Morava num apartamento no coração da cidade. Por isso, o sonho da minha avó era comprar uma "quintinha", onde pudesse criar animais e cultivar feijões, milho, batatas e couves. Nunca chegou a fazê-lo, por isso também nunca chegámos a saber se teria mesmo vocação para se levantar de madrugada um dia após o outro para trabalhar o campo, sem perder a perserverança nem a pachorra. Mas isso era um pormenor.
Um belo dia, quando se passeava de carro pelos arredores com a filha mais velha (a minha mãe) e a bisneta mais nova (a minha filha), viu ao longe uma placa perto duma casa pobrezinha e velha a cair de podre rodeada de terra com uma hortinha. Não se conseguia decifrar completamente o que dizia, mas a primeira palavra era certamente "vende-se". Quis lá ir. Apesar do caminho se apresentar íngreme, insistiu. Era aí que finalmente cumpriria o seu sonho. Estacionaram o carro o melhor que puderam, entre silvas e lama, e puseram-se a caminho a pé. Entusiasmada, a minha avó já fazia planos sobre o restauro da casinha e a sua ampliação, a cor da pintura exterior e o jardinzinho à porta.
Entretanto, à entrada do casebre já se tinha posto de atalaia um homem rude, com uma barriga flácida a sair por baixo duma camisola interior de cavas e um palito que mastigava ao canto da boca que mal se notava, coberta pelo bigode. Curioso, via aproximar-se um grupo de duas mulheres e uma criança com ares de dondocas de cidade, sem perceber muito bem o que quereriam dele.
A uns dez metros, porém, elas conseguiram ler toda a mensagem escrita na placa que tinham vislumbrado ao longe: Vende-se isca e serradela.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
14 comentários:
Daí percebe-se o poder de sua avó! :))
Se fosse a minha, com certeza nunca saberíamos o que tinha naquela placa! :))
:)
bom, ao menos de curiosidade não morreram ... pois se lá não fossem, com certeza é o que aconteceria ...
as saudades que tenho de me levantar com o sol para ir ao feijao a batata....ainda me lembro do dia que gamei meia duzia de sacas de batata ao velhote para apanhar o comboio para lisboa desde mirandela na minha adolescençia e agora so o faço em pequenas ferias de verao
Na cidade petisco da aldeia é produto gourmet, sempre que servido em doses pequeninas.
A avó não ficou com a casa, mas se ficou com fome foi só porque quis...
E o casebre foi o isco. ;)
A minha avó era fogo Senhora!
Patrícia, e havias de ter visto quando elas viraram costas e voltaram para o carro como quem não quer a coisa. Eu também gostava de ter visto.
Pois... Monday... grandes cuscas.
Papagaio, fiquei com uma dúvida. Como se corre para o comboio com meia dúzia de sacas de batatas? Dá jeito?
A minha avó, Taralhoca, era uma lírica. Acho que tenho a quem sair.
Gi, elas foram Toinas. Pelo que me contaram era mesmo um casebre.
Serradela é a bicha da pedra... um isco fantástico para a a pesca!
Diz-me lá onde é que eu vou já lá!
É algures entre Viana do Castelo e o Cabo da Roca.
Que grande pesca!...
E foi uma pena, já agora tinha graça saber-se do talento para a agricultura da tua avó. falas, falas mas se aqui tem dado hoje eras uma latifundiária!!!
Eu que tenho muitos pescadores na "família", asseguro que em Aveiro e arredores, a serradela pulula, mfc!
Emiele, tenho um palpite que não. A avaliar pelos meus genes, não.
E em mais sítios Patrícia, e em mais sítios!
Num me digas que é em Ábeiro?!
Onde fica isso?
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