quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Na minha escola havia prémios para as melhores alunas no final do ano e o podium era decidido pelo número de vintes que se tinha tido nos ditados e nos exercícios de aritmética (nesse tempo ainda não se chamava matemática). Os desenhos, os lavores e as redacções não contavam porque estavam a meio caminho entre o trabalho e a brincadeira. Mesmo assim, só se podia fazer redacções sobre a vaca, a primavera, as férias grandes e o Natal, os lavores só variavam entre as colagens (uma modernice), as construções com fósforos, o tricot e o ponto-de-cruz, e os desenhos só se faziam quando a professora tinha acordado muito bem disposta.
Houve um ano em que, por um mísero vinte, um único, fiquei em segundo lugar e ganhei um livro da Anita em vez dum globo terrestre que rodava e tinha os nomes dos países e as capitais. Acho que foi na segunda classe. Como eu gostava de decorar capitais! Acho que era mesmo a coisa que eu mais gostava de decorar a seguir aos reis.
Nesse ano senti-me derrotada como se me tivessem posto umas orelhas de burro e me tivessem mandado para trás da porta virada para a parede durante uma hora inteira. Ainda que no tempo em que eu andei na escola já não se pusesse as orelhas de burro a ninguém. "É anti-pedagógico" - explicou-nos uma vez a professora. Por isso limitava-se a pôr-nos de castigo viradas para a parede que não tinha janela sem nos podermos mexer nem olhar para trás.

6 comentários:

cereja disse...

Mas havia vários primeiros lugares, pelos vistos? O que no meu tempo se chamava «quadro de honra»? O critério do teu é que parece muito exigente! 'Lavores' eram 'trabalhos manuais' na minha altura e de facto não era coisa tão valorizada como hoje. Havia uns estudos nobres, de 1ª digamos assim, e uns mais para ocupar, de 2ª.
E essa tua escola onde ainda punham os meninos no cantinho, era bem conservadora, bolas!!!

Recordações!

Taralhoca disse...

Tá mal! Na minha escola não havia prémios para ninguém! Era sim "obrigada" a corrigir as contas dos outros meninos!! Muito mal mesmo!
Birra (perfeitamente justificada) à parte, fico satisfeita por saber que não era a única a gostar de decorar os nomes dos reis de Portugal....

Mariquinhas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mariquinhas disse...

A grande diferença, no teu texto, entre o meu tempo de escola e o teu, é o termo - "antipedagógico" - na minha época não se falava dele:))
Castanha, como já disse a Emiéle, a tua Escola era muito exigente nas notas e Castanha consigo própria mas, pelos vistos, deu certo...
Lembro-me de ouvir falar dessas orelhas de burro, mas não apanhei. Na minha escola era mais - "vocês são uns burros" - palmatórias e esse "castigo" que, segundo a tua professora, não seria "anti-pedagógico", eu acho humilhante e quanto a pedagogia...uma ova;))
Quanto a decorar cidades também gostava - imaginava-me um dia a conhecê-las - decorar caminhos-de-ferro isto, sim, era uma grande seca...

Anónimo disse...

No meu tempo não tinha dessas coisas. E acho que, mesmo que tivesse, eu era tão absolutamente desligada do mundo que talvez me lembrasse de última hora de fazer o trabalho escolar. Mas era tão boazinha, tão pequena, magra, e transparente que acho que passei por menina invisível na escola. :)

Castanha Pilada disse...

Emiele, no meu tempo já não havia quadro de honra. A própria escola é que promovia uma festinha de fim-de-ano com entrega de prémios às (era só meninas) três melhores.

Pois é Taralhoca, depois acabou a competitividade. De todo. Não sei se isso é bom, tenho dúvidas.

Mariquinhas, eu também já não sou do tempo das orelhas de burro. Só ouvia contar aos mais velhos.

Lol Senhora, mas isso também é uma vantagem!