segunda-feira, 20 de julho de 2009

Estava a chegar da escola e a minha mãe chamou-me ansiosa. Não era aquela ânsia na voz que denunciava que eu tinha feito uma asneira qualquer e ia ficar de castigo. Era uma espécia de excitação que eu ainda não conhecia, por isso respondi ao chamado tranquila. A família estava quase toda reunida na sala de olhos postos na televisão. Quase, porque faltava o meu pai que estava sempre em qualquer lugar distante onde havia guerra contra pessoas escuras que eram más.
Eu olhei para o écran a tentar descortinar o que se passaria de tão importante. Como só vi imagens desfocadas e cheias de grão como quando havia temporal e a antena se virava no telhado, perguntei o que vinha a ser aquilo que os prendia a todos daquela maneira.
- É o homem na lua! - respondeu-me a minha mãe como se fosse imperdoável não estar tão entusiasmada como ela - O homem chegou à lua! Estão a aterrar lá!
Assim sendo, decidi prestar mais alguns minutos de atenção àquelas imagens sem interesse nenhum.
- Mas então a lua é assim? - perguntei.
- Como querias que fosse?
- Então mas onde estão as casas dos homens da lua? E onde estão os homens da lua? Não acontece nada?
- Não vive ninguém na lua, é só um satélite!
Então se não vivia ninguém na lua, se não havia qualquer hipótese de aparecer um ser fantástico com duas cabeças e três caudas como nos filmes do Thunderbird, se não ia haver nenhuma cena de perseguição nem de perigo, o que estava eu a fazer ali? A perder o meu tempo.
E regressei ao meu mundo imaginário onde o espaço era todo, todo, povoado.

11 comentários:

Paula Raposo disse...

Nesse dia estava eu a ter explicação de Matemática para o exame do 5º ano. Estava mais preocupada com o exame. Passei. Beijos.

Anónimo disse...

Em casa era madrugada - fui acordada... Evidente que o "nosso mundo" era bem melhor! Fui dormir logo em seguida, sem nenhum sonho fantástico a não ser conhecer outro planeta mais interessante que a lua.

Mariquinhas disse...

Pois foi castanha, desvirtuaram a lua, a partir desse dia nunca mais
teve a mesma magia.
Eu também me preparava para fazer o exame oral a matemática e estava em casa da minha avó paterna - uma pessoa humilde e já na casa dos 70 anos - não queria acreditar que fosse verdade - imaginem, aquela criatura, muito religiosa, vivendo nos Açores, longe de tudo e sem televisão (nos Açores a TV chegou
muito depois do homem pisar a lua) lol, era mesmo para ela desconfiar.
Bom, parece que ainda hoje há muita gente a desconfiar... Isso é outra história que podem ler aqui:- http://www.afraudedoseculo.com.br/

Castanha Pilada disse...

Paula, claro que passar a matemática é muito mais importante (e difícil) do que ir à lua. Estou contigo!

Senhora, aquilo para nós, crianças, era do mais pindérico.

Mariquinhas, não sabia que nos Açores a televisão tinha chegado a nado. Quanto à fraude, hoje ouvi uma mocinha que explicou tudo: Se fosse mesmo fraude, com a competição que havia na altura entre americanos e russos, estes não teriam logo tratado de denunciar tudo?

saltapocinhas disse...

Também vi em casa da minha amiga Clata, que era a única da vizinhança que tinha TV.

Monday disse...

francamente, moça, eu nem me lembro direito o que senti naquele dia ... apenas lembro que achava divertido os astronautas saltando para lá e para cá ...

aliás, eu acho que devo ter ficado a imitá-los, com certeza!

cereja disse...

Para uma criança uma realidade tão pouco animada devia ser um desapontamento. Eu era mais crescidinha e emocionou-me muito apesar de pensar que se fosse em filme podiam acelerar a acção... Mas realmente na altura e mesmo depois como mostra a Mariquinhas, houve muito quem desconfiasse de que aquilo era uma montagem. E ainda hoje em relação ao clima e outras coisas, há quem diga «Pois, foram até à Lua e agora é o que se vê!»
Uma das coisas que achei mais extraordinário foi ver a Terra da Lua! É tão grande! E o «luar de terra» tão extraordinário...

Gi disse...

Já iam homens à Lua em 1969 e Angola, onde vivia, nem Televisão tinha ... portanto! ;)

Mariquinhas disse...

Foi assim e com quase tudo - parecia que as coisas "vinham a nado", tiveste graça e isto diz muito do nosso isolamento - havia uma expressão que nós, jovens e críticos da pasmaceira em que se vivia, parodiávamos quando nos respondiam, ao pedido de qualquer artigo que viesse de fora, sistematicamente o mesmo e de forma natural - " estamos à espera..." - com grande lentidão e com uma expressão resignada... Fazia-nos nervoso miudinho!
Não obstante, tudo isto, é justo dizer que, os Açores foi pródigo em artistas, escritores e nessa altura que não havia televisão (só houve a partir de 1975),
foi um período de grande criatividade artística e participação cultural.
(grande lençol, mas, para o caso de te interessar ficas a saber um pouco mais sobre mim)

mariabesuga disse...

Pois exactamente no dia em que eu festejava os meus 8 aninhos aconteceu os homens chegarem à lua e eu ir ver na televisão com um casal, amigos dos meus pais, que me levaram para isso precisamente e se calhar como presente de aniversário.
Lá em casa ainda não havia televisão. Não chegou a nado mas como era no alentejo se calhari foi muuunto devagarinho...

Bom eu só me lembro do quanto toda a gente estava entusiasmadíssima parece-me que sem consciência de se aquele acontecimento seria assim tão importante ou nem por isso...

Beijo Castanha

Castanha Pilada disse...

Saltapocinhas, lá na minha vizinhança a Clara era eu :)

Monday, eu acjei esses saltinhos estúpidos... e as roupinhas também.

Emiele, é certo que se eu tivesse mais uns anitos tinha visto a coisa com outros olhos.

Gi, se não havia televisão em Angola, como é que se dizia que aquilo lá era tão bom? Seria por isso mesmo?

Sim Mariquinhas, os Açores foram sempre incubadora de grandes cabeças, é sabido. Quer dizer que a televisão não serve para nada, lol!

Bolas Maria, então parabéns? Já não vinha cá uns dias! Uma gripalhada e tal...