sábado, 25 de julho de 2009

O mundo é pequeno, é certo que isto é um cliché, mas às vezes é mesmo mais pequeno do que gostaríamos que fosse.
Há alguns anos conheci um homem de quem não se pode dizer que tenha gostado. Lembro-me que a filha mais velha tinha acabado de se divorciar e tinha juntado os trapinhos com outro homem, e ele dizia aos quatro ventos para quem quisesse ouvir que - "A minha filha? A minha filha é uma puta!!! É a vergonha da família!". Aquilo fazia impressão a toda a gente, mesmo aos mais retardados e retrógrados membros da comunidade, pois até esses seriam capazes de, na altura em que a natureza chama, se tranformarem em ursas ou leoas e defenderem as suas crias, como toda a gente. Aquilo era como ouvir uma faca afiada a raspar numa panela de alumínio.
Anos mais tarde conheci uma mulher, um pouco mais nova do que eu, preocupada com a saúde do pai que já tinha tido uma ameaça de enfarte e ia todos os dias lá a casa saber dele. Com o evoluir da conversa, concluí que se tratava, nem mais nem menos, da horrível criatura que anos antes assim tinha tratado a própria filha e que essa filha... era ela!
Agora, de cada vez que a ouço falar do pai com preocupação e natural amor filial, apetece-me tanto mandá-la calar!...
Mas não posso fazer isso pois não?

11 comentários:

Paula Raposo disse...

Não. Ela é uma filha linda! Beijos.

Castanha Pilada disse...

É que eu não sei se ela sabe... Não lhe vou dizer, claro. Mas tudo indica que nem sonha.

Monday disse...

entre a voz da emoção e as tradições, ainda tem muita gente que derrapa feio a falar besteiras ...

o pior é que o contaste não é fato corriqueiro e ocorre aos borbotões pelo mundo afora ...

mas, como diriam alguns, foi para isso que inventaram a expressão "pedir desculpas".

só não creio que tenha alguma validade, se o sentimento não vier junto ...

Anónimo disse...

Vai ver ele levou uma rasteira tão grande da vida que até a filha ficou com pena dele.
Mas quem viu o antes e o depois... dá vontade de mandar calar, sim, mesmo não sabendo o que a levou a tanta dedicação.

bjs

Mariquinhas disse...

Se ela não sabe, o melhor será agora não dizer - poupandando-a a esse desgosto, por compaixão, sei que não é fácil - eu teria muita dificuldade,
confesso!

Mariquinhas disse...

"Poupando-a"-"dando" nas orelhas do pai era o que me apetecia fazer - fugiu-me os dedos para a verdade :))

cereja disse...

São histórias que fazem pensar.
O que teria «envergonhado» tanto aquele pai? Devia ter a velhíssima noção de que a filha lhe pertencia, ele é que a 'cedeu' ao genro e nunca ela poderia dispor de si, isso era uma imoralidade. Chocante ainda se ver disso.
E curioso que, apesar do palavrão, (talvez para o público em geral) afinal lhe deve ter sabido bem que ela viesse cuidar dele quando adoeceu do coração. Deve ser um tipo muito infeliz, ao contrário da filha que apesar de tudo conseguiu refazer a vida.

cereja disse...

Bem, relendo o comentário até parece que estou a defender o bruto.
:) Não é isso, como se calcula. Estava só a ver todos os ângulos. Não sei se a Senhora tem razão, se a filha é mesmo um bom coração (não sai ao pai)

Castanha Pilada disse...

Monday, e é cada besteira!...

Senhora, eu já não o vejo há muitos anos. Na volta está mudado...

Mariquinhas, jamais lhe diria.

Emiele, o meu palpite é que a filha simplesmente ignora o que ele disse dela. Se bem que, a pais e a filhos, a gente tem tendência a perdoar tudo.

saltapocinhas disse...

Quando vejo velhinhos sozinhos ou abandonados em hospitais... bem acho que, não sendo todos, alguns devem ter feito por o merecer!

(conheço alguns que t~em agora filhos pequenos e que mereciam se deixados no olho da rua quando os filhos forem adultos e eles velhos!!)

Castanha Pilada disse...

Por acaso penso o mesmo, mas quando verbalizo isso, há logo alguém que me cai em cima!