segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Na minha infância não houve Pai Natal. Houve Menino Jesus. Era ele que trazia os presentes e nós acreditávamos. Embora no meu caso, com algumas reservas. O Menino Jesus que eu conhecia, aquele que jazia no presépio lá de casa e também nas imagens da igreja, era uma figura de loiça de aspecto barroco. Um bebé beje com bochechas redondas em rosa clarinho e muitas gordurinhas nas pernas, braços e tronco. De olhos muito abertos e cabelos em caracóis loiros. Sempre frágil de bracinhos abertos como se estivesse a cair de costas num precipício.Fechava os olhos e concentrava-me com muita força a tentar imaginar aquela figura de criança tristonha a descer pela chaminé enorme lá de casa e a deixar em cima do fogão a gás um embrulho com uma boneca. E não dava. Havia com certeza uma qualquer chave para o mistério de que eu não dispunha.
Mas enquanto o Menino Jesus continuasse a deixar-me, todos os anos, uma boneca linda com um vestido de folhos e olhos de abrir e fechar, não iria questionar a veracidade da história.

7 comentários:

Monday disse...

pois é, moça, esse é o problema de se usar o cérebro ... rsss ... mesmo quando criança ... mas gostei da esperteza de saber deixar pra revelar o mistério na época certa ..

Castanha Pilada disse...

Pois tudo tem uma época certa :))))

Taralhoca disse...

Na minha casa Pai Natal e Menino Jesus tinham uma sociedade. O Menino recebia as cartinhas e expedia as encomendas, daí a tez pálida, de quem passa o dia dentro de 4 paredes. O Pai Natal era o moço das entregas, que rebolava chaminé a dentro sem se mascarrar.
Diplomacia...

Castanha Pilada disse...

Assim é que é!

cereja disse...

Eu era mais-Pai-Natal mas essa coisa da logística da chaminé devia ir dar ao mesmo.
Mas tanto quanto me lembro, não se falava que ele entrava pela chaminé. Simplesmente, 'materializava-se' junto da Árvore', cumpria a sua função e «pufff!» desaparecia.
Aceitava isso com mais uma das magias do Natal.

Castanha Pilada disse...

E sem dúvida assim é mais poético. Um velhote a esgueirar-se por uma chaminé badalhoca, onde é que já se viu?

Anónimo disse...

Aqui, nos shoppings, os Papais-Noéis sempre estão a postos para ouvir ao vivo e à cores os pedidos das crianças. Entretanto meu filho ficou decepcionadíssimo quando, ao fazer o pedido, recebeu uma balinha de morango. Eu tive que explicar que aquele era só o ajudante do Papai Noel.Dali em diante ele ficou impressionado com a quantidade de ajudantes que Papai Noel precisava. E num dos Natais o Papai Noel apareceu em casa com piercing, como o tio dele. Estranho... :)