A minha avó tinha ido a Fátima e trouxe uma caixinha de música que tocava o Avé Maria.
Era uma espécie de casota de cão pequenina mas decorada a flores brancas de plástico e com uma portinha de vidro que permitia ver, lá dentro, a imagem da santa olhando de viés para o chão como se não tivesse nada a ver com nada. E depois abria-se a portinha de vidro e a música arrancava. Era a versão instrumental em xilofone barato do tema que eu estava habituada a ouvir em vozes esganiçadas de beatas velhas: A treze de Maio, na Cova de Iria, aos três pastorinhos, apareceu Maria. Avéééééé!!! Avééééé!!! Avé Mariaaaaaaaaaaa!!!!...
Quando não tinha nada para fazer e estava à espera que começasse a emissão da RTP, sentava-me na poltrona do meu avô a abrir e a fechar a porta da caixa de música muito depressa para fazer a música parar e arrancar sem nexo. Quando me fartei dessa brincadeira, tentei pôr a música a tocar de trás para a frente, o que exigiu alguns ajustes técnicos na máquina, embora sem sucesso. Depois, tentei virar a cabeça santa para cima e arranquei as pombinhas pousadas em cima da base da imaculada vestimenta.
E foi assim que a minha avó ficou sem a caixinha de música.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
13 comentários:
Ai Castanha primeiro tentas desmontar o teu irmão depois desmantelas a caixinha de música da tua avó... Bom!... Mas é natural a miudagem querer desmanchar as coisas para saber como são ou funcionam por entro. Poe exemplo nas mãos do meu irmão os grilos acabavam sempre mortos. Não era por mal era só porque ele queria saber se eram grilos ou grilas e tinha de descobrir onde/se tinham mamas. Enfim...
A ânsia de aprender. Tu eras (és) levada da breca!! Eh eh beijinhos.
Meu irmão desmontava e montava o kart dele até perder todos os parafusos. Depois ajudava minha mãe a desmontar e montar o fogão para poder limpá-lo - nem preciso dizer o resultado final.
Hoje ele é um profissional caro! As empresas pagam para ele desmontar e montar uma empresa sem parafusos! :))
Eu ainda acho que você ainda vai provocar uma grande revolução. Só não sei se é na literatura, no cinema, na religião, nas artes plásticas... ou em todas! :)
bjs
Essa caixinha de música era uma cena muita mais sofisticada, daquelas que me lembro e que minha avó também trazia como "relíquia" de Fátima. Lembro-me, com 4 anos, de ficar fascinada com a estatueta da "Senhora", de "baquelite" (nunca mais usei este nome nem sei se é assim que se escreve,era um material muito usado nos anos 60), que no escuro se tornava luminosa...E a "Avé Maria", as "vozes esganiçadas das beatas", tudo isso faz parte do meu imaginário de infância que, agora sem complexos e com o humor da Castanha, eu gosto de recordar!
Maria Besuga, ainda ontem desmontei um caraças duma máquina fotográfica digital e agora não sou capaz de a montar mulher!
Paula, sou um anjo... mal compreendido.
Senhora, eu não apostaria, lol!
Ai Mariquinhas, as avós traziam tantas coisas giras de Fátima! :)
Xiça mulher, tu desmontas tudo!!
E não montas nada??
(nem precisas de responder...)
(Ai, Saltapocinhas, tu tem tento mulher!!!)
Não está explicado se a caixinha era uma prenda para ti, nem que idade terias. É que se a recordação fosse para outro destinatário imagino que a história não tivesse acabado bem...
Essas cenas da vida religiosa passaram-me mais ou menos ao lado, mas é fácil imaginar-me a «concertar» outro tipo de objecto.
(Mariquinhas a baquelite era o plástico duro de há umas dezenas de anos, a verdade é que não havia coisas de plástico, eram de baquelite!)
PS - Não vem nada a propósito, mas renovava o pedido feito num post ali abaixo (quando dizias que havia uma lei que no caso de uma semi construção abandonada há 18 anos permitia à Câmara tomar conta disso) se me davas o número ou qualquer outra referência dessa lei.... Please! É que estou exactamente a tentar voltar a mexer no assunto!!!
Reli o meu comentário, e devo também andar a precisar férias. O aparte que deixei em relação à baquelite, não era a explicar aquilo à Mariquinhas que decerto o sabe, era para quem viesse ler depois, assim fica melhor!)
Espero que essa tendência destruidora de criança tenha desaparecido com a idade...
E por esse sacrilégio quantas avé-marias rezaste?
Eu normalmente desmonto e remonto os objectos sem perder ou sobrar parafusos. Desconfio que me sobra na tendência para a engenhoca o que me mingua na criatividade. :)
Saltapocinhas... tá bem. :)))
Emiele, não, a santinha não era minha, a minha avó trouxe-a para si própria. Mas ficou sem ela, foi pena. Quanto ao resto, já vi que já viste o mail. :) Eu não sabia o que era baquelite :)
Carlos, acho que se atenua sempre um bocado. Agora é só lixar electrodomésticos, o meu marido diz que eu sou de mãozinha sexy, onde mexe f*de.
Gi, a minha avó não se preocupou por aí além. Se fosse a minha mãe já a conversa tinha sido outra.
R., que inveja!
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