domingo, 11 de janeiro de 2009

Ela tinha reputação de "possuída" ou de "morada aberta". Dizia-se que os que já tinham morrido lhe tomavam o corpo com a alma. Que por isso, tinha a faculdade, embora não consciente, de falar com vozes de homens, mulheres e crianças diversas, de alterar a sua própria fisionomia e de se ausentar estando presente, que era quando os olhos deixavam de ter qualquer expressão e se iam embora. Dizia-se que era possuída por espíritos bons, de familiares que, à falta de outro meio, assim vinham dar notícias e dizer que estavam bem, mas também por espíritos maus. E estes já não eram de família e só os mal-intencionados se atreveriam a insinuar tal, não fosse o medo respeitoso que ela impunha só por existir e ser assim. Quem sabe os espíritos não se revoltariam contra terceiros, que ninguém acredita em bruxas mas que as há, há!
Tive um dia a oportunidade única de assistir a uma das frequentes tomadas de posse do corpo por um espírito, quando tinha uns sete anos. Devia ser um dos maus, porque ela gritou, esbracejou, esperneou e disse palavras que eu não estava autorizada a pronunciar sob pena de levar pimenta na língua. Todos os adultos presentes juraram a pés juntos que tinham visto A, B ou C, ou ouvido distintamente a sua voz ou sentido de alguma forma a sua presença. Eu, embora tenha ficado sem dúvida impressionada pela intensidade dramática da cena, não consegui distingui-la das cenas de pancadaria a que costumava assistir entre a lavadeira da minha avó e a empregada dos correios que ela dizia que lhe andava a enfeitiçar o marido.

8 comentários:

Anónimo disse...

Eu nunca vi! A única vez que eu teria essa chance, dei um jeito de escapar a situação.

Mas, pelo jeito, a lavadeira de sua vó, por mais bruxa que fosse, não conseguiu escapar à furia dos correios! :))

saltapocinhas disse...

na minha terra também havia uma mulher assim, mas eu nunca vi!! deve haver uma mulher assim em cada terra, assim como há um louco em cada terra!

Castanha Pilada disse...

Senhora, a lavadeira da minha avó era um mais assim um homem. Tinha uma força e tanto, a outra ficava a sangrar!

Saltapocinhas, por aqui há mais do que um tolo, será que há alguma terra em défice?

Monday disse...

Moça, eu vi, não era mulher, era meu amigo, e se aquele cara não estava possuído, vamos ter que mudar a física e a resistência do esqueleto da coluna: o pulo que o rapaz deu pra trás, estando sentado no chão, e estourando as costas contra a parede, foi de ganhar ouro em qualquer Olimpíada ... pobre parede!

cereja disse...

São recordações fantásticas!!!
E se tinhas essa idade e te recordas tão bem é que a coisa foi brava!
Eu acho impressionante é que a moda dessas coisas «sobrenaturais» anda mesmo para aí. Antigamente era a 'santinha da ladeira' ou lá o que era, agora vemos sérias na tv «em contacto», a «médium», as «feiticeiras» e sei lá mais o quê.
A coisa deve estar a dar!....

Castanha Pilada disse...

Monday! Fogo! Uma cena assim tipo "O Exorcista"??? Ao vivo e a cores??? Fogo!!!

Emiele, por acaso foi, a coisa foi brava. O tempo é que a transformou numa piada leve. :)

VAP disse...

Eu, por acaso, também nunca vi!
Cruzes, credo, se visse!
Acho que me dava uma coisinha.
Mas estou certa de que, nunca vi, nem nunca verei!
Desse mal, estou eu livre!

Castanha Pilada disse...

Não digas "desta água não beberei!".
Onde é que eu já ouvi isto?...