Sou do tempo pré-pedagógico em que nos ensinavam a história de Portugal como se fosse um filme de acção, uma batalha entre os bons (nós) e os maus (os outros), em que os bons saíam sempre vitoriosos. Para isso era necessário, claro, mentir e omitir, o que não tinha importância nenhuma perante os mais altos valores do patriotismo. Os episódios mais violentos do nosso passado colectivo eram sempre exaltados e descritos de forma extremamente gráfica, ou para nos glorificar ou (se fosse caso disso) para nos vitimizar dando-nos razão. Eu, devo dizê-lo, gostava de história. Acreditava em tudo e achava que nenhum povo era tão glorioso como o nosso. Quando descobri, mais tarde, que não era verdade, tive um desgosto tão grande como quando me disseram que eram os pais que compravam os brinquedos no Natal, mas isso é matéria para outra história.
Hoje, gosto particularmente de recordar a forma como eu imaginava os episódios sangrentos que a professora nos contava. Quando aprendi, por exemplo, que no dia 1 de Dezembro de 1640, o secretário da regente de Portugal foi fenestrado pelos bravos revoltosos, nunca me passou pela cabeça que o tivessem atirado duma altura superior ao rés do chão. Depois, ele levantava-se empoeirado e com a peruca de lado, como nas comédias do Vasco Santana, sacudia-se... e fugia a correr até Espanha, assustado.
O Tempo Entre Costuras
Há 4 semanas
10 comentários:
fugia para espanha e depois trazia a espanholada toda a atras dele
Essas 'glórias' contadas às crianças é mesmo tal e qual como o Pai Natal. Só quando mais tarde se começa a estudar História Universal, com os países todos à molhada é que podemos ter uma parcela de imparcialidade. E mesmo assim...
:)
Mas eu adorei essa sua versão! até consegui ve-lo limpar-se todo! :))))
bem, seja como for, foi jogado janela afora ... altura é mero detalhe ... rssss
Eu nunca tive uma visão tão meiga da história. Imaginava não só que o lançavam do arranha-céus da época, mas também que em seguida os fenestrantes saltavam janela fora para lhe caírem em cima e acabarem o serviço. A minha história é um bocadinho mais "gore"...
Que se há-de dizer de um país que nasceu da violência doméstica de um filho para com a sua mãe??!!
Eu também acreditava que éramos valentes e imortais.
Espanholada Papagaio?!
Tens razão Emiele, mesmo assim. Mesmo assim!
Não é muitíssimo simpática a minha versão Senhora? Obrigada por concordares. :)))
Monday, não é nada detalhe! Se fosse a ti, tanto fazia? Lol!
Porra Taralhoca! Eu sempre fui uma pacifista!
mfc, tens razão. Mas olha que há piores. A esse nível claro.
Quem não acreditava Gi? :)))
Um verdadeiro romance camoniano, no Brasil ainda ensinam a história conforme manda a hiper-realidade e o Quarto Poder.
Abraços
aurasacrafames.blogspot.com
A história é sempre subjetiva. Mesmo que a gente não queira!
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