domingo, 15 de novembro de 2009

Num dos momentos menos fáceis da minha vida, daqueles em que tive que puxar pela cabeça e fazer qualquer coisa para pagar as contas, dediquei-me ao já velho negócio das explicações. Tinha o décimo segundo ano mais um ano de universidade em letras, não tinha sido má aluna, tinha aprendido qualquer coisa, talvez pudesse também ensinar qualquer coisa aos outros. E foi assim que decidi colocar um anúncio numa montra. Os clientes não tardaram a aparecer mas, para meu desespero, queriam explicações de matemática, aquela coisa pavorosa que tanto me tinha custado a levar sem dor até ao nono ano. Mas como é uso dizer-se, a necessidade aguça o engenho. Aceitei. Peguei nos livros de matemática e fiz-me à tarefa de aprender sozinha. Eu, os meus botões e o meu desespero, no meio de fórmulas e algarismos, a tentar compreender algo que antes só tinha compreendido pela rama dos dez valores. E mal.
Ao fim de alguns dias já tinha conseguido desvendar alguns dos diabólicos segredos da lógica. E ensinei-os aos meus pupilos seguindo os mesmos raciocínios que eu própria tinha feito para lá chegar, cheios de aproximações ao mundo concreto. Na verdade, foi um sucesso. Com algumas aulas minhas qualquer miúdo conseguia, se não ser um Einstein, pelo menos tirar notas positivas nos testes.
Foi nessa fase da minha vida que concluí brilhantemente que o problema dos professores de matemática... é saberem demasiado daquilo.

6 comentários:

Anónimo disse...

Os meus meninos adoram matemática. Talvez porque, para os dois ficarem quietos durante as nossas viagens, eu lançava probleminhas. Daí, que eles aprenderam a fazer cálculos mentalmente. Só que, na escola anteior a que eles estào, os dois tiraram um maravilhoso Zero por colocarem só a resposta (correta) e não os cálculos. Na atual, o professor, antes de dar a nota pergunta para Arthur, que detesta escrever, como chegou ao resultado. Tirou a nota máxima até agora.

Se fosse eu a aluna, provavelmente contaria uma história tão fantástica que o zero seria inevitável...

cereja disse...

Está bem contado, mas a verdade é que a melhor maneira de se 'aprender' uma coisa é ensina-la aos outros... Tive também uma experiência como «explicadora», mas eu era ainda mais nova do que tu, teria uns 15 anos e o explicando teria uns 10 ou 11. E eu julgava que dominava bem a matéria, que era francês. :) Mas foi a partir daí que aprendi como deve ser os verbos irregulares!
E o estudar em grupo, que hoje faz parte do ensino até, não se usava muito no meu tempo, mas percebi que era quando 'explicava' as coisas aos outros que eu as percebia melhor!
(o mistério da dificuldade da matemática, esse é indecifrável; até porque não é só em Portugal)

snowgaze disse...

A minha mãe adora matemática (nós, as filhas, também) e não perdia uma oportunidade para nos ensinar. Cada ida às compras era um "problema" de matemática da vida real, cada receita de bolos, outro problema a resolver. E não é que resulta? Hoje em dia faço o mesmo ao meu catraio, às vezes aproveito para que ele me faça as contas já com os descontos e tudo, ele é a minha calculadora ;).

Castanha Pilada disse...

Lol Senhora, quer dizer que eles são mais atinadinhos que a mãe?

Emiele, é um facto que para a gente explicar as coisas aos outros tem que as saber primeiro, aí é que está!

snowgaze, essa é a tal matemática da vida prática que me espanta que haja pessoas que não dominem minimamente. Fico parva mesmo!

R. disse...

É.

Ter que saber para explicar é caminho andado para saber a sério. E quando o pragmatismo existe as coisas avançam. ;)

R.

Castanha Pilada disse...

É isso tudo. :)