e se calhar até antes e eu já estava bem crescida. E no entanto ainda eram conhecidos e provavelmente continuariam conhecidos por mais uns trinta ou quarenta anos até eu ser muito velhinha. Isso sim, é clássico!
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
8 comentários:
E viu-se que tinhas razão no diz respeito à universalidade e longevidade da música dos Beatles, os jovens ainda hoje gostam!
Essa que falas seria a dita concreta ou a minimal - esta veio mais tarde,já electrónica no início de 80) era muito "in" apreciar esses estilos experimentalistas, eu até que gosto de inovação não aderi nada brrrr - Beatles for ever as Strawberry fields :))
E tu és mesmo muito velhinha, já que os Beatles agora são uns clássicos e, também eles muito velhinhos.
Disseste tudo e muito bem.
Mariquinhas, essa da música minimal ou concreta ou experimental ou o que lhe queiram chamar, a mim sempre me cheirou a coisa de quem na verdade não tem talento para fazer música da outra. Mas isso sou eu a dizer, claro.
Gi, naquele tempo quando eu me imaginada a chegar ao século XXI com quase 40 anos, pensava: Meu Deus como eu vou ser velha no século XXI!!! :)))
mfc, a gente às vezes acerta. Até eu!
Na mosca!! :)
Ou no besouro... ou Beatles... :)
Lol!
Apoiadíssimo!
É curioso que nas outras artes até aprecio muito as versões modernas mas na música... ná! Essas dodecafónicas e quejandas, nunca achei que aquilo fosse música.
Apoiadíssimo! Aquilo não é música! :)
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