terça-feira, 21 de julho de 2009

O menino, sentado na mesa do café, jogava playstation, alheado. A empregada que veio saber o que se encomendava comentou, orgulhosa como se tivesse acabado de formular uma teoria matemática para a posteridade:

- Tu tens uma playstation cor-de-rosa? Não tens vergonha? Cor-de-rosa é para as meninas!

A criança, sem responder, aproximou mais o rosto do jogo e calculo que tenha entrado para o lado de dentro e ficado rodeado de personagens fantásticas dum mundo onde não há cores apropriadas. A avó, em vez de a defender (ou pelo menos pôr aquela empregada empertigada no lugar o que valeria o mesmo), olhou condescendente para o neto, e adivinhou-se-lhe no olhar que concordava, como quem há muito se sente embaraçada por ter um neto “mariquinhas”.

Eu observava da mesa ao lado e não interferi. Mas tive muita vontade. Vontade de ir lá e dizer ao menino que fosse sempre feliz pela vida fora, feliz e simples como as árvores e como os rios, que se limitam a “ser” sem pensar em cores. Que teria que ser respeitado, até mesmo pela avó, com o seu ar de peninha dele e de si própria. Mas não fui. Fora dos jogos da playstation, as personagens não interagem à vontade, quando lhes apetece. Obedecem a regras, como a do “conhecimento pessoal”.

6 comentários:

Mariquinhas disse...

Oh Castanha essa e outras são, para mim, situações que me apetecem logo intervir,rompendo com a hipócrisia social, por vezes não o faço por comodismo (é raro)ou quando se passa só entre a família e mesmo assim se for um caso de violência
(os pais baterem nos filhos pequenos)
já tenho interferido e noto, para meu descontentamento e algum espanto, que os meus filhos mais novos são muito adversos que eu actue.
Eu sou assim uma pessoa que ainda acredita - "o caminho faz-se caminhado"-...

Anónimo disse...

Quando meus meninos tinham 3 e 2 anos eu comprei dois triciclos. O problema é que na loja tinha um azul e outro rosa. Decidimos que cor não tinha dono e levamos os dois. Com certeza, o que ficou com o triciclo rosa sempre foi o moleque mais terrível. Ainda é.A única vez que ficou com cara de anjinho foi para a "Coroação de Maria" (e nem católico é!), vestido de anjinho, todo de branco!
Mas durou 15 minutos. O branco parecia que tinha limpado o chão da escola inteira.
Então achamos que preto é uma cor linda para ele! Fica tãaao lindo! :)

cereja disse...

Aqui o giro é que pela tua história ele nem lhe ligou...
Afinal foi a melhor resposta, «deita-la ao desprezo» segundo a expressão popular. Quanto à avó, é de época, tadita. E, essa coisa das máquinas também terem cores a condizer sempre me deu vontade de rir.

Paula Raposo disse...

Isso das cores é muito cómico!!
Nunca soube o sexo dos meus filhos. Do mais novo já existiam as ecografias mas ele não deixou que se visse. Tinha uma quantidade de roupa cor de rosa que ele usou, claro. E mais nada. E depois? Sinceramente, gostei de te ler. Beijos.

saltapocinhas disse...

E assim sem querer, despejares o café pela empregada abaixo??

Ai o que eu luto todos os dias contra esses estereótipos!

Castanha Pilada disse...

Mariquinhas, os miúdos ficam sempre muito aflitos quando a gente se manifesta em público. Deve ser um traço comum a todos.

Lol Senhora! Preto também é lindinho sim!

Emiele, ele nem ligou, mas ficou assim um bocadito para o magoado. Viu-se.

Paula, e não lhe aconteceu nada pois não? :)

Saltapocinhas, tinha sido uma boa, não me ocorreu.