Criar enormes redes de amigos não é uma necessidade de hoje quando se tem menos de vinte anos. Hoje, essa tarefa apenas é facilitada pela internet. Mas nós também o fazíamos, duma forma que hoje suscita tantas questões à miudagem como o mistério de termos que nos levantar do sofá para mudar de canal (quando passou a haver mais do que um).
Fazíamo-lo por carta. Sim, carta, aquelas coisas escritas em papel com esferográfica e metidas dentro dum envelope, que por sua vez leva um selo colado com cuspe e demora pelo menos um dia a chegar ao destinatário. Eu, por volta dos meus treze ou catorze anos, tinha um enorme grupo de amigos virtuais, que não conhecia pessoalmente, e com quem trocava ávida correspondência. Hoje, lembro-me particularmente dum rapaz que morava na Venda do Pinheiro. Trocámos mensagens sucessivas acerca da localização geográfica de tal sítio, eu a perguntar onde ficava e ele a responder-me que era ao pé da Asseiceira Grande. Até que desisti de perceber. Se ele me tem dito que era xis kilómetros a norte de Lisboa, tudo tinha sido simples. Mas acho que nesse tempo, o mundo de cada um era mais pequenino.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
13 comentários:
Penso que o nosso mundo continua pequeno. Existe no entanto a ilusão de ser grande ...
A internet é uma aldeia ;)
Opinião própria, a bem dizer ele continua do mesmo tamanho, pois.
Bell, a internet tornou-o mesmo mais pequenito.
Parece tudo mais próximo, não é? Mas não só a internet, para mim um grande impulsionador desse sentimento de 'proximidade' são os telemóveis!
Quando eu era pequenina, quando se queria falar para África, por exemplo, era a menina dos telefones que fazia a ligação e com hora marcada! Quando vivi em Macau já era uma grande diferença desses tempos porque marcávamos nós directamente da nossa casa para onde quiséssemos. E hoje posso falar dentro de um carro para Timor se quiser (já o fiz) com toda a facilidade!
É um sentimento enorme de proximidade!
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Mas na minha adolescência «escrevi-me» também com um rapaz francês, e foi uma coisa emocionante a espera das cartas! Nunca o cheguei a ver ao vivo mas trocámos fotos. E poemas (eu traduzi o Pessoa para francês, lol!!)
Chamamvam-se pen-pals ou pen-friends.
Eu tive um na Normandia.
Os amigos de carne e osso já me davam trabalho que chegasse. Tal como os telemóveis ou a net, já vulgares na altura do liceu. Nunca me sobrou tempo ou paciência para amigos de longas linhas. Mas o curioso é que ainda assim escrevi muitas cartas e daquelas bem compridas.
As minhas palavras têm muito mais juizinho por escrito.
Eu também tive correspondentes e pen-friends.
Com os correspondentes era mai sfácil, porque se escrevia em português!
Era giríssimo e até pude mais tarde conhecer um deles pessoalmente!
Escrevi e recebi muita carta. Beijinhos.
Emiele, a propósito disso eu era ainda miúda quando ouvi alguém dizer que no futuro toda a gente andaria com o seu próprio telefone no bolso. E eu fiquei intrigadíssima, a imaginar uma confusão enorme de fios a arrastar pelas ruas e as pessoas a carregar telefones dqueles grandões com uma roda de números, lol!
Gi, os meus eram arranjados numa revista chamada Tele-Semana. Por isso eram todos tugas.
Taralhoca, toda a gente tem mais juizinho por escrito! :)
Saltapocinhas, eu nunca conheci nenhum. Mas correspondi-me uma vez com um gajo que estava preso e a minha mãe andava doida a ver chegar cartas dum estabelecimento prisional para mim.
Paula, então foi como eu. :)
Eu penso ter compreendido a tua tomada de consciência à altura ao dizeres -"o mundo de cada um era mais pequenino"- eu também senti o mesmo pelo isolamento, mobilidade difícil, falta de convívio com outras culturas, enfim, estávamos circunscritos ao nosso "microcosmo" - essa visão sujectiva do mundo. Sempre houve pessoas privilegiadas que viajassem mais e tivessem, por herança sociocultural, acesso mais facilitado ao conhecimento de outras realidades. Embora pareça um paradoxo esse "mundo" que agora nos aproxima, nem que seja virtualmente, é muito maior naquilo que eu posso abranger e desfrutar!
E está tudo dito!
Inacreditavelmente, eu sempre detestei escrever cartas. Bom, nem tão inacreditável assim - afinal, seria de arrepiar escrever uma carta descrevendo minha casa como um castelo mal assombrado, eu sendo uma pobre criatura que circulava por tuneis secretos, fugindo de uma bruxa e outros duendes... :)
bjs
Mas essas são das boas!
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